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quarta-feira, 26 de novembro de 2025
O RIO BRANCO
Política

Novo embate entre EUA e Brasil ameaça forte desempenho do mercado brasileiro em 2025

RETORNO - B3: após fugir em 2024, os estrangeiros estão de volta ao país (Nelson Almeida/AFP)

Fenômeno foi impulsionado pelos investimentos de estrangeiros, que hoje respondem por 30% das operações realizadas no país

O mercado financeiro costuma ser alvo de críticas por sua aparente
desconexão com a realidade e os desafios concretos enfrentados pela maioria
da população. À luz do desempenho recente da bolsa brasileira, esse
julgamento pode parecer pertinente. Mesmo com o agravamento do cenário
fiscal — que levou o Banco Central a elevar a taxa Selic a 15% ao ano — e com o
aumento das tensões geopolíticas internacionais, o Ibovespa, o principal índice
acionário do país, acumulou alta de 15% no primeiro semestre, seu melhor
resultado para o período desde 2016. A valorização seguiu até 4 de julho,
quando o indicador atingiu 141 000 pontos, um novo recorde nominal, sem
ajuste pela inflação. O otimismo contagiou o mercado, e diversas casas de
análise revisaram suas projeções. O banco Santander, por exemplo, passou a
prever que o Ibovespa poderia alcançar 160 000 pontos até dezembro, o que
representaria uma alta de 16% sobre o nível atual. Entender o que
impulsionou essa trajetória e quais fatores sustentam as expectativas positivas
de curto prazo é fundamental para quem se pergunta se o melhor já ficou para
trás ou se ainda há espaço para bons retornos.

VIRADA – Galípolo: início do ciclo de corte de juros poderá ser um gatilho extra para as ações (Suamy Beydoun/AGIF/AFP)

Para chegar a uma resposta, é preciso entender sobretudo o comportamento
dos estrangeiros, que hoje respondem por 30% das operações realizas no
mercado de ações brasileiro. Em 2024, esses investidores retiraram 24 bilhões
de reais da B3, a bolsa de valores de São Paulo, e foram decisivos para que o
Ibovespa afundasse 10%. A primeira causa da debandada foi a deterioração das
contas públicas, o que aumentou a aversão ao risco-Brasil. Mas o cenário dos
Estados Unidos também pesou. Os investidores rumaram para a América do
Norte, atraídos pela taxa de juros de 5,5% ao ano, elevada para os padrões
americanos, e pela expectativa de que Donald Trump venceria a eleição
presidencial em novembro. Agora, as decisões erráticas de Trump, que
tumultuam a economia global, e a aposta de que o Federal Reserve, o banco
central americano, começará a cortar os juros a partir de setembro incentivam
os estrangeiros a buscar outros mercados. No acumulado do ano até a primeira
semana de julho, os gringos injetaram 28 bilhões de reais na bolsa — o que
ajuda a explicar a alta recorde. Isso não significa que os problemas que os
afugentaram estejam resolvidos. “A volta dos estrangeiros não é um mérito do
Brasil”, diz Bruce Barbosa, sócio da casa de análises Nord Research. “Outras
bolsas de países emergentes também estão subindo.”

Gestores costumam seguir um princípio simples: comprar papéis se estiverem
baratos e puderem se valorizar e vendê-los na situação contrária. O fato é que,
apesar da forte alta, a bolsa brasileira continua uma pechincha — e os
estrangeiros sabem disso. Para determinar se uma ação está barata, um dos
índices mais usados é a relação preço/lucro (P/L), que compara o valor do
papel com o lucro gerado pela empresa que o emitiu. Quanto maior for o P/L,
mais cara é a ação, já que o preço para a compra é elevado em relação ao
retorno que gera. Na média, o P/L do Ibovespa oscila ao redor de 12. Neste
ano, contudo, o índice está abaixo de 9. “Isso mostra como a bolsa está barata”,
afirma Pedro Galdi, analista da AGF Investimentos, casa focada em educação
financeira. “Não me parece complicado o Ibovespa alcançar os 150 000
pontos.” De acordo com Galdi, a renda variável ganhará um impulso extra
quando o Banco Central, capitaneado por Gabriel Galípolo, começar a cortar
a taxa Selic, hoje em 15% ao ano. Para a maioria dos analistas do mercado,
porém, os juros só começarão a ser reduzidos a partir do ano que vem.

EFEITO TRUMP - Nasdaq: em 2025, as bolsas americanas acumulam alta modesta (Michael Nagle/Bloomberg/Getty Images)

Composto atualmente por 84 papéis de 82 empresas, o Ibovespa representa
uma média ponderada das oscilações desses ativos — o que não significa,
naturalmente, que todos sobem quando o índice avança. Dentro dessa carteira
teórica, há disparidades expressivas: ações como as da Cogna, empresa do
setor educacional, acumulam valorização de 153% no ano, enquanto outras,
como as da rede de farmácias Raia Drogasil, amargam queda de até 37%. O
cenário de incertezas ganhou um ingrediente a mais com o anúncio do
presidente Donald Trump de imposição de uma sobretaxa de 50% às
importações americanas de produtos do Brasil a partir de 1º de agosto (leia a
reportagem na pág. 28). A medida, revelada na quarta-feira 9, aumenta a
cautela dos investidores, ainda que, segundo analistas, o impacto direto sobre
a bolsa seja limitado. “O efeito das sobretaxas na bolsa brasileira é marginal”,
afirma Luiz Fernando Alves Júnior, executivo da gestora Versa Asset. Para ele,
a Embraer, que tem 46% da receita atrelada às vendas de aeronaves aos
Estados Unidos, tende a ser a mais afetada. Ainda assim, a fabricante brasileira
mantém uma planta ociosa em solo americano que pode ajudar a neutralizar
parte das barreiras. Outras companhias com foco no mercado externo podem
redirecionar a produção para destinos diferentes, reduzindo o efeito das tarifas
sobre os resultados.

A única certeza é que o embate entre Brasília e Washington acerca da
sobretaxa adicionará mais incerteza ao mercado de ações, e isso sempre se
traduz em fortes oscilações de preço — é a chamada volatilidade. Em vez de o
investidor se recolher à espera de tempos menos turbulentos, é hora de
garimpar boas oportunidades. “Uma janela de investimentos será aberta se a
bolsa cair muito devido ao episódio das tarifas”, afirma Fernando Ferrer, chefe
de renda variável da gestora Lifetime. Enquanto os investidores institucionais,
como os fundos de pensão, acumulam 32,8 bilhões de reais em saques na
bolsa neste ano e apostam na renda fixa impulsionada pela taxa Selic de 15%,
as pessoas físicas já investiram 6,6 bilhões em ações, um valor que só fica
atrás do aportado pelos estrangeiros. Pelo menos no que se refere ao otimismo
em relação à bolsa, brasileiros e americanos já se entenderam.

*Publicado em VEJA

 

 

 

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