Gago com a camisa do MengãoReprodução / Arquivo pessoal
Ex-vascaíno, Gago cobriu a tatuagem da Cruz de Malta com o escudo do Rubro-Negro
Rio – “Era um sofrimento absurdo, eu não estava mais aguentando. Aos 45 do segundo tempo, quando o Vasco já estava com a mão na taça, os jogadores davam mole e tomavam gol, sempre foi assim. Deus me livre, era muita encarnação. E, no fundo, sempre gostei do Flamengo”. João Luiz, conhecido como ‘Gago’, resume assim o momento em que, há quase seis anos, deixou o passado vascaíno de lado e despertou para a paixão pelo Rubro-Negro, reprimida desde a infância.
O torcedor, de 37 anos, começou a admirar o Cruz-Maltino por incentivo do pai e do irmão e fez uma tatuagem com o escudo do clube no ombro. Porém, enquanto assistia a um jogo do time no bar de um amigo flamenguista, em 2019, Gago fez reclamações e chamou atenção do dono do local, que perguntou se ele queria tirar a ‘tattoo’. Cansado de sofrer, garantiu que, caso alguém pagasse a remoção, apagaria a homenagem, e foi ao tatuador.

“Para muitas pessoas, não é uma decisão tão fácil, porque sentem medo do que vão dizer e pensar. Mas não me importei com nada disso, não aguentava mais. Tomei a iniciativa de repente, ninguém sabia o que eu ia fazer. Só que não esperavam que iria colocar a do Flamengo em cima, né?”, destacou, aos risos.
Naquele ano, considerado ‘mágico’ pelos rubro-negros, o elenco era comandado por Jorge Jesus, e foi campeão do Brasileirão e da Libertadores com campanhas históricas. Gago, com o escudo tatuado e agora torcedor declarado, pontuou a diferença entre as duas arquibancadas. “É enorme. A torcida do Flamengo, meu Deus, não se compara com nenhuma outra. Têm brigas e violências, mas é o de menos. É muita emoção, não dá para explicar. Ganhando ou perdendo, estou feliz, é assim com todo mundo. O time consegue deixar a gente bem, o Vasco, não. Jesus, sofri demais, nunca mais quero esse terror para a minha vida”, compartilhou, e em nenhum momento ficou arrependido por ter mudado de clube, pelo contrário.
Apesar de a escolha ser considerada mal vista pela maioria das pessoas, Gago afirma que não voltaria atrás em nenhum momento, e relembra o tempo que levou cobrindo a tatuagem. “Não costumo me arrepender de nada que faço, ainda mais sobre isso. Foi a melhor decisão que tomei na minha vida até hoje, mesmo que eu tenha sentido dor, já que foram sete horas diretas de sessão. O bom é que fiquei mais próximo do tatuador também. Fui em entrevistas e o levei comigo, e ele me presenteou com a oportunidade de fechar o braço. Ainda falta terminar, mas já tenho o Maracanã, o Cristo Redentor e o calçadão de Copacabana aqui”, contou.

Além de ter ganhado ‘tattoos’, o torcedor adquiriu outras coisas. “Fui na loja do Flamengo comprar camisa, quis colocar nome, número e não paguei por nada, ainda tiraram foto comigo. Fiquei recebendo várias coisas por um tempo, e com o Vasco nunca me deram nem uma bala”, disse, com bom humor. Quando a troca dos times de Gago repercutiu, alguns amigos dele, que também eram vascaínos, seguiram o mesmo caminho e viraram a casaca.
“Acabei incentivando outras pessoas a parar de sofrer. É porque eu não tinha Instagram, acho que se tivesse teria ganhado muitos seguidores, porque foi uma mudança que chamou atenção. No Facebook, lembro que recebi um monte de ameaças dos torcedores, mas, graças a Deus, não passou disso. Sou feliz sendo flamenguista, não poderia estar melhor”, celebrou o rubro-negro.
*Reportagem da estagiária Beatriz Dias, sob supervisão de Danillo Pedrosa ( O DIA)

