24.3 C
Rio Branco
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
O RIO BRANCO
BrasilGeral

Uma trégua, não um acordo

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva  (Andrew Caballero-Reynolds / AFP | Ricardo Stuckert/Divulgação)

Eduardo Bolsonaro perde o monopólio do acesso à Casa Branca e tensões entre Brasil e EUA podem desescalar

(Por Thomas Traumann – VEJA)

A ‘química’ dos 39 segundos da promessa de encontro futuro entre os
presidentes Donald Trump e Lula da Silva na sala de espera do auditório da
Organização das Nações Unidas não foi acidental. Nas semanas anteriores,
como revelou o repórter Felipe Frazão, do Estadão, houve uma intensa
operação diplomática para desescalar a tensão entre os dois países.

No dia 11, o vice-presidente Geraldo Alckmin, conversou por videoconferência
com o representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Jamieson Greer.
No dia 15, o assessor especial de Trump Richard Grenell veio a Brasília,
incógnito, para uma conversa com o ministro das Relações Exteriores, Mauro
Vieira. No mesmo período, como informou a Folha, Trump recebeu na Casa
Branca uma comitiva liderada pelo empresário Joesley Batista, maior acionista
da JBS, holding que controla as maiores indústrias de carne bovina e de frango
tanto nos EUA como no Brasil.

O muro erguido pela dupla Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo foi
desmantelado, mas o que se pode esperar de uma reunião Trump-Lula? A
resposta mais honesta é uma trégua, não um acordo.

Passados dois meses desde que Trump decretou uma sanção de 50% sobre
produtos importados do Brasil (incluindo os hambúrgueres e nuggets da JBS),
há um consenso de fracasso na Casa Branca. Levados a Trump
pelo conselheiro sênior do Departamento de Estado para o Hemisfério
Ocidental, Ricardo Pita, ex-assessor do senador Ted Cruz, Eduardo Bolsonaro e
Paulo Figueiredo previram que a pressão americana iria dividir o STF,
mobilizar manifestações nas ruas e forçar o Congresso a aprovar uma anistia
ampla para beneficiar Jair Bolsonaro.

Fora da mente fantasiosa de Eduardo e Figueiredo, mesmo sob ameaça da Lei
Magnitsky, os ministros do STF condenaram Bolsonaro, as ruas se encheram
contra a anistia e o Congresso titubeia em reduzir as penas dos líderes da
tentativa de golpe. A aprovação do governo Lula subiu e a elite empresarial e
política tenta aproveitar a condenação para forçar Bolsonaro a indicar de uma
vez o seu candidato em 2026. A mensagem que o encarregado de negócios da
embaixada dos EUA em Brasília repete diariamente aos seus chefes é que é
preciso outra estratégia.

Com Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo sem o monopólio do acesso a
Trump, existe uma possibilidade razoável de a pauta sair da questão Bolsonaro
para pontos palpáveis. A arte de recuar sem parecer que está recuando é uma
marca de Trump.

De acordo com três fontes do governo americano, a oferta será a inclusão da
carne e do café na lista das exceções à tarifa de 50%. É improvável a retirada
das sanções da Magnitsky sobre Alexandre de Moraes e sua família.

Do lado brasileiro deve haver a oferta de redução das tarifas de importação de
etanol (hoje em 18%) e a abertura para investimentos americanos na
mineração de terras raras e datacenters. Para o governo Lula, a taxação das
plataformas digitais e um recuo na regulação das redes sociais são tabu.
É visível o temor dos assessores no Palácio do Planalto com os rumos da
conversa entre os dois presidentes. Trump já humilhou o
ucraniano Volodymyr Zelensky, fez uma emboscada para o sul-africano Cyril
Ramaphosa e massacrou o colombiano Gustavo Petro com uma postagem no
X.

Como disse realisticamente o governador Tarcísio de Freitas em um seminário
com empresários, “(Trump) é um presidente que vive da economia da atenção.
Que gosta de se sentar com o chefe de Estado, botar um chefe de Estado
sentado lá dentro e dizer: ‘Olha, consegui uma vitória’. E ele está querendo
colecionar vitórias. Então, por que não entregar algumas vitórias?”.

É impossível imaginar Lula, que fez da soberania nacional o eixo da sua
campanha pré-eleitoral, disposto a sair como perdedor. Por isso, um acordo é
difícil, mas pode haver uma redução de danos.

 

 

Compartilhe:

Artigos Relacionados

Parque Ambiental Chico Mendes estará aberto durante o feriado de 1º de maio

Marcio Nunes

Acre será representado no Congresso Internacional de Música em Portugal

Raimundo Souza

Valor do diesel aumenta frete rodoviário e vai pesar no preço dos alimentos; entenda

Raimundo Souza

Escavações do Complexo Viário da Avenida Ceará avançam e servidores participam de visita guiada

Redacao

Quem apostar contra Petrobras vai perder dinheiro, diz presidente de estatal

Raimundo Souza

Duas frentes frias devem trazer chuvas intensas ao Acre no início de outubro, diz meteorologista

Kevin Souza