24.3 C
Rio Branco
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
O RIO BRANCO
BrasilGeral

Condenação de Ramagem deve aumentar ainda mais as tensões entre Congresso e STF

IMPASSE - Alexandre Ramagem, com o advogado Paulo Renato Cintra Pinto: reação do Legislativo contra o Supremo (Rosinei Coutinho/STF)

Muito dessa aparente disputa de poder tem a ver com corporativismo e o instituto de autoproteção dos parlamentares

Por Marcela Mattos da (VEJA)

Em janeiro de 2024, quando as investigações sobre a trama golpista ganhavam
tração, ministros do Supremo Tribunal Federal foram alertados sobre o
descontentamento generalizado diante das operações policiais nas casas e
gabinetes de parlamentares. Importantes caciques do Congresso reclamavam
que as ações eram desproporcionais e enviaram um recado claro: se elas
descambassem para prisões, o Parlamento se mobilizaria para derrubar a
ordem — uma atitude que certamente faria escalar a tensão entre os poderes.
Não houve, de fato, as temidas cautelares, mas nem por isso a relação foi
pacificada. De lá para cá, deputados e senadores acumularam iniciativas para
conter o avanço de ações criminais — como ficou evidenciado durante a
votação da PEC da Blindagem, na última semana — e, ao mesmo tempo,
puseram em prática manobras para contornar decisões judiciais. A condenação
de Alexandre Ramagem (PL-RJ), o único congressista envolvido no inquérito
sobre a tentativa de golpe, pode ser o estopim da rebelião prometida no
passado.

Desde o início, o processo contra o deputado se transformou em um cabo de
guerra entre o Parlamento e o Supremo. Em seu primeiro mandato, Ramagem
foi condenado por usar, enquanto chefe da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin), o aparato estatal para espionar inimigos políticos e para municiar o
então presidente Jair Bolsonaro com informações falsas sobre o sistema
eleitoral brasileiro. Ele terá de cumprir dezesseis anos de prisão pelos crimes
de tentativa de golpe, abolição do Estado democrático e organização criminosa.
A pena é a menor entre os oito integrantes do chamado núcleo crucial, graças a
uma decisão chancelada por mais de 300 deputados. Aprovada em maio, a
resolução previa que a ação penal deveria ser paralisada por completo porque
dois dos cinco crimes imputados a Ramagem teriam ocorrido quando ele já
estava diplomado — conforme a Constituição, nesses casos há a possibilidade
de sustar o processo. O Supremo considerou a reclamação parcialmente
procedente, mas manteve o andamento da ação em relação aos crimes
cometidos até 2022. A Câmara voltou a reagir e ingressou com uma ação,
alegando “violação direta e frontal aos preceitos fundamentais da separação de
Poderes e da imunidade parlamentar”. O recurso caiu nas mãos do ministro
relator, Alexandre de Moraes, que simplesmente o ignorou.

No último dia 11, ao anunciar o veredicto dos condenados pela trama golpista,
Moraes determinou a cassação imediata dos direitos políticos e do mandato de
Ramagem, sendo acompanhado por três dos quatro colegas da Primeira
Turma. A Câmara será formalmente notificada quando o processo transitar em
julgado, o que deve ocorrer em até dois meses. Antes disso, porém, deputados
já calculam que o ex-chefe da Abin não será expurgado por uma canetada do
Supremo. Ao contrário, o que se trabalha é para que ele seja poupado por
completo — por meio da sonhada anistia — ou estique a sua permanência
como deputado mesmo quando for preso. Cabe à Mesa Diretora encaminhar a
decisão judicial à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que inicia uma
representação contra o deputado — o que vai acontecer sem nenhuma pressa.
“O fato é que ele está condenado por uma decisão que o Supremo tomou
descumprindo uma decisão da Câmara. Mas agora a Câmara tem de seguir a
decisão do Supremo? Não existe um poder acima de outro”, afirma um bem
posicionado parlamentar. A ideia é deixar o caso em estado de animação
suspensa.

Por esse cálculo político, Ramagem pode passar a cumprir pena em regime
fechado, o que lhe impedirá de comparecer à Câmara, e ter seu processo
arrastado por um longo período até que ele atinja o número máximo de faltas.
Nesse caso, a perda do mandato é decretada pelo presidente da Câmara, e nem
sequer passa pelo crivo do plenário. O resultado seria o mesmo, mas ficaria a
mensagem de “não obediência” ao STF.

Muito dessa aparente disputa de poder tem a ver com corporativismo e o
instituto de autoproteção dos parlamentares. Preso em março de 2024 como
um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco, o deputado
Chiquinho Brazão teve seu mandato cassado somente em abril deste ano,
justamente por atingir o limite de ausências nas sessões — ele,
diferentemente, até hoje não foi condenado. Já o processo contra a
deputada Carla Zambelli (PL-SP), condenada a dez anos de prisão por invadir
os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), transitou em julgado em
junho deste ano. Desde então, a CCJ da Câmara analisa a ordem de perda do
mandato expedida pelo Supremo — foragida da Justiça brasileira, Zambelli
está presa na Itália, e na última semana apareceu por videoconferência na
sessão para acompanhar a oitiva de uma testemunha. Segundo o presidente da
comissão, o caso está se arrastando em decorrência dos trâmites jurídicos com
o outro país. “Muitas vezes as pessoas querem rapidez e resultado no
julgamento, mas a gente não pode entregar isso sem cumprir esses ritos, que
são exigidos pela lei”, afirma Paulo Azi (União Brasil-BA).

Além da figura do deputado-presidiário, a batalha entre os poderes deve trazer
em breve a criação do deputado internacional. Numa manobra para não ser
cassado por faltar às sessões, o PL indicou Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como
líder da minoria, resgatando um ato de 2015 que permite a parlamentares que
exercem a função de liderança o direito de não registrar presença no painel de
votações. O filho Zero Três de Jair Bolsonaro está desde março nos Estados
Unidos, de onde articula sanções americanas, e corria o risco de ser cassado
por ausência. Tudo indica que agora não será mais. Os casos vão se
enfileirando. O Conselho de Ética da Câmara arquivou a denúncia por
rachadinha contra o deputado André Janones (Avante-MG), que admitiu ter
embolsado dinheiro público repassado aos assessores e firmou um acordo com
a Justiça. Da mesma maneira, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que se
envolveu numa briga com um militante do MBL, conseguiu sobrevida em seu
processo de cassação, suspenso por Motta em abril por dois meses — e jamais
retomado.

O discurso comum a todos os que são alvos de investigação: são inocentes
sofrendo perseguição da Justiça. “Se fazem isso com um parlamentar, até com
um ex-presidente, podem fazer com qualquer outro parlamentar também”,
disse Ramagem em vídeo publicado após a condenação. Esse tipo de
argumento tem a simpatia de um contingente expressivo do Congresso. Como
se sabe, há pelo menos oitenta inquéritos destinados a apurar irregularidades
envolvendo as emendas parlamentares. Na última semana, o ministro Flávio
Dino cobrou um posicionamento da Procuradoria-Geral da República sobre as
ações — o que, na prática, se reflete na tramitação dos processos e permite que
muitos deles comecem a ser julgados em breve. Ou seja, perspectivas de
futuras prisões no horizonte — ou uma nova “violação direta e frontal aos
preceitos fundamentais da separação de Poderes e da imunidade parlamentar”.

Compartilhe:

Artigos Relacionados

Após receber flores, Virginia canta música romântica e reacende rumores com Vini Jr.

Redacao

Confira as seções eleitorais e os horários de votação dos candidatos à Prefeitura de Rio Branco.

Raimundo Souza

Nota pública sobre caso de feminicídio em Rio Branco

Raimundo Souza

Anvisa proíbe venda de 32 suplementos de empresa de produtos naturais

Redacao

Seleção feminina homenageia Marina Silva em jogo contra o Japão depois de agressão no Congresso

Raimundo Souza

Lula recebe carta e se compromete com a Casa Souza Araújo: “vocês têm um companheiro”

Kevin Souza