A presença inesperada do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do comentarista político Paulo Figueiredo gerou desconforto entre empresários brasileiros que participam de missão oficial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em Washington (EUA). O grupo, com cerca de 130 integrantes, tenta reverter as tarifas de até 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, mas viu a pauta ser desviada por questões políticas.
A informação foi publicada pela colunista Mariana Sanches, do portal UOL.
Café da manhã fora da agenda e clima tenso
Na manhã desta quinta-feira (4), Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo foram vistos conversando com um empresário no café do hotel onde parte da comitiva está hospedada. O encontro, segundo Figueiredo, foi organizado por “cinco empresários”, sem ligação com a CNI. A Abipesca, entidade setorial que representa a indústria da pesca, negou qualquer participação.
“Não faz sentido dizer quem são, não vamos expor”, disse Figueiredo, afirmando ainda que Eduardo Bolsonaro teria pedido previamente a lista de participantes antes de aceitar o convite, o que não foi atendido.
Críticas entre empresários e clima de constrangimento
A presença de Eduardo Bolsonaro causou mal-estar entre membros da delegação. Empresários ouvidos pela reportagem — sob anonimato — se disseram surpresos e constrangidos.
“Não foi ele quem criou o problema? Agora aparece para vender solução?”, questionou um representante do setor industrial do Sudeste. Outro descreveu a situação como “estranhíssima”.
Eduardo e Figueiredo têm atuado junto ao ex-presidente Donald Trump, pedindo sanções contra o Brasil em troca de pressão internacional por anistia a Jair Bolsonaro e seus aliados. A carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, justificando o tarifaço com base em decisões do STF e ações contra Bolsonaro, ecoa o discurso do grupo.
CNI tenta blindar missão contra interferência política
O presidente da CNI, Ricardo Alban, afirmou que a delegação foi montada com foco estritamente empresarial, sem inclusão de políticos ou representantes do governo federal. Até técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) foram deixados de fora.
“Eu sei que a CNI não convidou [Eduardo], mas não sei se alguém o fez por relação pessoal”, declarou Alban. Segundo ele, a visita foi pensada para não repetir a “agenda política” de senadores brasileiros que estiveram em Washington semanas antes.
Para os EUA, política vem antes dos negócios
Apesar do esforço para manter o foco econômico, a dimensão política dominou as reuniões oficiais da missão. A delegação foi recebida por autoridades dos Departamentos de Estado e Comércio e pelo USTR (Escritório do Representante Comercial dos EUA).
O ex-diretor-geral da OMC e atual consultor da CNI, Roberto Azevêdo, afirmou que a carta de Trump foi mencionada várias vezes. “Ficou claro que a política é prioridade para eles. Sem isso resolvido, não haverá avanço nas tarifas”, relatou.
Segundo Azevêdo, os representantes americanos não deixaram claras suas prioridades econômicas em relação ao Brasil. “Eu perguntei diretamente: quais são as áreas de maior interesse? E a resposta foi vaga”, disse.
Propostas brasileiras na mesa
Mesmo diante do cenário tenso, a CNI apresentou três frentes de proposta para ampliar o diálogo econômico com os EUA:
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Exploração de minerais críticos, como terras-raras;
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Cooperação no mercado de etanol e combustíveis sustentáveis de aviação (SAF);
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Instalação de data centers no Brasil com energia renovável.
“É um governo que pensa fora da caixinha. Nós também temos que pensar”, comentou Alban.
Conclusão: política contamina missão empresarial
A visita de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, sem vínculo com a agenda oficial da CNI, acabou se tornando o episódio mais comentado da viagem. O constrangimento causado entre os empresários evidencia as dificuldades de dissociar interesses comerciais e disputas políticas em um momento delicado para a relação Brasil–EUA.

