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quarta-feira, 26 de novembro de 2025
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Malafaia diz que igreja se uniu em torno dele, mas não é bem assim; entenda

Silas Malafaia foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal na quarta-feira (20)
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Alvo de operação da Polícia Federal na última quarta-feira (20), Silas Malafaia tem
afirmado que a investigação uniu os evangélicos em torno dele. Para políticos e
lideranças de diferentes igrejas ouvidos pelo UOL, esse apoio ao pastor não é
homogêneo.

O que aconteceu

Lideranças de grande representatividade no meio evangélico continuam em
silêncio. É o caso do bispo Edir Macedo, da igreja Universal, e do apóstolo Valdemiro
Santiago, da Mundial do Poder de Deus. Eles têm uma relação histórica de embates
que envolve disputas de poder. Malafaia passou a ser investigado pela PF no inquérito
que apura tentativa de obstruir o processo da trama golpista.

Por outro lado, Malafaia recebeu cartas de apoio em 17 de agosto, dias após ser
revelada a investigação. “Além de ser um cidadão que deve ter seus direitos
garantidos, é uma liderança cristã-evangélica nacionalmente reconhecida, uma voz
profética para o nosso tempo. Defender o direito do pastor é defender a liberdade e o
direito de todos”, diz trecho de uma das notas em defesa do líder da Assembleia de
Deus Vitória em Cristo.

Ao todo, mais de 25 lideranças assinaram o texto. Entre os signatários estão
Teófilo Hayashi, pastor na Zion Church, e Felippe Valadão, da Novos Começos (era
Lagoinha de Niterói, mas brigas familiares e até judiciais teriam causado a mudança do
nome).

Na semana passada, outra nota de repúdio circulou em redes sociais e
grupos. Esta era assinada por líderes com mais representatividade no meio, como
o pastor Claudio Duarte, do Ministério Projeto Recomeçar, o apóstolo Estevam
Hernandes, da Renascer em Cristo, e o bispo Abner Ferreira, da Assembleia de Deus
Madureira. Nos perfis dos dois últimos, entretanto, não há comentários a respeito da
investigação.

Os críticos apontam que os apoios a Malafaia não são voluntários, mas sim por
pressão. Um integrante da bancada evangélica classificou o pastor, reservadamente
ao UOL, como “leão sem dente” e disse que ele teria provocado a investigação da
Polícia Federal para ser preso. O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), também
pastor evangélico, disse que as lideranças tiveram “receio de não se manifestar” por
causa do tom “beligerante” de Malafaia.

Há também deputados que defendem o pastor. Nikolas Ferreira (PL-MG), Eli
Borges (PL-TO) e o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Gilberto Nascimento
(PSD-SP), que teve o nome defendido por Malafaia para a posição, são alguns do
exemplos. “É uma voz da democracia brasileira, um pastor que comanda milhões de
pessoas e agora está injustiçado”, disse Borges. A senadora Damares Alves
(Republicanos-DF), um dos nomes de grande representatividade no meio religioso, não
se pronunciou a respeito.

Silas Malafaia em ato na avenida Paulista em defesa de Jair Bolsonaro, em 25 de fevereiro de 2024
Imagem: Bruno Santos 25.fev.24/Folhapress

O UOL apurou que o cenário para Malafaia perante algumas lideranças piorou
após as mensagens reveladas pela PF. Para evangélicos opositores ao pastor,
os áudios divulgados no relatório da investigação mostram um vocabulário que “não
condiz com um líder evangélico”. “Vem teu filho babaca falar merda e dando discurso
nacionalista. Dei um esporro, mandei um áudio para ele de arrombar”, disse ele a Jair
Bolsonaro, se referindo ao filho do ex-presidente Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Malafaia também é criticado por usar o argumento de que a investigação é uma
“perseguição religiosa”. “Se ele estivesse em um inquérito policial por ter orado,
evangelizado em praça pública, seria perseguição religiosa, mas não é o caso. Em todo
o tempo, ele atacou a Suprema Corte”, afirmou Otoni, que já teve brigas públicas com o
pastor.

O líder religioso nunca conseguiu total relevância dentro das Assembleias de
Deus, diz especialista. Na avaliação de Vinicius do Valle, diretor do Observatório
Evangélico, “dificilmente” o pastor conseguirá declarações de apoio de fora das
congregações ligadas ao pentecostalismo brasileiro, no qual ele está inserido. “Ele
tenta ser um representante dos evangélicos brasileiros, gosta de ser tratado assim, mas
ele não é reconhecido dessa forma por outros líderes”, afirma Valle.

Ação contra Malafaia

A PF identificou conversas entre Malafaia e Bolsonaro que mostrariam o pastor
atuando em conjunto para atacar o Supremo. Em um dos diálogos, ele chega a
sugerir para o ex-presidente “pressionar o STF, dizendo que, se houver uma anistia
ampla e total, a tarifa [imposta pelos EUA ao Brasil] vai ser suspensa”. Ele sugere
também, no dia em que o tarifaço foi anunciado, que não quer ver os ministros do STF e
suas famílias afetadas pelos EUA e que, para isso, seria necessária a “anistia”.

Alexandre de Moraes determinou medidas cautelares, mas não prisão. Malafaia está proibido de deixar o país, teve o passaporte apreendido e não pode se comunicar com outros investigados, como Bolsonaro.

Após a operação, Malafaia voltou a atacar Moraes, o chamou de “ditador” e disse que “vai ter que me prender para me calar”. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele classificou como “aberração” o mandado de busca e apreensão contra ele. “Tudo é possível [sobre possibilidade de prisão], mas eu não tenho medo disso. Ele [Moraes] está no último suspiro, sabe?”, afirmou.

“Às vezes, as pessoas acham que a igreja fica discutindo política todo o tempo, e não é assim. A gente tem vários trabalhos que mostram que existe o momento em que a política institucional é discutida na igreja –em outros momentos, ela não é. Então acho que é precipitado falar de um grande impacto para a igreja evangélica.”

-Vinicius do Valle, do Observatório do Evangélico

UOL

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