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Brasil vira ameaça em disputa entre EUA e China pelo controle dos mares

Atualizada em 06/04/2025 12:31

Vista aérea mostra contêineres no porto de Nanquim, no leste da China
Imagem: STR / AFP

Um disputa entre China e EUA pelo controle das rotas comerciais marítimas no mundo ganha um componente inesperado para o governo de Donald Trump: o alerta por parte do poderoso setor do agronegócio americano diante do que consideram como uma ameaça da concorrência brasileira.

A Casa Branca quer romper o domínio da China no transporte marítimo
com uma estratégia em duas frentes. Uma é taxar os navios fabricados
por Pequim e a outra, ampliar subsídios para a indústria naval dos EUA.

O problema, segundo os exportadores americanos, é que as medidas
ameaçam tirar a competitividade dos produtos dos EUA, principalmente
no setor agrícola. Já navios chineses poderiam continuar operando em
mercados como o do Brasil.

O resultado seria a substituição dos bens exportados globalmente pelos
EUA por bens vendidos pelo agronegócio brasileiro, mais competitivo
diante da diferença que poderia ser estabelecida no frete.

O alerta sobre o país surgiu na semana passada, durante audiências
marcadas pelo governo Trump para avaliar como cada setor examinava
a proposta de lançar uma ofensiva pelo controle dos mares.

O UOL obteve trechos do conteúdo dessas audiências. Nessas
reuniões, ficou explícito o temor sobre o impacto que uma batalha pelos
mares poderia significar para a competitividade brasileira.

O domínio chinês

Ainda no governo de Joe Biden, os EUA começaram a investigar o
domínio da China no setor de construção naval.

Em 2024, os navios porta-contêineres construídos na China detinham
81% do mercado. Na frota de navios para transportar grãos, os
chineses representavam 75% da frota global. Nos principais mercados
de energia, a China também vem aumentando sua presença. A China
agora tem uma participação de 48% no mercado de transportadores de
gás liquefeito de petróleo.

Em 12 de março de 2024, cinco sindicatos americanos entraram com
uma petição solicitando uma investigação sobre as práticas da China no
setor marítimo. O governo acatou o pedido e, em 17 de abril de 2024,
Biden solicitou consultas com o governo da China.

A conclusão inicial da investigação determinou que a dominância da
China “não é razoável porque desloca empresas estrangeiras, priva as
empresas orientadas para o mercado e seus trabalhadores de
oportunidades comerciais”.

O domínio chinês ainda aumenta o risco e reduz a resiliência da cadeia
de suprimentos dos EUA. A conclusão foi também de que o
posicionamento da China nos mares cria riscos de segurança
econômica. Segundo o Escritório de Comércio dos EUA, o apoio
financeiro da China, as barreiras para empresas estrangeiras, o “roubo”
de propriedade intelectual, as políticas de aquisição e as transferências
forçadas de tecnologia deram uma vantagem “injusta” ao seu setor de
construção naval e marítimo.

Os chineses contestam a tese e alegam que o domínio não ocorreu por
acaso. Cientes de seu papel central no comércio mundial, os chineses
passaram a investir também no controle do transporte, com enormes
investimentos e subsídios do estado para a construção de navios.

Ao chegar ao poder, porém, Trump decidiu ir além. Uma das propostas,
agora, é a de aplicar multas e taxas sobre todos os navios fabricados na
China que chegam aos portos dos EUA. Para embarcações com mais
de mil toneladas, a taxa seria de US$ 1 milhão. Mas a Casa Branca
também quer taxar qualquer operadora marítima que use navios
fabricados na China. Neste caso, a taxa seria de até US$ 1,5 milhão.

O objetivo é o de forçar o mundo a comprar outros navios e reduzir o
controle chinês. Enquanto isso, Trump lança uma operação para trazer
de volta aos EUA a fabricação de navios. As multas poderiam chegar a
US$ 20 bilhões por ano.

Em seu discurso ao Congresso ainda em 4 de março, Trump anunciou que criaria um
novo escritório de construção naval na Casa Branca e prometeu incentivos fiscais
para trazer mais construção naval de volta aos EUA.

Ele ainda assinou uma ordem executiva que inclui 18 medidas destinadas a retomar a
construção naval dos EUA. Atualmente, os estaleiros americanos produzem menos
de uma embarcação comercial de grande porte por ano, concentrando-se quase que
exclusivamente em contratos militares.

A ameaça brasileira

Durante as audiências, porém, produtores americanos do setor agrícola se
levantaram contra a proposta. No dia 24 de março, diante do USTR —o escritório de
Comércio da Casa Branca— o fazendeiro de soja de Indiana e diretor da American
Soybean Association (ASA), Mike Koehne, testemunhou contra a iniciativa.

Koehne foi o único representante de um grupo de commodities agrícolas no
processo. Além de fazer parte da diretoria da ASA, Koehne faz parte da diretoria do
Conselho de Exportação de Soja dos EUA e é presidente da Coalizão de Transporte
de Soja.

Diante do governo Trump, ele explicou que depende pessoalmente do comércio
marítimo, explicando que algumas de suas colheitas são transportadas por barcaça
pelo rio Ohio antes de chegar a um navio a granel no Golfo do México. Os grãos de
soja que ele cultiva são transportados por contêineres para o Japão e Taiwan.

“Com suas vias navegáveis interiores, ferrovias e rodovias, acredito que nosso
sistema de transporte é nossa vantagem competitiva”, disse. “A ASA apoia a meta de
aumentar a capacidade de construção naval doméstica para ajudar na exportação da
agricultura dos EUA. Entretanto, a solução proposta nessa investigação gera
consequências não intencionais para os produtores de soja como eu”, alertou.

Segundo ele, a solução proposta pelo USTR para combater o setor de construção
naval da China “aumentaria significativamente” as taxas de frete para a soja e os
produtos de soja dos EUA, tornando o preço final dos produtos de soja dos EUA
menos desejável em comparação com os grãos do Brasil —os maiores concorrentes
da soja dos EUA no mercado de exportação.

“A imposição de taxas portuárias sobre a maior parte da frota marítima que exporta e
importa dos EUA aumentará os custos para os agricultores americanos, tanto em
termos de insumos como fertilizantes, sementes, quanto para levar as colheitas ao
mercado”, disse.

“Ao mesmo tempo, nossos concorrentes no Brasil e na Argentina não estarão sujeitos
às mesmas regulamentações. Embora bem-intencionada, essa proposta garantiria
que a soja dos EUA arcaria com custos mais altos e seria menos competitiva no
mercado global”, concluiu.

A American Farm Bureau Federation, poderosa entidade de lobby agrícola dos EUA,
também declarou ser contra. Em 2024, os EUA exportaram mais de 106 milhões de
toneladas métricas de produtos agrícolas a granel.

A National Grain & Feed Association (NGFA) —a maior associação de grãos dos EUA
— também se declarou contra a proposta do governo de cobrar multas. “Embora
bem-intencionada, essa proposta ameaça impor custos significativos aos
exportadores de grãos e sementes oleaginosas dos EUA e corroer a competitividade
dos Estados Unidos no mercado internacional”, explicou o presidente e CEO da
NGFA, Mike Seyfert.

“Se promulgada, essa proposta eliminaria efetivamente metade da frota global a
granel de que precisamos para exportar quase um terço dos grãos e sementes
oleaginosas produzidos nos Estados Unidos”, explicou Seyfert. “Isso coloca a
agricultura dos EUA em uma desvantagem competitiva considerável nos mercados
globais. Já estamos vendo interrupções no mercado desde que a proposta foi
apresentada, incluindo perda de vendas e dificuldade de contratar navios.”

Há aproximadamente 21.000 navios na frota mundial de transporte a granel, quase
50% dos quais foram fabricados na China. Apenas cinco navios atualmente em
operação na frota global foram construídos nos Estados Unidos, ou 0,2%.

Os navios de contêineres, que foram usados para exportar cerca de US$ 9 bilhões
em grãos e sementes oleaginosas em 2024, também são importantes para os
transportadores agrícolas e seriam gravemente afetados pela proposta, disse Seyfert.

Os grupos de lobby da agricultura americana estimam que uma taxa adicional de US$
1 milhão sobre os navios que transportam exportações agrícolas aumentaria os
custos da maioria das remessas entre US$ 15 e US$ 40 por tonelada.

“Sem uma isenção, poderemos ver uma queda significativa nas exportações de
milho, soja e trigo”, alertou Seyfert. “Isso coloca em risco o superávit comercial de
US$ 65 bilhões que os Estados Unidos têm com os grãos e sementes oleaginosas
americanos e prejudica toda a agricultura americana, desde os exportadores até os
agricultores”, insistiu.

*Com informações do UOL

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