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quarta-feira, 24 de dezembro de 2025
O RIO BRANCO
Política

O pior emprego. De novo

Publicado em 12/10/2025

Fernando Haddad, ministro da Fazenda // (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Por Thomas Traumann da (VEJA)

Vitória da oposição na Câmara obriga Haddad a buscar R$ 30 bilhões para fechar as contas do ano que vem

Em um evento no Itaú no mês passado, o ministro Fernando Haddad fez
uma provocação: “Muito ao contrário do que dizem que eu ocupo o pior
emprego do mundo, eu acho um dos melhores. A Fazenda é um lugar muito
incrível”, ironizou, numa referência ao meu livro sobre as agruras do cargo de
ministro da Fazenda. Depois de a Câmara dos Deputados deixar caducar a
medida provisória 1303, que assegurava arrecadação de R$ 30 bilhões no ano
que vem, é possível que Haddad mude de ideia.

Depois da derrota na quarta-feira, dia 8, o ministro cancelou a viagem para os
encontros anuais do FMI, Banco Mundial e G20, marcadas para a semana que
vem nos EUA, para entregar possivelmente na quarta-feira, dia 15, ao
presidente Lula da Silva as alternativas para impedir o rombo no orçamento.

Em circunstâncias similares nos quase três anos como ministro da Fazenda,
Haddad sempre dobrou a aposta: arranjou outro instrumento jurídico para
reeditar as medidas rejeitadas pelo Congresso, recorreu ao STF e
contingenciou emendas parlamentares.

O fato é que o governo Lula não vai desistir. “Eu vou reunir o governo para
discutir como é que a gente vai propor que o sistema financeiro, sobretudo as
fintechs, que tem fintechs hoje maior do que bancos, que elas paguem o
imposto devido a esse país”, disse Lula em entrevista à Piatã FM, da Bahia.

A medida mais urgente é a reedição da norma que limita as possibilidades de
uso de créditos de compensações tributárias, que rendia quase R$ 1 bilhão por
mês aos cofres da União. O artigo estava na MP 1303 e não sofria resistências
no Congresso. Pela lei, quando uma MP é rejeitada não se pode reenviar as
mesmas propostas por medida provisória, mas como a 1303 sequer foi votada,
há um debate jurídico se é possível apenas repetir o texto. O governo pode
insistir em MP, enviar projetos de lei, baixar normas da Receita ou editar
decretos.

Além de compensação tributária e fintechs, o cardápio do Ministério da
Fazenda inclui mais IOF, o aumento via decreto dos impostos sobre bets e o
fim dos papeis isentos LCA e LCI. Mais do que arrecadação, o governo quer
constranger os congressistas a votarem a favor das bets, bancos e mercado
financeiro, dentro da narrativa de que está protegendo os mais pobres e o Congresso, os mais ricos. Ou na declaração em tom eleitoral do ministro da
Fazenda, depois da MP 1303 caducar:

“O lobby dos privilegiados prevaleceu no Congresso (no caso da MP 1303). Não
foi descuido, foi escolha. A escolha consciente de tirar direitos dos mais pobres
para proteger os privilegiados. De blindar os mesmos amigos de sempre e
forçar cortes contra aqueles que mais precisam do Estado. Escolheram sabotar
o equilíbrio fiscal e o povo para tentar prejudicar o governo Lula, que trabalha
todos os dias para proteger nossa economia e os direitos dos trabalhadores.”

No mês que vem, o governo deve anunciar o corte e contingenciamento de R$
7 bilhões a R$ 10 bilhões de emendas parlamentares, seguindo a regra fiscal
que permite congelamento quando há frustração de receita.

Na quarta-feira, minutos depois de a Câmara enterrar a MP 1303, o ministro
do STF Cristiano Zanin anunciou que vai colocar para votação o recurso do
governo contra a continuidade das isenções da desoneração da folha de
pagamento para 17 setores. Em setembro de 2024, Lula da Silva sancionou a
lei mantendo a desoneração da folha, retomando gradualmente até 2027,
depois de duas votações no Congresso a favor das empresas.

Em fevereiro deste ano, a Advocacia-Geral da União enviou uma manifestação
ao STF estimando um risco de prejuízo de R$ 20 bilhões por conta da
desoneração. Segundo a AGU, as medidas de compensação da desoneração se
mostraram insuficientes.

O futuro confronto entre governo e oposição no Congresso será a votação da
Lei de Diretrizes Orçamentárias, adiada depois da derrota da MP 1303 para a
próxima quinta-feira, dia 16. O relatório do deputado Gervásio Maia (PSB)
obriga o governo a pagar todas as emendas parlamentares PIX e emendas para
as áreas de saúde e assistência social ainda no primeiro semestre de 2026. Isso
dá entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões. O governo, óbvio, é contra a medida
porque perde assim seu principal mecanismo de negociação parlamentar.

 

 

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