Katrina Golden, proprietária da Lil Mama’s Sweets & Treats, recebeu um email na última primavera (outono no Brasil) da empresa chinesa que fornece seus copos de café de papel personalizados. Tarifas estavam a caminho, dizia o email. Se ela fizesse um pedido em grande quantidade imediatamente, poderia garantir o preço atual de US$ 225 por caixa.
“Eu teria adorado”, disse Golden, cuja cafeteria e confeitaria opera dentro de um hospital no centro de Augusta, no estado da Geórgia (EUA). Mas como proprietária de um pequeno negócio, ela não tinha esse tipo de dinheiro extra. “Meu orçamento não permitiria.”
Por todo o país, empresas, trabalhadores e famílias estão tentando descobrir como navegar pelas ondas econômicas provocadas pelas políticas de tarifas, impostos e orçamento do presidente Donald Trump. Para grandes empresas com grandes saldos bancários, trabalhadores estabelecidos em um emprego e famílias próximas ao topo da escala de renda, será mais fácil administrar as drásticas mudanças políticas.
Mas pequenos empresários como Golden, assim como pessoas em busca de emprego e famílias nos níveis mais baixos e médios da escala de renda, enfrentarão um caminho mais difícil.
Empresas menores, por exemplo, não apenas têm menos recursos para enfrentar custos inesperados, mas também carecem do poder de barganha de megalojas como Walmart para pressionar fornecedores a reduzir preços. Elas também podem não ter acesso a linhas de crédito disponíveis para empresas maiores.
Nem podem pagar por contratos de longo prazo que podem manter os custos baixos. Doug e Betsy Scheffel, donos da ETM Manufacturing, uma oficina de fabricação de chapas metálicas e máquinas sob medida em Littleton, precisam comprar alumínio e aço no mercado à vista. Desde que tarifas de 50% foram aplicadas sobre esses metais importados, seus custos dispararam.
“Não sei como montar um plano de negócios que faça sentido para alguém”, afirmou Scheffel. Muitos de seus clientes também não sabem, e têm adiado ou reduzido pedidos.
Legrand Lindor, proprietário da LMI Textiles, uma pequena empresa de suprimentos médicos e fabricação em Milton, Massachusetts, afirmou que agora não apenas tinha que lidar com o aumento de preços, mas seus fornecedores também esperavam que ele administrasse as alfândegas, impostos e taxas.
Tanto ele quanto Scheffel são membros do Small Business for America’s Future, um grupo sem fins lucrativos em Washington que tem reclamado sobre políticas tarifárias imprevisíveis. A organização também se preocupa com uma dívida nacional crescente, cortes em programas de saúde dos quais pequenas empresas e suas famílias dependem, e cortes de impostos que beneficiam grandes corporações de forma desproporcional.
Scheffel disse que reduziu sua equipe em antecipação às diminuições federais nos gastos com saúde, porque eles não poderão pagar pelo seguro que ele oferece nem pelo plano público de Massachusetts.
O aumento de custos também está afetando Golden. No geral, ela calcula que o custo de seus suprimentos e ingredientes —farinha, papel manteiga, guardanapos, pratos de papel, garfos, manteiga, açúcar, cream cheese, especiarias, filme plástico— aumentou de 20% a 25% desde janeiro.
Golden tem um estoque de pequenos copos de café para aproximadamente 60 dias, disse a comerciante. Ela espera que o preço de uma caixa suba de US$ 225 para US$ 300 ou US$ 400 em seu próximo pedido.
E não são apenas itens fabricados no exterior. As embalagens tipo concha para fatias individuais de bolo vêm de uma empresa americana. Em janeiro, uma caixa com 500 unidades custava US$ 55; agora custa US$ 69. Um pacote de 5 libras (2,27 kg) de grãos de café de uma torrefadora local em Augusta custa US$ 63, acima dos US$ 55 cobrados anteriormente. E com uma nova tarifa de 50% sobre o Brasil, um dos maiores exportadores de café, ela espera que os preços subam ainda mais.
Custos mais altos e imprevisibilidade estão repercutindo no mercado de trabalho. “Eu contrataria mais duas pessoas hoje se soubesse que poderia pagar para mantê-las”, comentou Golden, que emprega quatro pessoas. Mas com mudanças políticas bruscas, “como você planeja?”
As empresas, em sua maioria, não estão cortando empregos, mas também não estão abrindo novos. E os trabalhadores, mesmo aqueles com a sorte de ter posições seguras, estão cautelosos. Pesquisas mostram que uma faixa maior está optando por permanecer em seus empregos em vez de arriscar e mudar de empregador.
“Os empregadores estão meio que suspendendo as contratações”, avaliou Daniel Hornung, pesquisador sênior do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que foi conselheiro econômico do presidente Joe Biden. “Não há muita movimentação no mercado de trabalho.”
No momento, os consumidores enfrentam uma taxa tarifária efetiva média geral de 18,6%, de acordo com o Yale Budget Lab, acima dos 2,4% em janeiro.
Ryan Sweet, economista-chefe da Oxford Economics, escreveu em um boletim que, sob as políticas comerciais e prioridades orçamentárias do presidente, consumidores de alta renda estão indo bem, mas famílias de renda mais baixa estão tendo dificuldades.
A Oxford estimou que as famílias entre os 20% que ganham menos na escala de renda verão sua arrecadação disponível real diminuir de 2,5% a 3% devido aos preços mais altos causados por tarifas e cortes em programas sociais e de saúde. Generosos cortes de impostos para os americanos mais ricos significam que a renda do quinto superior aumentará na mesma proporção.
O aperto está dando as caras na Lil Mama’s. A receita líquida semanal de Golden costumava ser em média de US$ 2.500 a US$ 3.000. Recentemente, ela tem lutado para fazer US$ 2.000. Se algo não mudar nos próximos três meses, ela disse, terá que aumentar os preços. Entre US$ 0,50 a US$ 1 a mais em uma pequena xícara de café de US$ 3; já uma fatia de cheesecake ou de bolo de pudim de banana subirá de US$ 3 para US$ 5. “Se falharmos…é isso. Não há plano B”, desabafou Golden.
[FOLHA DE SÃO PAULO]