24.3 C
Rio Branco
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
O RIO BRANCO
BrasilGeral

Não é só no Brasil: por que o dólar perde valor no mundo todo?

Tarifaço de Trump derruba cotação do dólar no mundo todo
Imagem: Reprodução/X @realDonaldTrump

(Wanderley Preite Sobrinho e Alexandre Novais GarciaDo UOL, em São Paulo)

O dólar vem se desvalorizando no Brasil desde o começo do ano, mas os motivos têm menos a ver com a economia brasileira e mais com uma estratégia do próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que derruba a cotação da moeda americana em todo o mundo a fim de reduzir a dívida e reindustrializar o país.

O que aconteceu
Depois de o dólar bater em R$ 6,26 em dezembro do ano passado, o cenário mudou. Na sexta (26), a moeda americana fechou em R$ 5,33, queda de 13,7% desde o primeiro pregão de 2025, quando fechou em R$ 6,18.

Mas a política econômica brasileira tem pouco a ver com essa queda. Entre dezembro de 2024 e este mês, a valorização do real foi explicada por fatores externos, principalmente a desvalorização do dólar no resto do mundo, indica um modelo matemático desenvolvido pelos pesquisadores associados do FGV Ibre Samuel Pessoa e Lívio Ribeiro, também sócio da BRCG Consultoria. O modelo analisa a variação do dólar em três fatores: cenário global, cenário doméstico e diferença entre os juros no Brasil e nos EUA.

Internamente, os juros em 15% ao ano mantêm o dólar sob controle. A maior taxa
Selic desde 2006 atrai investimento estrangeiro, que enche a economia de dólares e
valoriza o real. “É atrativo trazer recursos para o Brasil, onde se consegue 15% ao ano
de rendimento”, diz Otávio Oliveira, do banco Daycoval.

No resto do mundo, o dólar também cai. A moeda americana perdeu força em 24 das
27 grandes economias, com destaque para o rublo, da Rússia: -24,2% até 24 de
setembro. Na Zona do Euro, a queda foi de 11,4%, enquanto o peso mexicano
desvalorizou 11,3%, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta.

O dólar também derrapa quando comparado a seis das moedas mais fortes do
mundo. A queda em relação a euro, iene, libra, dólar canadense, coroa sueca e franco
suíço foi de 10,6% neste ano, segundo o sistema DXY, índice criado em 1973 para
medir a força do dólar, que havia substituído sua vinculação ao ouro pelo câmbio
flutuante. O valor base do DXY é 100: acima desse número, o dólar está valorizado;
baixo, está desvalorizado. Em 2025, a queda foi de 109,6 para 97,9, o menor nível
desde fevereiro de 2022 (96,6), em plena pandemia.

A valorização do ouro em relação ao dólar também dispara. Seu valor saltou 32%
em um ano, de US$ 2.500 a onça (31,1035 gramas) em agosto de 2024 para US$ 3.300
no mês passado. O metal é considerado um porto seguro para investidores, que
compram mais quando o dólar enfraquece.

Além disso, o mundo vem diminuindo as reservas em dólar. Elas atingiram US$
12,5 trilhões no primeiro trimestre de 2025, com 57,7% em dólar. Em 2015, as reservas
eram de US$ 15,5 tri (corrigido pela inflação dos EUA), com participação de 64,8% do
dólar, segundo o FMI. “Os bancos centrais estão reformulando suas políticas de
reserva, olhando para ativos diferentes, como o ouro”, diz o economista Jorge Ferreira
dos Santos Filho, professor de Administração da ESPM.

Dólar fraco é estratégia de Trump

Presidente dos EUA, Donald Trump
Imagem: Ken Cedeno/Reuters

O enfraquecimento do dólar este ano é atribuído a uma estratégia do próprio presidente dos EUA: o tarifaço. As sobretaxas impostas a produtos de centenas de países “geraram grande incerteza nos mercados globais, afetando o sentimento de risco e contribuindo para a desvalorização da moeda”, diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

Idealizado por Trump ainda na campanha presidencial, o tarifaço pretende atrair investimentos. A ideia é que as sobretaxas substituam a Ásia pelos EUA como destino de matéria-prima para bens industrializados. Para Oliveira, do Daycoval, a política de América em primeiro lugar é para que os EUA mudem um pouco do que acontece no mundo desde a década de 1970, quando a China desenvolveu políticas para o setor, assumiu o protagonismo de potência industrial e se abriu para o comércio internacional.

“Trump estaria por meio dessa política tarifária desvalorizando o dólar em relação a outras moedas para promover um ambiente mais favorável ao investimento produtivo dentro dos EUA.”

-Otávio Oliveira, economista

Para Trump, os déficits comerciais prejudicam a economia americana, e um dólar mais fraco ajudaria a corrigi-los. A intenção é aumentar as exportações e reduzir as importações, explica Shahini.

De fato, déficits seguidos na balança comercial vêm enfraquecendo a moeda americana. Isso acontece porque mais dólares deixam os EUA para bancar as importações. O déficit americano, de US$ 73,1 bilhões em junho do ano passado, quase dobrou em nove meses, chegando a US$ 140,5 bilhões em março deste ano. No mês seguinte, Trump anunciou o tarifaço, reduzindo as importações e derrubando o déficit para US$ 61,5 bilhões em abril. O último balanço divulgado indica rombo de US$ 78,3 bilhões em julho, um mês antes da elevação das sobretaxas do tarifaço.

Com as novas tarifas, a inflação também persiste nos EUA, desvalorizando o dólar. A inflação mensal subiu para 0,2% entre julho e outubro do ano passado. Quando Trump foi eleito, em novembro, a inflação foi a 0,3%, a 0,4% em dezembro e a 0,5% em janeiro, segundo o Bureau of Labor Statistics. Desde então, ela varia entre 0,3% e 0,4% ao mês, o que obrigou o Fed a manter a taxa de juros inalterada até este mês, quando cortou 0,25 ponto percentual porque o desemprego aumentou. A meta da inflação nos EUA é de 2% em 2025, mas em 12 meses está em 2,9%, acima dos 2,7% de julho.

O dólar será substituído?

Apesar da instabilidade do dólar, ele continuará a moeda que movimenta o mundo. “Cerca de 50% das exportações mundiais são faturadas em dólares, em comparação com 30% em euros e menos de 3% em yuan chinês. Nos sistemas de pagamentos, cerca de 45% das transações são em dólar”, diz Thiago Costa Azevedo, sócio da Guardian Capital. “Existe uma vasta predominância do dólar.”

Prédio do Federal Reserve, o Banco Central dos EUA
Imagem: traveler1116/iStock

O gigante mercado de títulos americano absorve aplicações de países, bancos e
empresas. “Já na área comercial, tem havido diversificação mais rápida”, pondera
Antonio Corrêa de Lacerda, professor de pós-graduação em Economia da PUC-SP e
ex-presidente do Conselho Federal de Economia.

Nem a ameaça de o Brics criar uma moeda comum assusta. “Não tem a mínima
chance de aparecer uma moeda que se contraponha ao dólar. Isso não seria
conveniente a ninguém, nem aos chineses”, diz Paulo Feldman, professor da Fia
Business School, sobre o bloco liderado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
“A China tem cerca de US$ 5 trilhões aplicados no tesouro americano. Ela não vai
querer ter problemas com o dólar.”

Como fortalecer o real?

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o presidente Lula
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Para o real depender menos dos humores do dólar, “é preciso um crescimento
do PIB acima do crescimento da dívida”, diz o professor da PUC. Em julho, a
dívida do setor público consolidado atingiu R$ 9,6 trilhões, 77,6% do Produto Interno
Bruto, segundo o Banco Central.

Mas o problema não é do déficit primário, quando o governo gasta mais do que
arrecada. “Esse déficit é muito pequeno, apenas 0,3% do PIB”, afirma o professor
Paulo Feldmann. O que realmente faz a dívida crescer, explica ele, é o pagamento
anual de juros. “Este ano, os juros da dívida somarão R$ 1 trilhão, quase 8% do PIB. É
isso que aumenta a dívida”, diz ele sobre o chamado déficit nominal, considerado um
dos maiores do mundo. O governo é responsável por pagar esses juros aos
investidores que compram títulos públicos.

“Todo mundo que compra título público a 15% ao ano [taxa Selic] quer receber. Quem paga isso é o governo federal.”

-Paulo Feldmann, professor

Compartilhe:

Artigos Relacionados

Governo do Acre regulamenta Política Estadual de Proteção e Atenção Integral aos Órfãos e Órfãs de Feminicídio

Raimundo Souza

Porto Velho (RO): Léo Moraes ganha a eleição no segundo turno com 56,28% dos votos.

Raimundo Souza

Festas juninas 2025: temporada começa no fim do mês de junho

Raimundo Souza

Ação letal no Rio pode dar voto e reposicionar direita para eleições de 2026

Raimundo Souza

Ufac abre 80 vagas para Medicina em Vestibular com Bônus Regional

Raimundo Souza

Polícia Civil do Acre realiza palestra sobre racismo estrutural na administração pública para servidores do Estado

Redacao