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sexta-feira, 22 de agosto de 2025
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Em alta na direita para 2026, Tarcísio entra cada vez mais na mira de Lula e do PT

Publicado em 05/07/2025

PALANQUE - Tarcísio discursa ao lado do ex-presidente em manifestação na Avenida Paulista: “O Brasil não aguenta mais o PT” (Roberto Sungi/Ato Press/Agência O Globo/.)

Partido tenta desgastar ao máximo o governador, criticando principalmente os pontos da gestão estadual que considera frágeis sob a ótica eleitoral

Na fria terça-feira paulistana, 1º, durante o chamado “pinga-fogo” (momento
reservado a discursos), o clima esquentou na Assembleia Legislativa de São
Paulo, não por discussões sobre temas de interesse do estado, mas pelo
embate entre apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do
governador Tarcísio de Freitas. “Tarcísio é candidato a presidente da República
e o que é importante para ele? Que Bolsonaro não se habilite, porque ele quer
o lugar do Bolsonaro”, apontou o deputado Paulo Reis (PT). Do outro lado,
Danilo Campetti, do Republicanos de Tarcísio, questionou o esforço da
oposição para derrubar propostas do governador. “A esquerda votou contra um
projeto de combate à pobreza (SuperAção). Pode ter divergência, mas votar
contra? Mas trabalham para aumentar imposto, mesmo com o governo federal
batendo recorde de arrecadação”, atacou. Em outro momento, Emídio de
Souza (PT), amigo de Lula, disparou contra o deputado federal licenciado
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por propagar nos Estados Unidos a tese de que o
Brasil vive um regime de exceção. “O país não está perto de virar ditadura.
Viraria se não tivéssemos derrotado o 8 de Janeiro”, afirmou. A nacionalização
do debate no Legislativo paulista tem se tornado não só mais frequente, como
é embalada por um motivo bastante claro: o petismo enxerga cada vez mais em
Tarcísio o adversário que terá de ser batido por Lula em 2026.

A mobilização do PT ocorre para desgastar ao máximo o governador, criticando
principalmente os pontos da gestão estadual que consideram frágeis sob a
ótica eleitoral, como a instalação de pedágios (serão 113 novos pórticos na
modalidade free flow, que não tem cabines), a privatização da Sabesp (a
liderança do PT procurou o sindicato dos trabalhadores da empresa para colher
queixas sobre o serviço prestado após a privatização da companhia na atual
gestão) e a insatisfação de parte do funcionalismo (inclusive com a
possibilidade de greves que possam arranhar a imagem de Tarcísio). Também
está em prática um acompanhamento minucioso dos processos do governo no
Tribunal de Contas do Estado em busca de irregularidades em contratos
assinados pela atual gestão. Os petistas ainda têm investido em comparações
entre as realizações de Lula e Tarcísio, tanto por meio de panfletos virtuais nas
redes sociais quando por material exposto no plenário da Alesp.

A tropa de choque no ataque a Tarcísio tem conexões com nomes em ascensão
no petismo. Na Alesp, a ofensiva tem à frente a líder da minoria, Thainara
Faria (PT), ex-vereadora de Araraquara e ligada ao ex-prefeito da cidade
Edinho Silva, favorito na eleição à presidência do PT e nome cotado também
para comandar a campanha de Lula no ano que vem. Outro aliado importante
é Antonio Donato, líder da federação PT-PCdoB-PV na Assembleia e candidato
a presidir o petismo no estado, com o apoio tanto de Edinho quanto de Rui
Falcão, outro postulante a presidente nacional da sigla. O PT faz eleições neste
domingo, 6, para renovar a sua direção em todo o país de olho em 2026.

RECADO - Lula na Favela do Moinho: “O governador foi convidado para vir aqui” (Cláudio Kbene/PR)

Enquanto seus soldados empunham as armas no aquecimento para o ano que
vem, as faíscas entre Tarcísio e Lula também se intensificaram nos últimos
dias. Um dos campos de batalha tem sido a Favela do Moinho, uma ocupação
irregular na região central da capital que é alvo de grande ação de remoção
capitaneada pelo governo do estado, mas em parceria com o governo federal,
dono do terreno. Quando começou a retirada das famílias, o governo paulista
enfrentou críticas diante dos confrontos entre policiais militares e moradores.
No dia 26 de junho, Lula foi ao local assinar um acordo que prevê subsídio de
250 000 reais a cada morador para uma nova casa. No evento, criticou quem
diz que o local é reduto da facção criminosa PCC — o que foi apontado por
investigações da Polícia Civil e do Ministério Público. “Na cabeça de muita
gente da elite brasileira, pobre e gente que mora em favela é sempre
considerado bandido”, disse. Ele lembrou que Tarcísio não quis ir ao ato. “O
governador foi convidado para vir aqui. Eu só quero que saibam: agora vocês
estão sob os cuidados do governo federal, e nós vamos respeitar vocês”,
discursou. Tarcísio, ironicamente, tinha agenda em São Bernardo do Campo,
berço político de Lula, de onde respondeu. “Tem muita gente que gosta de
falar. A gente gosta de fazer. A política habitacional do estado de São Paulo é
uma política com entrega real”, disse.

O acirramento do fogo contra Tarcísio também tem mobilizado gente graúda
do petismo. De volta à política com desenvoltura, o ex-ministro José Dirceu,
ex-presidente do PT, vinha alertando desde março que o governador já havia
sido abraçado pela “elite de São Paulo” e que a esquerda não deveria se iludir
porque ele não representava nenhum tipo de bolsonarismo moderado. “Tudo
indica que os partidos de direita vão buscar um candidato único,
se Bolsonaro permitir, que seria o Tarcísio de Freitas. Mas ele não é
invencível”, ressaltou em entrevista recente. Outros caciques da sigla, como a
ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o líder do PT na
Câmara, Lindbergh Farias, também intensificaram os ataques ao governador.

OFENSIVA - A deputada estadual Thainara Faria (PT): aliada de Edinho Silva lidera atuação contra Tarcísio na Assembleia (Rodrigo Romeo/alesp/.)

Com Bolsonaro inelegível e correndo o risco de ser preso no processo da
tentativa de golpe de Estado, o nome de Tarcísio começa a ganhar tração
também entre os políticos. Pesquisa Quaest da última semana mostra que 49%
dos deputados federais acham que ele será o candidato da oposição a Lula —
essa percepção cresceu 10 pontos percentuais em relação à sondagem de maio
de 2024. Para reforçar o movimento, 51% disseram que Bolsonaro deveria
abrir mão da candidatura — mesmo inelegível, ele tem dito que vai insistir na
Justiça até o último minuto. O último levantamento do Paraná Pesquisas, de
meados de junho, mostra Tarcísio como o nome mais forte fora do clã
Bolsonaro para derrotar Lula: ele teria 43,6% contra 40,1% do petista em um
eventual segundo turno. O bom desempenho não se compara ao favoritismo
que Tarcísio ostenta na disputa por um novo mandato de governador, na qual
poderia até ser reeleito no primeiro turno. “Ele tem uma decisão difícil, pois
tem uma reeleição muito bem encaminhada. Eleição presidencial são outros
quinhentos”, diz Murilo Hidalgo, do Paraná Pesquisas.

PREGAÇÃO - José Dirceu: ex-ministro diz que governador de São Paulo será abraçado pela direita, mas “não é invencível” (@zedirceuoficial/Instagram)

Tarcísio se equilibra como pode diante da pressão crescente para se decidir
pela disputa ao Palácio do Planalto. No último ato da Avenida Paulista,
discursou ao lado do ex-presidente e centrou fogo no governo Lula.
“Destruíram tudo. O Brasil não aguenta mais o PT. A gente quer ver fora o
PT!”, bradou, acrescentando que o ex-presidente ainda há de “contribuir
muito” para o Brasil. Não passou despercebido, no entanto, que ele não tenha
disparado críticas ao STF, a despeito de o mote do ato ter sido a suposta
perseguição da Corte a Bolsonaro. “Do que adianta pagar de amigo, fazer cena
emprestando o Palácio dos Bandeirantes para Bolsonaro dormir e querer posar
de aliado, mas, na hora do vamos ver, não ter coragem de apontar os abusos
que o presidente vem sofrendo?”, questiona um nome próximo à família
Bolsonaro. “Quem defende a democracia tem que se comprometer com esse
indulto a Bolsonaro e aos condenados pelo 8 de Janeiro”, disse a VEJA o
senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Eduardo Bolsonaro mandou mensagem
cifrada em vídeo. “O principal recado que fica é para você, eleitor, prestar
atenção. Quem compareceu? Quem não compareceu? Como é que foram os
discursos? Quem é que faz o embate?”, disse.

DÚVIDA - Michelle: ausência em ato de Bolsonaro motivou especulações (PL/.)

Uma das ausências mais notadas foi a da ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro, também cotada para a Presidência. O fato de não ter ido, somado às
várias versões dadas para a ausência, gerou especulação sobre a motivação,
inclusive a de que teria perdido espaço na briga para ser a herdeira eleitoral de
Bolsonaro. A Quaest mostra que o percentual de deputados que acreditam que
Michelle será a candidata do bolsonarismo caiu de 15% em maio de 2024 para
6%. Com o governador ganhando protagonismo, aumenta o receio, sobretudo
na ala próxima a Bolsonaro, de que o ex-presidente seja “abandonado” e que o
governador articule, inclusive, uma chapa com nomes de outros partidos que
não o PL. “Tarcísio não cumpre acordos, nunca foi um aliado, de fato, do
bolsonarismo e, desde o início de sua gestão, governa com e para o PSD de
Gilberto Kassab”, dispara um aliado do ex-presidente. Por essa razão, uma das
condições para Bolsonaro sair de cena é que a chapa tenha alguém com o seu
sobrenome, mesmo que não seja na cabeça. A movimentação recente vem
mostrando que, para construir a sua candidatura ao Planalto, Tarcísio terá de
cruzar um campo altamente minado e se esquivar tanto do tiroteio cerrado da
esquerda quanto do “fogo amigo” da direita.

(Publicado pela VEJA)

 

 

 

 

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