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Queda de avião com 12 mortos em Rio Branco completa um ano com investigação ainda em aberto

Atualizada em 29/10/2024 11:28

Por volta das 7h20 do dia 29 de outubro de 2023, a aeronave modelo Caravan levantava voo na pista do Aeroporto Internacional de Rio Branco, rumo à Envira (AM). Um minuto depois, o veículo da A.R.T. Táxi Aéreo caiu em uma área de mata, explodiu e deixou os 12 ocupantes mortos

Na aeronave, estavam, além do piloto e do copiloto, mais seis homens, três mulheres e uma criança de 1 ano e 7 meses. Após a queda, o avião explodiu, deixando todas as vítimas carbonizadas. A maioria dos passageiros estava no Acre para tratamento de saúde e voltava à Envira e Eirunepé, onde o voo também faria uma parada naquele domingo.

Nesta terça-feira (29), a tragédia completa um ano e a apuração do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) segue em andamento. Segundo o Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), a investigação está em 55%.

Ainda conforme o Cenipa, não há um prazo para a conclusão de relatórios sobre acidentes aéreos e o tempo necessário depende de cada caso.

“A necessidade de descobrir todos os fatores contribuintes garante a liberdade de tempo para a investigação. A conclusão de qualquer investigação conduzida pelo SIPAER terá o menor prazo possível dependendo sempre da complexidade do acidente”, diz o órgão.

Acidente e identificação dos corpos

O voo que caiu em Rio Branco era particular, da empresa ART Taxi Aéreo, e decolou de Rio Branco com destino a Envira, no Amazonas. A aeronave modelo Caravan tinha capacidade para até 14 pessoas e caiu por volta das 7h21 no horário local (9h21 em Brasília), logo após a decolagem. O percurso ainda incluía uma parada em Eirunepé (AM).

Esta foi a maior tragédia aérea do Acre desde o acidente da Rico, que matou 23 pessoas em 2002 em Rio Branco.

Após o Departamento da Polícia Técnico-Científica esgotar todas as técnicas possíveis de identificação, e por conta do estado em que os corpos ficaram, os restos mortais tiveram que passar por extração de DNA, protegido dentro dos ossos. Trata-se de um trabalho minucioso, que passa por diferentes etapas e que é necessário para que seja concluída a identificação dos corpos das vítimas.

Esse tipo de procedimento requer tempo, além de não ter espaço para erros. Por isso, é impossível definir uma previsão para que seja concluído. Inclusive, passado 1 ano da tragédia, uma delas não conseguiu ser identificada por meio desta técnica.

O g1 teve acesso a esse trabalho feito no Instituto de Análises Forenses (IAF) para entender como é feita essa identificação. Mônica Paêlo, perita criminal do Laboratório de Genética Forense, explica que o estado em que os corpos se encontram era o maior desafio do processo.

“Os corpos foram carbonizados e o processo de carbonização foi intenso e isso se torna um desafio para a gente conseguir ter acesso ao material genético, o DNA, e poder processar essa amostra para identificação. Essa é uma das amostras com maior grau de dificuldade que a genética forense encontra”, detalhou na época.

Vale lembrar que em ato simbólico, por conta do processo minucioso de identificação, uma urna com as cinzas do local do acidente foram levadas para Envira (AM), onde houve um velório coletivo para as vítimas daquela cidade.

O mesmo aconteceu no caso do copiloto paraense Kleiton Lima Almeida. Como o corpo ainda não havia sido identificado para ir junto com o do piloto Cláudio Atílio Mortari, uma urna com cinzas do local do acidente foi levada para que as famílias pudessem se despedir, já que os dois eram da mesma cidade, Itaituba.

No fim de dezembro de 2023, dois meses após o acidente, o Instituto Médico Legal (IML) de Rio Branco finalizou os trabalhos de análise de DNA sem conseguir chegar à identificação de Francisco Eutimar Bernardo de Souza, que seguia em investigação.

De acordo com o diretor-geral do Departamento da Polícia Técnico-Científica, Sandro Martins, mesmo com a utilização de amostras de DNA de parentes de Francisco Eutimar, não foi possível identificar material genético dele nos fragmentos de corpos analisados.

Status da investigação

O caso é investigado pelo Sétimo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa VII). E até a última atualização, pouco mais da metade da análise já havia sido concluída.

A produção do relatório está na fase de análise de componentes e sistemas da aeronave, desempenho técnico e aspectos psicológicos que envolveram o acidente.

‘Espera sem fim’

Tereza Barbosa é prima de Francisco Eutimar Bernardo de Souza e tia de Francisco Alexsander Barbosa Bezerra, dois entre os 12 mortos da tragédia. Um ano após o acidente, ela lembra que foi a última pessoa da família que falou pessoalmente com eles, em sua casa na capital acreana.

No sábado anterior à queda do avião, dia 28, ela fez um almoço e chamou os dois parentes, que eram do interior do Amazonas e estavam de passagem em Rio Branco. Eutimar foi a única vítima que o Instituto Médico Legal (IML) não conseguiu identificar entre os corpos carbonizados resgatados do local do acidente.

Pouco antes do embarque, Alexsander falou com a mãe, Nazaré Barbosa, e disse que logo estaria em casa.

“Hoje eu já chorei muito porque está completando um ano que eles dois almoçaram aqui comigo, o Eutimar e o Alexsander. Eu fui a última pessoa da família que teve contato com eles dois. No caso, eles chegaram aqui no sábado e eu fiz o almoço para eles. Foi justamente no dia 28 de outubro que eles almoçaram comigo. E foi a última vez que eu vi meu sobrinho e meu primo, infelizmente. Essas coisas acontecem. Você vê que de lá para cá já caíram muitos aviões, muitas pessoas já perderam seus familiares também. E é muito triste você ficar esperando uma pessoa chegar, você falar com ela… no caso, eu falei com o Alexsander, ele saiu do hotel para ir ao aeroporto. Você ficar esperando a pessoa chegar na sua casa e ela nunca chegar, que nem no caso do meu sobrinho, nunca mais vai chegar na casa dele”, relata.

De acordo com o diretor-geral do Departamento da Polícia Técnico-Científica, Sandro Martins, mesmo com a utilização de amostras de DNA de parentes de Francisco Eutimar, não foi possível identificar material genético dele nos fragmentos de corpos analisados.

Ainda conforme Martins, a família teria que pedir a declaração de morte presumida, procedimento legal que atesta o falecimento de vítimas de acidentes cujos corpos não foram encontrados após encerramento de buscas e posterior declaração oficial das autoridades de que não foi possível reconhecê-las ou localizá-las.De acordo com Tereza, o processo iniciado pela família de Eutimar ainda está aberto e não foi concluído. Conforme apurado pelo g1, o processo tramita no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM).Ela lembra que Eutimar tinha um filho com dois meses de vida à época do acidente, e que a família precisa do documento para buscar os direitos da criança.“Se eu pudesse fazer um pedido, eu pediria para as autoridades competentes que acelerassem esse processo do pedido de atestado de óbito dele, para ver se a família dele consegue requerer os direitos que ele tinha. E o filho dele também tem [direitos], é uma criança de um ano. É muito triste”, declara.

Até a última atualização desta reportagem, o g1 não tinha tido acesso ao andamento do processo.

As vítimas do acidente são:
Kleiton Lima Almeida (copiloto), de 39 anos, nasceu e morava em Itaituba, no sudoeste do Pará. Ele tinha se tornado pai há um mês, segundo a irmã, Gardeny Lima;
Antônia Elizângela era natural de Envira, no Amazonas. Segundo nota divulgada pela prefeitura do município, ela era pecuarista.
Jamilo Motta Maciel, de 27 anos, era dentista e morava em Eirunepé;
Raimundo Nonato Rodrigues de Melo, de 32 anos, morava em Eirunepé. Ele era dentista e estava na capital acreana para fazer um curso;
Francisco Alexsander Barbosa Bezerra, de 29 anos. Também de Eirunepé, ele trabalhava como vigilante de carro forte e deixa uma filha de 7 anos;
José Marcos Epifanio, de 46 anos. Natural de Envira, ele era irmão de Antônio Cleudo, que também morreu no acidente, e empresário do ramo de combustíveis.
Clara Maria Vieira Monteiro (filha) e Ana Paula Vieira Alves, de Eirunepé. A mãe tinha 19 anos e a criança, 1 ano e 7 meses.
Cláudio Atílio Mortari (piloto) – Ele era natural de São Paulo, mas também morava em Itaituba, no Pará. De acordo com trabalhadores da empresa, Cláudio morava no Pará desde a década de 80;
Edineia de Lima – Servidora do município de Envira, segundo nota divulgada pela prefeitura do município;
Antônio Cleudo Mattos – Natural de Envira, no Amazonas, tinha 46 anos. Era irmão de José Marcos, e também era empresário do ramo de combustíveis;
Francisco Eutimar Bernardo de Souza – Ele era natural de Eirunepé, no Amazonas, e tinha 32 anos.

 

[G1]

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