Conheça a história de Fernando Baia, que veio de Rio Branco para estudar Medicina no interior de São Paulo
Por Priscilla Vierros | BAND
A história de Fernando Baía, 23 anos, poderia ser lida como a de tantos jovens brasileiros que sonham em vestir o jaleco branco. Mas, no caso dele, há uma diferença fundamental: a determinação que o tirou da fronteira do Acre com a Bolívia e o trouxe até a Universidade Anhembi Morumbi, em São José dos Campos, interior de São Paulo, atravessando fronteiras, idiomas, sistemas de ensino e burocracias que fariam muitos desistirem no meio do caminho.
Nascido em Rio Branco, Fernando concluiu o ensino médio aos 16 anos. Filho de um bombeiro militar, cresceu com a certeza de que seria médico. “Meu pai é um homem que salvou vidas e que me inspirou desde pequeno”, lembra. A dificuldade estava em como chegar lá. No Acre, as possibilidades são mais restritas e, por isso, resolveu traçar um caminho já tão natural para os jovens da região Norte: estudar Medicina na Bolívia.
Mudou-se para Cobija, capital do departamento de Pando, na Bolívia. O desafio começou no primeiro dia: novo país, novo idioma, nova cultura. “Tive dificuldade com o espanhol no começo, mas nunca pensei em desistir. Eu queria ser médico”, conta.
Ali, viveu uma rotina intensa de estudos e práticas. A faculdade boliviana seguia método tradicional, com forte carga horária e uso de peças anatômicas reais conservadas em formol, algo cada vez mais raro no Brasil. “A base é muito parecida. Anatomia é igual no mundo todo”, diz.
No entanto, após concluir o oitavo semestre, algo mudou. A vontade de voltar para o Brasil cresceu, junto com a percepção de que ele precisava buscar melhores oportunidades acadêmicas e científicas. “O Brasil tem tecnologia, tem SUS, tem pesquisa, tem ligas e diretórios estudantis. Isso não existe na Bolívia da mesma forma”, afirma.
A transição não seria simples: estudantes formados ou em formação no exterior são considerados estrangeiros e passam por trâmites específicos para transferência. Fernando passou semanas pesquisando até encontrar a prova de transferência externa para estrangeiros. Foram 120 questões, concorrência de cerca de 300 candidatos para apenas 30 vagas e ele conseguiu. “Foi um dos dias mais importantes da minha vida.”
No Brasil, o choque foi mais positivo do que difícil. Fernando mergulhou em ligas acadêmicas, extensão universitária, projetos de pesquisa e voluntariado. Encantou-se pela pesquisa básica, revisão sistemática e metanálise e pela possibilidade de produzir ciência. No laboratório e nas salas de simulação, com bonecos de alta fidelidade e pacientes simulados, encontrou um mundo que não existia em sua primeira formação na Bolívia. “Isso faz muita diferença na segurança do aluno na hora de atender de verdade.”

Hoje, já no internato, Fernando vive o que sempre sonhou: rotina hospitalar, contato com pacientes, aprendizado acelerado e a sensação de estar cada vez mais perto de se tornar médico.
Mas sua história não é apenas sobre ele. Fernando abriu caminhos. Agora acompanha os próprios irmãos gêmeos, que também retornaram da Bolívia e estão iniciando Medicina em São Paulo. Para quem pensa em seguir o mesmo trajeto, ele deixa um conselho direto: “Se dedicar. Estudar muito. Entender os trâmites. E, principalmente, saber o que você quer. A Medicina exige isso.”
A palavra que define Fernando é determinação. Foi ela que o levou a cruzar fronteiras, que o manteve firme diante do idioma novo, do método tradicional, da saudade de casa e da burocracia para retornar ao Brasil. É ela que sustenta seus dias de internato e que inspira outros estudantes a acreditarem que, mesmo quando o caminho não é óbvio, existe sempre uma forma de chegar lá. Fernando é a prova viva de que o sonho da Medicina não escolhe geografia, mas exige coragem e persistência de quem decide realizá-lo.

