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quarta-feira, 26 de novembro de 2025
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‘Os Estados Unidos estão copiando o Brasil. É inacreditável’, diz Marcos Lisboa

Entrevista com
Marcos Lisboa
É sócio-diretor da Gibraltar Consulting. Foi secretário de Política Econômica e presidente do Insper

Para economista, política adotada por Trump vai reduzir a produtividade dos EUA; ele diz também que impacto do tarifaço sobre o Brasil será ‘pior do que as pessoas estão imaginando’

O economista Marcos Lisboa avalia que o impacto do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as exportações do Brasil será “pior do que as pessoas estão imaginando”. “Desorganiza algumas cadeias produtivas”, afirma.

Ex-secretário de Política Econômica, Lisboa diz que as políticas de Trump se assemelham às do Brasil — que mantém uma economia fechada — e aponta que o governo brasileiro não deveria adotar nenhum pacote de socorro aos setores da iniciativa privada afetados pelo tarifaço.

“No Brasil, o setor privado é muito curioso. Quando eles estão pressionados, pedem ajuda do governo. E quando passa a pressão, não querem pagar imposto. Foi assim com o Perse, foi assim na covid. Acho que a regra do Brasil deveria ser não ajudar o setor privado”, afirma Lisboa, sócio-diretor da Gibraltar Consulting.

A seguir, leia os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Qual será o impacto do tarifaço dos Estados Unidos?

Acho que é pior do que as pessoas estão imaginando, porque desorganiza algumas cadeias produtivas no Brasil. E vai ser igualmente prejudicial para os Estados Unidos. O Brasil optou no passado por ser uma economia fechada. No nosso caso, construir pontes de superação desse problema vai ser mais difícil.

E quais caminhos o governo brasileiro pode adotar?

O primeiro passo é o Brasil ser uma economia aberta. O Brasil quer negociar com os países ou prefere ficar refém desse tipo de ameaça? A nossa opção por ser uma economia fechada torna a gente mais refém desse tipo de retaliação.

O presidente Lula deveria ligar para o Trump?

Não vou entrar nisso. Isso é coisa para diplomata.

“Economia americana vai pagar um preço elevado. Ela vai perder produtividade. Vai deixar de ter engenheiro na costa Oeste fazendo software para montar geladeira e televisão”

E quais as consequências para a economia dos Estados Unidos com o tarifaço global?

A economia americana vai pagar um preço elevado. Ela vai perder produtividade. Vai deixar de ter engenheiro na costa Oeste fazendo software para montar geladeira e televisão. É uma perda de produtividade grande que a economia americana vai sofrer por adotar essas práticas mercantilistas semelhantes às que a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) defendeu durante décadas e que o Brasil adotou.

Os EUA estão virando o Brasil, então?

Os Estados Unidos estão copiando o Brasil. É inacreditável.

E quando fica evidente essa perda de produtividade dos EUA e os impactos na economia?

Isso demora, isso toma tempo. É um processo lento de você tirar investimento de setores produtivos e levar para setores deficientes. Olha o caso do Brexit. Quanto tempo demorou para começar a aparecer nos dados que a Inglaterra ficou mais pobre depois da saída da Comunidade Europeia? Isso tem quase uma década.

Mas como o sr. vê a negociação do governo brasileiro?

Outros países negociaram diferente do Brasil. O Brasil optou por uma agenda mais de defesa de posições. Outros países foram negociar. O Brasil tem uma dificuldade, porque, há décadas, é um país que adota práticas semelhantes às que o governo americano está propondo hoje. O Brasil não quis fazer acordo com os Estados Unidos há 25 anos, se recusou a completar o Mercosul e adota uma série de políticas protecionistas tarifárias e não tarifárias. É um dos países mais fechados ao comércio internacional e que adotou várias políticas ilegais. Vamos lembrar do Inovar Auto. A gente não tem muito lugar de fala nessa história. Se alguém quiser pegar um país como exemplo de práticas anticomércio internacional assemelhadas às que o governo Trump faz, é só olhar para o caso brasileiro.

‘No Brasil, o setor privado é muito curioso. Quando eles estão pressionados, pedem ajuda do governo. E quando passa a pressão, não querem pagar imposto’

Que tipo de pacote o governo deveria apresentar aos setores prejudicados?

Nenhum pacote. No Brasil, o setor privado é muito curioso. Quando eles estão pressionados, pedem ajuda do governo. E quando passa a pressão, não querem pagar imposto. Foi assim com o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), foi assim na covid. Acho que a regra do Brasil deveria ser não ajudar o setor privado. Eles são ótimos para pedir ajuda governamental e são péssimos para pagar tributos.

Corremos o risco de ver a indústria ou alguns setores saindo dessa confusão toda mais protegidos?

Acaba ficando. Como ficou o Perse, a desoneração da folha?

E, de forma geral, como avalia o atual momento da economia brasileira?

Vejo com preocupação. Vejo como via o Brasil de 2013. É uma economia que desacelera. Os sinais de problemas contratados são grandes. Isso ainda não aparece nos indicadores macroeconômicos, mas os sinais estão aí.

É um cenário parecido com uma crise tão severa como a do segundo governo Dilma? O setor privado, por exemplo, não está tão alavancado como no passado.

O setor privado está menos alavancado do que estava lá atrás. O governo se endividou menos do que no caso da Dilma e se comprometeu menos com subsídios. Agora, a trajetória é parecida.

(Estadão) Por Luiz Guilherme Gerbelli

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