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domingo, 20 de abril de 2025
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Câmbio transforma Brasil em pechincha e atrai onda de turistas argentinos

Atualizada em 16/02/2025 09:18

Foto: Praia de Quatro Ilhas, Bombinhas (SC)
Imagem: Reprodução/Tripadvisor

A política cambial de Javier Milei, que mantém o peso valorizado em termos
relativos em relação a moedas como o dólar e o real, trouxe de volta às
cidades brasileiras grandes contingentes de turistas argentinos neste verão.

Santa Catarina, tradicional refúgio dos argentinos de férias, é o principal
beneficiário deste fenômeno até agora. A ocupação dos hotéis em fevereiro por
turistas do país vizinho em algumas praias já é de 50/50 em relação aos
visitantes brasileiros, como Canasvieiras, na ilha de Florianópolis, e a região de
Bombinhas, no litoral norte do Estado.

“Tem havido crescimento desde dezembro. No réveillon deste ano, que é uma
data onde os preços são mais altos e nos últimos anos a presença deles era
pouca, o fluxo já tinha aumentado. É um movimento que a gente acredita que
ainda vai se intensificar até o Carnaval”, disse Margot Rosenbrock, presidente
da ABIH-SC (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), ao UOL.

Rosenbrock, ela própria dona de dois hotéis em Balneário Camboriú, diz que o
fenômeno ainda não faz sombra aos anos 1990, quando a paridade do peso
com o dólar no governo de Carlos Menem produzia imagens de praias lotadas
de argentinos no Brasil a cada verão. Mas, segundo ela, é uma presença
significativamente maior do que nos últimos anos.

A percepção da hoteleira está em linha com os dados do próprio governo
argentino, divulgados na semana passada: o consumo dos argentinos em
dólares atingiu o maior nível desde 2018.

Em janeiro, os gastos com cartões de crédito em moeda estrangeira somaram
US$ 645 milhões, segundo dados do Banco Central da Argentina reportados
pela Bloomberg – o maior volume desde fevereiro de 2018. O valor não inclui
transações feitas via débito ou carteiras digitais, meios de pagamento que
ganharam popularidade nos últimos anos

Por que o peso está mais forte?

Desde que assumiu o governo, em 2023, Milei, um político de direita que gosta
de se autoproclamar libertário, deu início a um programa de controle dos
gastos públicos, cortando subsídios estatais e reajustando tarifas de serviços
públicos.

Na sua cartilha, Milei tem encolhido a influência estatal de áreas da vida
econômica do país, desregulamentado setores inteiros. Antes, até a erva mate,
base da bebida mais tradicional do país, era submetida a cotas de produção e
preços mínimos tabelados pelo governo.
O programa tem derrubado a inflação, principal bandeira de sua campanha. Em
janeiro de 2025, ela fechou em 2,2% ao mês, contra um pico mensal de quase
13% em 2023, durante o governo do antecessor peronista, Alberto Fernández.
O índice de janeiro é o mais baixo desde julho de 2020, segundo o Indec,
agência de estatísticas do país, similar ao IBGE brasileiro.

Por outro lado, há um custo social em seu programa de austeridade: no ano
passado, a taxa da população na pobreza alcançou 52,9% (dado de setembro
de 2024), ante 41,7% no governo Alberto Fernández (dado de setembro de
2023). A alta representa que 3,4 milhões de argentinos haviam caído na
pobreza sob o governo Milei.

No caso do câmbio, o fenômeno de aumento do poder aquisitivo em dólar se
deve a uma combinação da inflação elevada do país e a desvalorização do
peso em um ritmo controlado pelo governo, de aproximadamente 1% ao mês.

Como o peso se desvaloriza mais devagar que a inflação do país, o consumo
em dólares ficou relativamente mais barato para os argentinos. Gastar em
dólar no Brasil, por tabela, virou pechincha.
Este é o pano de fundo da multidão de argentinos que apareceu em um vídeo
esvaziando as prateleiras da Decathlon em Florianópolis, que se tornou viral.
Comprar no Brasil ficou, em média, 50% mais barato do que na Argentina neste
verão.

Procurada pelo UOL, a multinacional francesa afirmou que a filial de
Florianópolis foi a que mais vendeu em janeiro entre as 1.750 lojas do grupo
espalhadas em 78 países – um desempenho “histórico e inédito”, nas palavras
de um porta-voz do grupo.

Segundo a empresa, 90% dos clientes eram do país vizinho.

A virada da balança

Se nos últimos anos, o peso desvalorizado favorecia turistas brasileiros a se
comportarem como ricos nos restaurantes de Buenos Aires, agora o câmbio
tornou as férias no Brasil mais baratas para os argentinos.

De acordo com o último dado disponível do Indec, um contingente de 1,3 milhão
de argentinos viajou para o exterior em dezembro de 2024, uma explosão de
76% em relação a dezembro de 2023. No mesmo período, o número de
estrangeiros visitando a Argentina somou 951 mil, um tombo de 25% em
relação ao ano anterior.

O Brasil é o principal destino do aumento expressivo dos gastos dos argentinos
no exterior, seguido pelo Uruguai e Chile, segundo o órgão de estatísticas da
Argentina.

O peso forte produziu um rombo na balança de turismo: em 2024, o país perdeu cerca de US$ 2,1 bilhões devido ao saldo negativo entre os gastos de argentinos no exterior e as despesas de estrangeiros no país.

UOL

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