24.3 C
Rio Branco
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
O RIO BRANCO
Política

Procuram-se governistas no União Brasil, o partido mais infiel da base de apoio a Lula

O presidente Lula conversa com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), durante evento da Marcha dos Prefeitos, em Brasília – Gabriela Biló – 20.mai.25/Folhapress

Dirigentes e líderes manifestam oposição em público, enquanto ala alinhada é mais discreta

Ranier Bragon
Brasília

O União Brasil controla três ministérios na gestão Lula (PT), mas é o partido da coalizão que mais tem protagonizado episódios de infidelidade ao governo.

Foi o que proporcionalmente mais assinou requerimentos da oposição recentemente, firmou uma federação com o PP em tom de oposição, protagonizou o episódio da recusa a convite para ministério, deixando o governo em situação vexatória, e se alinhou à oposição publicamente para derrubar a proposta de aumento de impostos trabalhada pelo ministro Fernando Haddad.

Toda essa movimentação incluiu entrevista coletiva contra Lula no Salão Verde da Câmara, ato que se somou a entrevistas de dois de seus principais dirigentes, Antonio Rueda e Antonio Carlos Magalhães Neto, com críticas ao petista e acenos ao bolsonarismo.

Quem são e onde estão, então, os governistas do União Brasil?

Além de analisar dados sobre as votações no Congresso, a Folha ouviu nas últimas semanas integrantes da legenda, que tem 60 deputados federais, sete senadores e quatro governadores.

De forma praticamente unânime, eles apontaram como principais pontes hoje com Lula o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o ministro do Turismo, Celso Sabino, o deputado federal e ex-ministro de Lula (Comunicações) Juscelino Filho (MA), e, em menor grau, o líder da bancada na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA).

Com base nas principais votações de 2025 realizadas no plenário da Câmara até o início do mês, foi possível ainda identificar três deputados do partido —Meire Serafim (AC), Damião Feliciano (PB) e Daniela do Waguinho (RJ)— que votaram em mais de 80% das vezes a favor do governo.

Eles também não assinaram nenhum dos recentes requerimentos da oposição: os de urgência para votação do projeto da anistia ao 8 de Janeiro e os de criação de CPIs para apurar o escândalo do INSS.

A reportagem procurou todos esses políticos, de Alcolumbre a Daniela do Waguinho, diretamente e/ou por meio de suas assessorias. Apenas Daniela e Juscelino se manifestaram abertamente em apoio direto a Lula.

“Fui ministra, sou vice-líder do governo no Congresso Nacional e aliada ao presidente Lula”, disse Daniela, que foi ministra de Lula por pouco mais de seis meses, tendo sido substituída por Sabino em 2023.

“Tem partido que entrega 100% dos votos, mas isso representa cinco ou seis votos”, disse Juscelino. “O que realmente importa, na prática, são os votos absolutos, que de fato contam para aprovar ou barrar projetos, e nisso o União Brasil é um dos que mais contribui com o governo na Câmara. Ao longo desses dois anos e meio, em várias votações, entregamos 30, 40, até 50 votos, só ficando atrás do PT.”

Ele diz ver com naturalidade divergências em um partido grande e que é resultado de fusão, mas afirmou que a sigla não tem dono e que o União Brasil não é de oposição.

“Há uma ala mais à direita, principalmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mas também temos uma base sólida no Norte e Nordeste, com forte afinidade com o governo e com lideranças ligadas ao presidente Lula.”

Pedro Lucas, o líder da bancada, adotou um discurso mais ao centro. “É natural que, em um partido desse porte, haja divergências pontuais, e isso, para mim, é uma demonstração de vitalidade democrática”, afirmou.

Sobre o governo, disse que a postura da bancada é de apoio no que considera bom e de independência quando há a avaliação de que algo precisa ser corrigido.

“A interlocução com o Executivo existe, como deve existir com qualquer governo, mas sempre com base no diálogo, na responsabilidade fiscal e no respeito ao papel do Parlamento”, afirmou.

Pedro Lucas protagonizou o episódio de recusa ao convite para ser ministro das Comunicações dias após ter sido anunciado pelo governo.

A ida do parlamentar para a vaga de Juscelino Filho —denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) sob acusação de desvio de emendas parlamentares— resultou em um motim interno no União Brasil, o que motivou o recuo.

Os demais políticos apontados como governistas no partido não quiseram se manifestar.

Alcolumbre é hoje o principal elo com Lula, apadrinhando indicação de ministros e dirigentes de estatais, além de influenciar outras esferas do governo.

Já a ala oposicionista não tem se furtado a se expressar publicamente.

Em entrevistas ao jornal O Globo, Rueda, presidente do partido, disse que Lula não faz entregas e se enfraquece dia a dia. Na entrevista coletiva que comandou no Salão Verde da Câmara, afirmou que “a escalada de desequilíbrio fiscal, criada pelo atual governo, entrou em uma rota sem saída” e que “taxar, taxar, taxar, não pode e não será nunca a saída”.

ACM Neto, primeiro vice-presidente, afirmou também em entrevista não ver sentido em o União Brasil ocupar cargos sendo que não estará com Lula em 2026.

Já o governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), pré-candidato do partido à Presidência, disse: “Eu tenho 40 anos na vida pública, sou o mais antigo opositor ao PT no Brasil, nunca mudei de lado. A maior certeza que temos no Brasil hoje é que em 2026 nós vamos derrotar o Lula”.

“O União Brasil é um partido hoje independente, mas obviamente existem deputados que estão mais ligados ao governo, não posso dizer quem são, mas que existem, existem. Aqui na Câmara são minoria”, disse o deputado Leur Lomanto Júnior (União Brasil-BA).

Em meio a esse clima, a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), responsável pela articulação política do governo, chamou Rueda e Lucas Fernandes para um almoço no mês passado.

Em entrevista à Folha, embora não tenha citado nomes, a ministra reconheceu que parte da atual base de Lula não estará com ele em 2026.

O União Brasil tem como origem a Arena, o partido da ditadura militar. Já se chamou PFL e DEM e sempre se manteve ao lado do PSDB na oposição a Lula e ao PT. Com a recente ascensão do bolsonarismo, se fundiu ao PSL (pelo qual Jair Bolsonaro havia sido eleito em 2018) em 2021 e assumiu a atual nomenclatura.

A aproximação com Lula se deu pelas mãos de Alcolumbre e do antigo presidente da legenda, Luciano Bivar, que acabou perdendo o posto para Rueda, um antigo auxiliar.

Em abril, o União Brasil anunciou uma federação com o PP. Além deles, a base de Lula mais à direita é composta por PSD, MDB e Republicanos.

*Com informação da Folha de São Paulo

Compartilhe:

Artigos Relacionados

Após urgência, governo traça plano para tentar barrar PL da Anistia

Jamile Romano

89% dos brasileiros acreditam que tarifaço de Trump vai prejudicar a economia, segundo Datafolha

Jamile Romano

Dino determina que PF investigue conduta de Bolsonaro durante pandemia

Kevin Souza

Moraes determina suspensão parcial da ação do golpe contra Ramagem

Raimundo Souza

Ala do governo Lula teme novas armadilhas do Congresso após acordo sobre emendas

Raimundo Souza

Ministros mantêm tendência de condenar Bolsonaro após argumentos da defesa no STF

Raimundo Souza