O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal alterou a rotina da família. Michelle Bolsonaro, que normalmente passa as manhãs na sede do PL em Brasília, decidiu permanecer em casa para preparar o almoço do marido. Na terça-feira, ambos acompanharam juntos o voto do ministro Alexandre de Moraes, em clima de indignação.
À noite, Flávio Bolsonaro se juntou aos pais. Segundo ele, além do apoio político, a visita também teve caráter afetivo. O senador contou que procura estar presente sempre que possível para dar suporte emocional ao pai, que, de acordo com suas palavras, estava “muito irritado” com as acusações.
O clima de tensão aproximou ainda mais Michelle de Carlos e Jair Renan. Os dois, que em outros tempos mantinham um relacionamento distante com a madrasta, passaram a frequentar livremente a casa da família. Relatos indicam que ambos choraram em diversas ocasiões, recebendo de Michelle acolhimento e escuta.
O desgaste da ex-primeira-dama com Alexandre de Moraes já vinha de antes. No 7 de Setembro, durante manifestação na avenida Paulista, ela chegou a planejar um discurso contundente contra o ministro, mas, emocionada com o público que a aclamava, acabou chorando no carro de som. A cena, vista por aliados como expressão genuína de dor de mãe e esposa, acabou fortalecendo sua imagem junto à militância.
Nos bastidores, entretanto, Michelle não conteve críticas. Para ela, o voto de Moraes foi injusto e baseado em interpretações equivocadas. Bolsonaro também se mostrou revoltado. Flávio afirmou que o pai considerava a acusação frágil e sem provas que ligassem sua gestão ao 8 de Janeiro ou ao chamado plano Punhal Verde Amarelo. O senador avaliou que a condenação, apesar de dar força política ao ex-presidente, cobra um preço alto: “Ele está preso em casa, é uma sacanagem sem tamanho”.
O voto do ministro Luiz Fux trouxe algum alívio à família, que comemorou o tom técnico da decisão. Michelle chegou a postar nas redes sociais um agradecimento à coerência e à justiça. Ainda assim, comentou com pessoas próximas que o gesto não mudava o resultado final.
As revistas policiais também se tornaram motivo de incômodo. Michelle se mostrou irritada com abordagens à filha Letícia Firmo, maior de idade, mas ainda muito ligada à mãe. Já Laura, filha mais nova do casal, reviveu traumas da infância, quando acompanhou a facada sofrida por Bolsonaro em 2018. O barulho das rondas policiais e a pressão no ambiente escolar voltaram a despertar nela inseguranças antigas.
Durante as tardes, Michelle manteve sua rotina no PL, em encontros com mulheres conservadoras e amigas de oração. Esses momentos de convivência e fé serviram de alívio em meio à semana conturbada.
Ela também recebeu apoio inesperado. Uma caixa de doces enviada por Candida Becker, confeiteira de Porto Alegre, chegou justamente no dia da condenação. O gesto de amizade foi compartilhado nas redes sociais da ex-primeira-dama e impulsionou as vendas da pequena empresa gaúcha, que enfrentava dificuldades no inverno.
Na sequência, o vereador coronel Ustra, ligado ao PL e parente do ex-chefe do DOI-Codi, também presenteou Michelle com outra caixa de doces. Pouco depois, veio a confirmação: a maioria dos ministros do STF acompanhou Alexandre de Moraes, e Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão.
Em suas redes sociais, Michelle reagiu com um tom religioso: “Há um Deus no céu que tudo vê, que ama a justiça e odeia a iniquidade”.

