DE OLHO - Zema, Caiado e Ratinho Jr.: candidatos a herdar eleitores à direita (André Santos/ABCZ/Divulgação)
Pesquisa mostra que, apesar da polarização, mais de um terço da população não se identifica nem com o petismo nem com o bolsonarismo
Em que pesem as dificuldades crescentes que enfrentam, Lula e Bolsonaro
vêm reafirmando, com palavras e ações, que pretendem disputar a eleição no
ano que vem. O voluntarismo com que se articulam para isso, no entanto,
contrasta com a vontade do eleitorado, que exibe sinais cada vez mais claros de
que é crescente a fadiga com os dois políticos que lideraram a polarização
recente no país. Segundo pesquisa Quaest de junho, dois em cada três
brasileiros defendem que nem o presidente nem o ex-presidente devem se
candidatar novamente (veja o quadro).
O levantamento mostra ainda uma fragmentação ideológica do eleitorado, mas
chama atenção para o fato de que mais de um terço não se identifica nem com
o petismo nem com o bolsonarismo. Entre os que admitem ter
posicionamento ideológico, 38% afirmam que são de direita ou de esquerda,
mas nem lulistas nem bolsonaristas — um contingente que abre caminho para
alternativas, tanto à direita quanto à esquerda.

APOSTA - Michelle: segundo Bolsonaro, ex-primeira-dama “não é bolsonarista” (Beto Barata/PL//)
No campo da direita, a crescente pulverização do eleitorado é vista com
otimismo misturado com cautela. A mesma Quaest animou os possíveis
presidenciáveis ao mostrar que todos cresceram, em relação à rodada anterior,
como opções caso Bolsonaro não seja candidato — hoje ele está inelegível. Três
deles aparecem empatados tecnicamente com Lula em um eventual segundo
turno: os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ratinho Jr. (Paraná) e
Eduardo Leite (Rio Grande do Sul). Outros dois governadores, Ronaldo Caiado
(Goiás) e Romeu Zema (Minas Gerais), se mostraram competitivos contra o
petista.
A movimentação desse grupo, embora ainda discreta, é crescente. O que impede
esses postulantes de avançarem, por enquanto, é justamente a advertência do
ex-presidente de que é ele o candidato — com isso, nenhum postulante a
herdeiro dos votos da direita se animou a comprar briga com o seu maior
representante. Mesmo com a restrição, o fato de a maior fatia do eleitorado não
querer Bolsonaro candidato foi vista como mais uma sinalização de que a
largada poderá ser dada em breve. Talvez em razão desse cenário, Bolsonaro
causou uma certa surpresa na semana passada ao dizer que a ex-primeira-dama
Michelle Bolsonaro, que pode ser apoiada por ele ao Planalto, “não é
bolsonarista”. “Não existe bolsonarista. Tem conservador, direita. Sempre
existiu, mas não tinha uma forma. Nós demos uma forma a esse pessoal”,
afirmou.

Se no campo da direita os grandes motivos para o eleitor descartar Bolsonaro
talvez sejam a sua inelegibilidade e os seus problemas com a Justiça, à
esquerda o problema é o próprio desempenho de Lula em seu terceiro
mandato. A desaprovação ao seu governo chegou a 57% em maio, o maior
índice do atual governo. Escândalos como o do INSS não ajudam, reconhecem
aliados, que avaliam, no entanto, que ainda há muito que pode ser feito para
mudar a imagem da gestão, sobretudo em um contexto em que não há nomes
competitivos na esquerda.
O cenário atual lembra um pouco o que se viu em 2022, quando se apostou na
chamada “terceira via”. Nomes como João Doria, Sergio Moro e Ciro Gomes
tentaram se viabilizar batendo na tecla “nem Lula, nem Bolsonaro”, mas não
conseguiram — Simone Tebet foi a melhor do centro no primeiro turno, com
4% dos votos. Até por isso, as simulações de segundo turno da última pesquisa
precisam ser vistas com cautela. A leitura é a de que o desempenho de um
candidato no embate direto na rodada final de votação não demonstra seu
próprio potencial, mas é fruto da rejeição ao outro. “O eleitor não quer Lula
nem Bolsonaro, mas não existe príncipe encantado”, avalia Murilo Hidalgo,
diretor do Paraná Pesquisas. É verdade que as sondagens recentes mostram a
insatisfação com a polarização e o desgaste dessas lideranças, mas será
enorme o desafio dos postulantes em se viabilizar politicamente e, sobretudo,
convencer o eleitorado a testar outras alternativas à direita ou à esquerda.
Fonte: VEJA

