Atualizada em 06/04/2025 15:57
O ex-presidente Jair Bolsonaro discursa durante ato na avenida Paulista, em São Paulo, pela anistia de envolvidos nos atos de 8 de Janeiro
Imagem: Bruno Santos/Folhapress
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) falou hoje em manifestação na avenida
Paulista em defesa da anistia dos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro, onde
reciclou a declaração que fez quando se tornou réu por tentativa de golpe de
Estado e disse que violação à democracia foi sua derrota na eleição de 2022.
O que aconteceu
Apesar da temática do evento ser o perdão aos acusados de participarem
dos atos golpistas, Bolsonaro pouco falou sobre o assunto nos quase 25
minutos em que discursou. Na maior parte do tempo, o ex-presidente
defendeu a própria inocência e uma eventual candidatura nas próximas
eleições. “Eleições 2026 sem Jair Bolsonaro é negar a democracia, escancarar
a ditadura no Brasil. Se o voto é a alma da democracia, a contagem pública do
mesmo se faz necessária”, afirmou.
O voto no Brasil é seguro e auditável, como já mostraram relatórios
do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e TCU (Tribunal de Contas da
União). Desde 1996, início da utilização da urna eletrônica, nunca houve fraude
comprovada.
Ex-presidente também disse que não houve “ato preparatório” para um
eventual golpe, apesar de já ter admitido que “discutiu hipóteses” com
militares. “O primeiro movimento para um estado de sítio, de defesa, é
convocar os conselhos. Nenhum conselho foi convocado, então, nem ato
preparatório houve”, declarou.
“Só um psicopata para falar que aquilo que aconteceu no dia 8 de janeiro
foi uma tentativa armada de um golpe militar”, disse Bolsonaro. Para ele,
golpe foi a eleição de seu adversário, o atual presidente Lula (PT). “O golpe foi
dado, tanto é que o candidato deles está lá”, disse. “Vamos falar quem deu o
golpe: quem tirou Lula da cadeia? […] Quem descondenou o Lula para ele fugir
da Lei da Ficha Limpa e se tornar candidato?”.
Ato teve 1/4 da participação de manifestação
de 2024
Segundo estimativa do Monitor do Debate Político, vinculado à USP e ao
Cebrap, ato reuniu 45 mil pessoas. A contagem foi feita no momento de pico
da manifestação, às 15h44, a partir de fotos aéreas analisadas com software
de inteligência artificial.
Isso é um quarto do ato em apoio a Bolsonaro no ano passado. No dia 25
de fevereiro, o ato que também aconteceu na avenida Paulista reuniu 185 mil
pessoas.
Após o protesto esvaziado no Rio e com o assunto travado na Câmara, a
estratégia do bolsonarismo é mostrar que a anistia tem força nas
ruas. Apesar da pressão bolsonarista, os caciques da Câmara sinalizam que a
anistia não é prioridade. O presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) tem
focado em outros assuntos, como a comissão que vai discutir a isenção
de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês, e foi alvo de
alguns dos discursos no ato deste domingo.
Pesquisa mostra que maioria dos brasileiros rejeita proposta de
anistia. Levantamento Genial/Quaest publicado hoje mostrou que 56% acham
que os envolvidos no 8 de Janeiro devem continuar presos. Já 34% defendem
que eles sejam soltos: 18% acreditam que eles nem deveriam ter sido presos e
16% pensam que devem ser soltos porque já estão presos há tempo demais.
Vista aérea de ato por anistia na avenida Paulista
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress, POLITICA
Batom foi símbolo do ato
Vários dos manifestantes levam batons ou cartazes em referência ao caso
de Débora Rodrigues dos Santos, que está em prisão domiciliar depois de
passar mais de dois anos presa preventivamente. Bolsonaro chamou a mãe
e a irmã da cabeleireira para subirem no trio elétrico durante o discurso dele.
Elas não falaram.
Débora ficou conhecida por pichar com batom a estátua da Justiça em
frente ao STF, mas a acusação contra ela não se limita a esse único
ato. Segundo a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), a mulher
participou do quebra-quebra e se associou conscientemente aos demais
participantes dos atos golpistas de 8 de Janeiro.
Julgamento de Débora ainda não foi concluído. Manifestantes exibem cartaz
com batom, dizendo “usar essa arma te condena a 14 anos”, mas isso não é
verdade: Débora ainda não foi condenada. O relator do caso, ministro
Alexandre de Moraes, sugeriu uma pena de 14 anos de prisão por cinco crimes:
abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano
qualificado, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa
armada.
Apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro chora com batom na mão durante manifestação em São Paulo por anistia dos envolvidos em atos golpistas
Imagem: Amanda Perobelli – 6.abr.2025/Reuters
Sete governadores foram à manifestação
São eles:
Romeu Zema (Novo-MG),
Jorginho Mello (PL-SC),
Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP),
Ronaldo Caiado (União-GO),
Wilson Lima (PL-AM),
Ratinho Jr. (PSD-PR) e
Mauro Mendes (União-MT).
Cláudio Castro (PL) havia confirmado presença, mas cancelou após fortes
chuvas desabrigarem centenas de pessoas no Rio. Mais de 300 pessoas
tiveram de deixar suas casas em Angra dos Reis, onde o volume de chuva em
dois dias foi mais que o dobro da média para o mês inteiro.
Ratinho Júnior (PSD) disse que não iria, mas apareceu. Depois de almoçar
com Bolsonaro em Curitiba na sexta-feira, o governador paranaense falou que
não poderia vir ao evento porque viajaria aos Estados Unidos. Ontem, ele
participou do lançamento de um livro junto com o presidente do PSD, o exgovernador Gilberto Kassab, como mostrou a coluna de Mônica Bergamo no
jornal Folha de S.Paulo.
Ronaldo Caiado lançou pré-candidatura à Presidência na sexta, dois dias
antes de dividir palco com Bolsonaro. Tanto o ex-presidente quanto o
governador goiano estão atualmente inelegíveis. Decisão da Justiça Eleitoral de
Goiás de dezembro passado condenou Caiado a oito anos de
inelegibilidade por abuso de poder político, mas ele ainda pode recorrer da
decisão.
Reunião de governadores acontece em meio a disputa por protagonismo
na direita. Com Bolsonaro inelegível, os nomes de vários dos presentes hoje
na manifestação têm sido aventados como eventuais substitutos. O mais
competitivo, segundo pesquisa Datafolha divulgada hoje, é o governador
paulista Tarcísio de Freitas —que tem repetido, em público, que não será
candidato ao Executivo federal no ano que vem.
Governadores vão a protesto com ex-presidente Jair Bolsonaro (centro); da esquerda para a direita, Romeu Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Tarcísio de Freitas (SP), Bolsonaro, Ronaldo Caiado (GO), Wilson Lima (AM), Ratinho Jr. (PR) e Mauro Mendes (MT)
Imagem: Sóstenes Cavalcante/Divulgação
Participam desta cobertura: Anna Satie, Carolina Nogueira, Eduarda Esteves e Manuela Rached Pereira e Rafaela Polo, do UOL, em São Paulo e em Brasília
*Com informações do UOL