O Ensino Médio tem sido, há anos, um dos principais desafios da educação pública no Acre. Os indicadores preocupantes nesse nível de ensino não são novidade, nem se limitam ao estado. Dados recentes divulgados pela organização Todos Pela Educação voltaram a destacar o Acre entre os estados com menor desempenho no ensino em tempo integral, em um cenário nacional que já apresenta dificuldades históricas.
Um dos momentos mais marcantes dessa crise ocorreu em 2016, durante o governo do então presidente Michel Temer. Naquele ano, os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) revelaram o pior desempenho já registrado no Ensino Médio, o que provocou uma reação imediata do então ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho. Sem muito debate com os educadores, uma medida provisória foi enviada ao Congresso propondo a implementação urgente do ensino integral, tratada quase como uma solução definitiva para o problema.
Essa decisão repentina levou os estados a se adequarem rapidamente, assumindo o ônus de oferecer alimentação, currículo ajustado, equipe técnica e infraestrutura adequada, muitas vezes sem planejamento prévio. Na prática, a urgência do governo federal se tornou responsabilidade direta das redes estaduais de ensino.
Mesmo diante desses desafios, o Acre conseguiu apresentar avanços significativos. De acordo com o secretário estadual de Educação, Aberson Carvalho, o número de escolas que oferecem ensino em tempo integral mais que dobrou, e o número de estudantes atendidos por esse modelo teve um crescimento superior a 200%. Ainda assim, ele reconhece que o desafio é grande, especialmente em um estado onde esse formato ainda não é culturalmente consolidado.
Outro fator relevante nesse debate é a falta de sensibilidade, por parte da legislação federal, às diferenças regionais do Brasil. A diversidade geográfica, social e econômica do país exige estratégias adaptadas à realidade de cada localidade. Em áreas urbanas com infraestrutura consolidada, os resultados do ensino integral tendem a ser mais positivos. No entanto, em regiões com limitações estruturais, como ocorre em parte do Acre, a implementação desse modelo enfrenta obstáculos maiores.
Além disso, há o impacto socioeconômico a ser considerado. Muitos jovens precisam trabalhar para ajudar no sustento da família, o que dificulta a permanência em jornadas escolares estendidas. Essa realidade contribui para um dado alarmante: 82% dos brasileiros entre 18 e 24 anos não estão matriculados no ensino superior, o que reflete, em grande parte, questões ligadas à renda familiar.
É importante destacar que, embora os números apresentados pelo Todos Pela Educação sejam relevantes, eles precisam ser analisados dentro de um contexto mais amplo, evitando conclusões apressadas ou injustas.
Por fim, vale lembrar que as dificuldades enfrentadas no Ensino Médio muitas vezes são consequência de problemas não resolvidos no Ensino Fundamental e nos anos iniciais da educação básica. Ainda não há plena garantia de acesso à escola para crianças e adolescentes de 4 a 17 anos em todo o país. Entre o sexto e o nono ano, as deficiências são ainda mais visíveis. Sem resolver esses entraves na base do sistema, é difícil esperar avanços consistentes nos anos finais da educação básica, o que acaba penalizando professores, alunos e os próprios gestores públicos.

