Lula se reuniu com Guilherme Boulos (esq.) e Márcio Macêdo (dir.) para comunicar a troca no cargo; deputado assume a Secretaria-Geral da Presidência
Imagem: Ricardo Stuckert/PR
(Josias de Souza Colunista do UOL)
Lula já se definiu como “metamorfose ambulante”. Mas às vezes exagera. Na última
quinta-feira, discursando num evento do PCdoB, queixou-se da supremacia da
direita no Congresso. Disse que a esquerda precisa “acreditar que o deputado é
importante”, lançando uma profusão de candidatos ao Legislativo. Decorridos
apenas quatro dias, Lula fez exatamente o oposto do que ensinou.
Ao nomear Boulos para um ministério palaciano, Lula condenou o deputado a
permanecer no governo até o final. Na prática, tirou das urnas o maior puxador de
votos da esquerda. Boulos chegou à Câmara como campeão de votos em São
Paulo. Obteve pouco mais de 1 milhão de votos —55 mil a mais que Carla
Zambelli, 259 mil a mais que Eduardo Bolsonaro. Além de se eleger, puxou para o
Congresso dois correligionários menos votados.
No discurso da semana passada, Lula ensinou que PT, PCdoB, PDT, PSB e
também o PSOL, partido de Boulos, deveriam se equipar para “enfrentar a
máquina” da direita, batalhando em 2026 para obter “maioria” no Congresso. Virou
o próprio ensinamento do avesso a pretexto de sintonizar o movimento social,
habitat natural de Boulos, com sua campanha pelo quarto mandato.
Em tese, Lula não precisaria puxar o tapete do PSOL para usufruir das conexões
sociais de Boulos. Sua incorporação à caravana da reeleição não estava
condicionada à obtenção de uma poltrona de ministro. Com seu gesto, Lula
sinalizou para os partidos aliados que continua cultivando um tipo muito peculiar de
parceria. Estão todos no mesmo barco: cada um por si.

