Publicado em 06/07/2025
“Em outras palavras, e na visão de quem está de fora da máquina pública, sem aumentar as alíquotas do imposto seria impossível cobrir o rombo que a gastança desenfreada de dinheiro público vem provocando no caixa federal”Arte: Kiko
O STF dá um pito no Executivo e no Legislativo para pôr fim ao desentendimento em torno do IOF. E a sociedade fica inerte, sabendo que no final a conta sobrará para ela
Na opinião do ministro Fernando Haddad desde o primeiro momento, sem os recursos gerados pelo aumento da alíquota de imposto para o qual ninguém dava muita importância, seria impossível fechar o caixa e evitar o déficit público. Em outras palavras, e na visão de quem está de fora da máquina pública, sem aumentar as alíquotas do imposto seria impossível cobrir o rombo que a gastança desenfreada de dinheiro público vem provocando no caixa federal.
BARAFUNDA TRIBUTÁRIA — A reação negativa por parte do Congresso foi imediata. Só que, ao invés de recuar na decisão e esquecer o IOF, o governo resolveu medir forças e seguir em frente. Depois de algumas mudanças cosméticas no texto, continuou insistindo em fazer do IOF a âncora do equilíbrio fiscal precário que ele pretende alcançar para este ano e para 2026. Qualquer economista iniciante sabe que esse imposto, por definição, não se presta a esse tipo de papel.
Ignorando o aumento de preços em cadeia que o aumento do IOF provocará em toda a economia, o governo, por meio de seus porta-vozes e de seus companheiros bem colocados na imprensa, passou a vender a ideia de que esse imposto é pago apenas pelos mais ricos, ou melhor, pelos super-ricos. O aumento das alíquotas do tributo, segundo a versão oficial, livraria “os mais pobres”, que ganham até R$ 5000 por mês, do Imposto de Renda. E, para completar a pantomima, surgiu a lorota de que o pretendido aumento do IOF se destina a promover a “Justiça Tributária” — quando está evidente que a única intenção é aumentar a arrecadação para continuar sustentando sua máquina onerosa, pesadona e ineficiente com vistas às eleições do ano que vem.
VIVA SÃO JOÃO! — O Congresso, para não deixar de dar sua contribuição para acirrar o clima de balbúrdia que tem tomado conta da política brasileira, decidiu fazer a sua parte. E, numa dobradinha bem ensaiada como um passo de minueto entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos/RN), e o do Senado, Davi Alcolumbre (União/PA), resolveu contra-atacar e mostrar que o Legislativo também é capaz de tomar medidas capazes de deixar o Executivo em dificuldade.
Na sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes decidiu tornar sem efeito todas as decisões tomadas pelo Executivo e pelo Legislativo em relação ao IOF. À primeira vista, o que o ministro fez foi mais ou menos o mesmo que um bedel das escolas rigorosas de antigamente fazia com os alunos que se desentendiam durante o recreio. Deu um puxão de orelha em cada um dos brigões, ralhou com eles e disse que os dois estavam errados. Depois, mandou que um se sentasse diante do outro e só se levantasse depois que encontrassem a solução para um problema que, na melhor das hipóteses, não precisava ter existido. Ou que, na pior delas, não precisava ter chegado ao impasse que chegou.
CONTINUIDADE DEMOCRÁTICA — O mais preocupante nessa história é que nada indica que essa espécie de acareação entre as duas partes evolua para uma paz duradoura entre o Executivo e o Legislativo. Nem que o hábito recorrente do Judiciário de sempre chamar para si assuntos que são de competência dos outros poderes passe a ser considerada uma atitude normal. Nem que, daqui por diante, os poderes voltem a cumprir o seu papel naquele clima de harmonia que chegou a existir no início do atual mandato do presidente Lula.