Publicado em 29/10/2025
O Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) manifestou preocupação nesta quarta-feira, 29, com a maneira pela qual parte da imprensa local e alguns atores políticos têm abordado a morte do recém-nascido prematuro extremo, José Pedro, ocorrida em Rio Branco (AC).
Julgamento Antes da Apuração
Segundo a nota pública emitida pelo sindicato, certas declarações e reportagens têm transformado o episódio em um “espetáculo”, promovendo o julgamento antecipado das médicas envolvidas antes que qualquer apuração técnica e imparcial dos fatos seja concluída.
“Essa postura fere frontalmente o princípio constitucional da presunção de inocência, garantia fundamental que se aplica a todos os cidadãos”, afirma o texto.
O Sindmed-AC também criticou a pressão para que as profissionais se justificassem publicamente, sugerindo que o silêncio delas poderia ser interpretado como culpa. Para a entidade, “Tal atitude apenas reforça a tentativa de espetacularizar a dor, ignorando que tanto a família quanto as médicas sofrem com a perda de uma vida”, destacou a entidade.
Medicina e a Presunção de Erro
A nota sindical reforça que a Medicina não é uma ciência exata e que desfechos indesejados não representam, necessariamente, erro ou negligência profissional.
“Quando falhas acontecem e são devidamente apuradas, elas deixam marcas profundas, sobretudo nos próprios médicos, cuja vocação e propósito sempre foram o de preservar vidas”, pontua o sindicato.
A entidade também expressou perplexidade com a exposição pública das médicas, contrastando com a frequência com que acusados de crimes graves têm seus nomes preservados. Por fim, o Sindmed-AC questiona se o silêncio das profissionais não seria resultado do medo, da dor e do trauma de já terem sido condenadas socialmente.
Veja a nota:
NOTA À SOCIEDADE CIVIL
O Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) vem a público manifestar profunda preocupação e repúdio à forma como parte da imprensa local e alguns atores políticos têm tratado o lamentável episódio envolvendo a declaração de óbito de um recém-nascido prematuro extremo em Rio Branco.
O objetivo de certas manifestações públicas — carregadas de acusações precipitadas e julgamentos morais — não parece ser o de buscar justiça ou consolar a família enlutada, mas o de transformar um episódio doloroso em espetáculo e promover uma execração pública das médicas envolvidas, antes mesmo de qualquer apuração técnica e isenta dos fatos.
Essa postura fere frontalmente o princípio constitucional da presunção de inocência, garantia fundamental que se aplica a todos os cidadãos, inclusive àqueles injustamente acusados.
Alguns comunicadores chegaram ao absurdo de exigir que as profissionais viessem a público se justificar, insinuando que o silêncio equivaleria à culpa. Tal atitude apenas reforça a tentativa de espetacularizar a dor, ignorando que tanto a família quanto as médicas sofrem com a perda de uma vida.
É necessário recordar que a Medicina não é uma ciência exata. O desfecho indesejado de um caso não significa, por si só, erro ou negligência. Quando falhas acontecem — e são devidamente apuradas — elas deixam marcas profundas, sobretudo nos próprios médicos, cuja vocação e propósito sempre foram o de **preservar vidas.
Causa perplexidade observar que parte da imprensa, que com frequência preserva a identidade até de acusados de crimes graves, neste caso tenha optado por expor publicamente os nomes das médicas, submetendo-as a um julgamento social devastador e a um sofrimento emocional de proporções incalculáveis.
Perguntamos: alguém se perguntou se o silêncio dessas profissionais não é, na verdade, fruto do medo, da dor e do trauma de já terem sido condenadas socialmente antes mesmo de qualquer processo ético ou judicial?
A sociedade, infelizmente, costuma lembrar dos médicos apenas nos momentos de tragédia. Pouco se fala das vidas salvas, dos plantões exaustivos, dos sacrifícios pessoais e familiares que fazem parte da rotina de quem se dedica a cuidar.
Mas basta uma suspeita — ainda que não comprovada — para que recaia sobre o médico um peso desproporcional de críticas e acusações. Nenhuma outra categoria é tão cobrada, tão exposta e tão pouco compreendida.
O Sindicato dos Médicos do Acre reafirma sua solidariedade e apoio incondicional às médicas envolvidas, profissionais de conduta ilibada e de reconhecida competência técnica. Reiteramos também nosso respeito e pesar à família do recém-nascido, que vive um momento de dor incomensurável.
Por fim, conclamamos a imprensa, os gestores públicos e toda a sociedade a agir com responsabilidade, prudência e empatia, permitindo que os fatos sejam devidamente apurados pelas instâncias competentes, sem julgamentos sumários ou execração pública.
Rio Branco, 29 de outubro de 2025
Sindicato dos Médicos do Acre

