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quarta-feira, 26 de novembro de 2025
O RIO BRANCO
Política

Michelle Bolsonaro desponta como maior herdeira política do marido e mira Senado

FÉ - Bolsonaro e Michelle, em foto de 2023: “Se for vontade d’Ele, as coisas contribuirão para essa eventual missão” (Marcela Mattos/.)

(Por Marcela Mattos da VEJA)

Há quem não descarte para ela voos bem mais altos

Imbuída na missão de ajudar o marido a recuperar a imagem desgastada
especialmente entre as mulheres, Michelle Bolsonaro botou o pé na estrada e
viajou por diversas regiões do país nas eleições de 2022. Por onde passava,
arrastava multidões e pedia votos para o seu “galego de olhos azuis”. Em uma
dessas viagens, exausta, fez um desabafo dentro do avião: “Eu não quero mais,
estou muito cansada. Não casei para isso. Quero ser só dona de casa”. Horas
depois, a então primeira-dama foi à igreja e ouviu uma pregação na qual o pastor
dizia que a vida deveria ser sempre guiada pela vontade de Deus, e não pelos
próprios desejos. Evangélica fervorosa, Michelle considerou a fala um recado
divino e decidiu seguir firme na campanha pela reeleição de Jair Bolsonaro. O
candidato perdeu, mas seu principal cabo eleitoral jamais foi o mesmo. Três
anos depois, o ex-presidente está preso e prestes a ser condenado por tentativa
de golpe, o que pode soterrar definitivamente sua carreira eleitoral. Michelle,
por outro lado, ganhou vida própria. Ela assumiu uma direção no PL, já viajou
por todos os estados do país, tem um fã-clube particular e é considerada por
muitos como a principal candidata da família para herdar o ainda enorme
espólio eleitoral do marido.


ZERO TRÊS – Eduardo: ele ainda sonha em concorrer ao Palácio do Planalto (Juan Mabromata/AFP)

Poucos dias antes de ser decretada sua prisão domiciliar, no início de agosto,
Bolsonaro ouviu de um de seus principais conselheiros que o desfecho do
processo era irreversível: ele ia ser condenado, ficaria preso por longos anos e
estaria fora da eleição de 2026. O diagnóstico parece óbvio, mas são poucos os
que conseguem ter uma conversa franca com o ex-presidente. O interlocutor foi
objetivo. Sem garantias de que o projeto de anistia que tramita no Congresso
será amplo ao ponto de beneficiá-lo, o mais racional seria apostar no futuro,
elegendo no ano que vem um aliado que se comprometesse a indultá-lo. Vários
cenários foram apresentados a Bolsonaro. Um deles, considerado pelo
interlocutor como ideal, trazia o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), como candidato à Presidência e Michelle como vice. Pesquisas
colocadas sobre a mesa mostravam que essa chapa teria possibilidades de vencer
as eleições com alguma folga. Separados, a situação seria um pouco menos
confortável. Num eventual segundo turno com Lula, Tarcísio venceria a disputa,
enquanto Michelle abriria uma pequena vantagem em relação ao petista. O fato
é que, para alguém que nunca disputou um cargo, o resultado é surpreendente.

ZERO UM - Flávio: o senador deve se candidatar à reeleição no Rio de Janeiro (Mauro Pimentel/AFP)

Diferentes institutos de pesquisas colocam Tarcísio e Michelle pareados numa
corrida ao Planalto e indicam uma situação curiosa: a ex-primeira-dama tem
maior rejeição, mas, ao mesmo tempo, é mais conhecida do que o governador do
estado mais importante do país. A Atlas/Bloomberg, por exemplo, apontou que
Tarcísio marcaria 48,4% sobre 46,6% do presidente Lula em um eventual
segundo turno, enquanto a ex-primeira-dama registrou 47,9% das intenções de
voto, tecnicamente empatada com o petista. A Quaest dá a vitória ao atual
mandatário, enquanto Tarcísio e Michelle marcam 35% e 34% das intenções de
voto, respectivamente. Já o Paraná Pesquisas, instituto contratado pelo PL para
fazer suas avaliações internas, coloca a ex-primeira-dama ligeiramente à frente
do petista, enquanto o governador empata. A possibilidade de uma chapa com
Tarcísio e a ex-primeira-dama, ao menos por enquanto, é uma especulação
politicamente difícil de se materializar, mas a performance de Michelle nas
pesquisas tem servido como trunfo ao marido, despertado a atenção de certos
setores da sociedade e provocado algumas intrigas entre aqueles que disputam o
controle do espólio do ex-presidente.

Os filhos de Jair Bolsonaro têm ambições políticas, interesses distintos e contam
com o aval e a popularidade do pai para seus projetos pessoais. O
deputado Eduardo Bolsonaro, que se autoexilou nos Estados Unidos, questionou
publicamente o fato de não constar entre os possíveis candidatos à Presidência
no levantamento feito pelo Paraná Pesquisas e ameaçou até trocar de partido
para disputar a eleição — diante da provável prisão caso retorne ao país, ele diz
que faria uma campanha virtual. Interlocutores do PL, porém, garantem que foi
o próprio Jair Bolsonaro quem fez a indicação dos nomes que seriam avaliados.
O filho Zero Um, Flávio Bolsonaro, também ficou de fora — um levantamento
recente apontou que ele lidera a corrida para a reeleição ao Senado, o que tende
realmente a ser o seu caminho no próximo pleito. O filho Carlos, o Zero Dois,
vereador pelo Rio de Janeiro, estuda mudar o domicílio eleitoral para Santa
Catarina e disputar uma vaga no Senado, enquanto o Zero Quatro, Jair Renan,
vereador em Balneário Camboriú (SC), pensa em se arriscar a uma vaga na
Câmara dos Deputados. A ex-primeira-dama entra nesse jogo de poder em uma
situação privilegiada.

ZERO DOIS - Carlos: mudança de domicílio eleitoral para Santa Catarina (Evaristo Sa/AFP)

Recentemente, o representante de um banco tentou organizar um encontro com
Michelle para tratar de assuntos políticos. A proposta foi rejeitada, sob a
alegação de que a pessoa correta a ser procurada seria o ex-presidente.
Cuidadosa, Michelle evita qualquer movimento que possa indicar que o marido
já é página virada ou que ela estaria agindo à revelia dele. “Eu prefiro ser
primeira-dama”, costuma repetir, quando questionada sobre o futuro. O plano,
pelo menos até agora, é que ela concorra a uma vaga ao Senado por Brasília.
Como presidente do PL Mulher, Michelle organizou os 27 diretórios do seu
partido, gerou um boom de filiações e de eleições femininas na última disputa
municipal e criou um programa chamado Alicerça Brasil, para dar capacitações
políticas básicas às mulheres e estimulá-las a se engajar na política. Ela planeja a
partir de novembro botar o pé no acelerador e, até agosto do próximo ano,
chegar a 2 850 municípios e mobilizar quase 350 000 “alicerçadas” — mas,
garante, isso nada tem a ver com campanha eleitoral. “As mulheres ainda
batalham para ocupar mais espaços na política. As ameaças às nossas famílias
avançam, a inflação sobe, os desafios comunitários crescem e a pergunta ecoa:
como fazer a diferença? Sozinhas, a jornada é muito árdua. Mas juntas, em
pequenas reuniões cheias de propósito, podemos construir algo sólido, algo mais
duradouro”, diz trecho da cartilha distribuída pela ex-primeira-dama.

ZERO QUATRO - Jair Renan: o vereador vai tentar vaga na Câmara dos Deputados (@bolsonaro_jr/Instagram)

Michelle viaja em voos de carreira cercada por sua equipe de auxiliares e
seguranças e já recebeu a orientação de passar a usar um colete à prova de balas.
A preocupação vem acompanhada do endurecimento do discurso dela. Diante de
uma plateia lotada, já chamou o presidente Lula de “pinguço”, afirmou que seu
governo “das trevas” é a favor “da morte desde o ventre das mães” e até fez troça
com um auxiliar calvo, chamando-o de “careca do bem”, numa clara referência
a Alexandre de Moraes. “Vamos orar para que esse espírito da mentira saia da
nossa nação”, afirmou durante um evento em Campina Grande (PB) no fim de
julho. A ex-primeira-dama transferiu seu domicílio eleitoral para o Distrito
Federal, dentro do plano de concorrer ao Senado. Michelle não é afeita a
entrevistas. VEJA perguntou a ela como avalia o bom desempenho nas
pesquisas, se cumpriria uma missão dada por Bolsonaro de disputar a
Presidência e sobre as dificuldades de uma mulher evangélica ingressar na
política. Em nota, ela respondeu que a religião não a atrapalha, mas, sim, ajuda a
“ter a paciência e a força necessárias para superar todas as dificuldades” e que o
resultado dos levantamentos eleitorais confirma a força do nome de Bolsonaro,
“um líder imbatível na próxima eleição” e perseguido “com tanto ódio”. “Eu
costumo dizer que a minha vida — o meu presente e o meu futuro — está
sempre nas mãos do meu Amado Deus. Se for da vontade d’Ele, todas as coisas
contribuirão para essa eventual missão, inclusive um pedido do Jair”, concluiu.
O jogo já começou, mas a bola ainda está sob os pés do ex-presidente.

 

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