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sábado, 19 de abril de 2025
O RIO BRANCO
Política

Em julgamento no STF, Bolsonaro repete tática que o levou à derrota em 2022

Atualizada em 05/04/2025 07:46

Foto: Bolsonaro acompanha seu julgamento ao lado de Celso Vilardi, advogado considerado técnico
Imagem: Gustavo Moreno/STF

Jair Bolsonaro gastou R$ 8 milhões com advogados e ouviu conselhos para não criticar a Justiça durante o julgamento no STF. Transformado em réu, o ex-presidente fez o contrário.

Reuniu a imprensa e ofendeu os ministros do
Supremo.

O que aconteceu

A atitude de Bolsonaro repete o que aconteceu na eleição de 2022. Seja na
corrida eleitoral, seja no julgamento no STF, existe uma bipolaridade entre os
aliados que cercam o ex-presidente.

São duas alas divergentes fazendo pressão para Bolsonaro adotar caminhos
completamente opostos:

Ala técnica: pragmática, sugere não melindrar a relação com os ministros;

Ala ideológica: defende mobilizar a militância e enfrentar o STF.

Vilardi já defendeu petista no mensalão e empreiteira na Lava Jato
Imagem: Letícia Casado – 25.mar.2025/UOL

O lado que assopra

Bolsonaro deu uma guinada na sua defesa quando contratou o advogado
Celso Vilardi. Considerado um dos principais criminalistas do país, ele tem no
currículo atuações no mensalão (Delúbio Soares) e na Lava Jato (construtora
Andrade Gutierrez).

Recorrer a um profissional deste gabarito sinalizou adotar uma estratégia
técnica. Haveria disposição de enfrentar o STF no campo jurídico, mas sem
aderir à retórica bolsonarista. Um exemplo desta tática foi a defesa prévia de
Vilardi ter explorado supostas falhas no processo e nas investigações da PF
(Polícia Federal).

Vilardi também agregou à defesa de Bolsonaro o chamado “trânsito” com
o STF. Na prática, o termo se refere a um advogado com facilidade para ser
recebido por ministros do Supremo. O acesso facilita expor os argumentos da
defesa.

Cabe ressaltar que Vilardi sempre vai sozinho ao Supremo. Nos encontros,
ele nunca está acompanhado dos outros defensores do ex-presidente, muitos
destes, aliás, afeitos a repetir as declarações do ex-presidente.

A escolha de Vilardi sugeria uma atitude comedida de Bolsonaro. A
presença dele no primeiro dia do julgamento e o comportamento equilibrado
durante toda a sessão refletiam esta orientação. Era uma decisão política, mas
tinha como intenção também mostrar o suposto respeito do ex-presidente pelo
Judiciário.

Posicionado entre Bolsonaro e Flávio, o advogado Paulo Cunha Bueno acompanha o cliente em ataque ao STF
Imagem: Maria Eduarda Bacellar – 26.mar.2025/UOL

O lado que morde

Bolsonaro assistiu ao segundo dia do julgamento no gabinete de Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Foi o senador quem sugeriu a contratação de Vilardi, Foi para o gabinete dele que o advogado se dirigiu depois que o julgamento acabou.

Mas o ex-presidente desceu para falar com a imprensa acompanhado de outro defensor. Paulo Cunha Bueno, que não é refratário ao espírito combativo e agressivo de Bolsonaro, ficou imediatamente atrás do cliente.

Junto à dupla, estavam parlamentares bolsonaristas raiz. Deputados e
senadores têm uma proposta antissistema, perfil combativo e apreço por likes
nas redes sociais a partir de ofensas a adversários.

Cunha Bueno assistiu inerte ao ex-presidente entrar no “modo
cercadinho”. Foi uma sequência de teorias conspiratórias e críticas às urnas
eletrônicas, à Polícia Federal e aos ministros do STF, justamente o grupo que
definirá o futuro do processo.

Alexandre de Moraes foi o maior alvo. O ministro é acusado de comandar o
que os bolsonaristas batizaram de “ditadura da toga”. O ex-presidente atribuiu
ao ministro do STF o fato de estar longe do filho Eduardo Bolsonaro e dos
netos —o deputado abandonou o Brasil para morar nos Estados Unidos.

Ciro Nogueira declarou que Bolsonaro perdeu as eleições por causa de frases erradas durante a campanha
Imagem: Isac Nóbrega/PR

Repeteco das eleições

A alternância de comportamentos ameaça invalidar a defesa jurídica técnica. O esforço para transmitir equilíbrio cai por terra quando Bolsonaro faz discursos mercuriais contra o STF. Só no dia em que virou réu, foram dois.

O momento político é outro, mas o cenário é igual ao das
eleições. Durante a tentativa de um segundo mandato, Bolsonaro tinha dois
núcleos. Ambos defendiam ações opostas.

O núcleo político tinha como prioridade controlar a língua de Bolsonaro. A
intenção era evitar discurso contra as vacina de covid-19, desmerecer os
esforços de enfrentamento ao coronavírus e acabar com falas machistas e
ofensivas às mulheres.

Este tipo de conselho era ainda mais enfatizado em dias de debates na
TV. Os principais representantes do núcleo político eram os então ministros
Fábio Faria (PP-RN) e Ciro Nogueira (PP-PI). Passada a eleição, este último
disse que Bolsonaro perdeu por causa de frases inapropriadas.

O núcleo ideológico pregava o contrário. Seus integrantes reforçavam que o
então candidato deveria se opor ao sistema. O conselho abria margem para
falar mal das urnas, das vacinas e da Justiça e incentivava a declarações
falsas. Diversas vezes Bolsonaro falou que os cachorros estavam extintos na
Venezuela porque a população comeu seus animais de estimação de tão
famintos que estavam por causa do comunismo implantado no país.

Acabou em derrota. Ele ficou 2,1 milhões de votos atrás de Lula e se tornou o
primeiro presidente a não obter a reeleição no Brasil.

*Com informações do UOL

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