Publicado em 14/07/2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou na noite deste domingo (13) a criação de um comitê interministerial para conversar com os setores mais afetados pela sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros.
Ele avisou aos ministros que se reunirá pessoalmente com empresários para tratar desse tema, de acordo com fonte que participou da reunião organizada pelo petista neste domingo.
Lula recomendou firmeza e sobriedade aos ministros do seu governo e disse que, a partir desse levantamento com os setores, ele conversará individualmente com cada grupo para traçar uma estratégia conjunta de atuação e de negociação com o governo americano.
Segundo uma fonte, o comitê terá a participação dos ministérios da Fazenda (Fernando Haddad), das Relações Exteriores (Mauro Vieira) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Geraldo Alckmin).
Essas pastas participaram de reunião com o presidente na noite deste domingo, no Palácio da Alvorada, para falar sobre as próximas iniciativas do governo. Também estiveram presentes representantes da Casa Civil, Secretaria de Relações Institucionais, Secom (Secretaria de Comunicação Social) e Agricultura.
Os demais ministérios serão chamados para as conversas quando envolverem as áreas de cada pasta, como a Agricultura para tratar dos impactos para a produção agropecuária do país. Entre os produtos mais afetados estão a laranja, café, carne bovina e celulose.
Produtos importados pelos EUA do Brasil são sobretaxados atualmente em 10%, tarifa anunciada por Trump em 2 de abril. Ou seja, além das tarifas de importação já cobradas, há uma cobrança adicional de 10%. Essa alíquota será substituída pela de 50% a partir de 1º de agosto.
Um exemplo é o caso do etanol, de acordo com interlocutores. Os americanos impunham uma tarifa de 2,5% ao produto, elevada a 12,5% após a sobretaxa de 10%. Com o novo anúncio, a porcentagem sobe a 52,5% em agosto.
A sobretaxa não é adicionada a produtos que já sofrem tarifas setoriais, como aço e alumínio, sobre os quais há tarifas de 50%.
A ideia do governo é fazer um diagnóstico sobre o impacto para a economia brasileira e também para a americana da sobretaxa de 50% e levar à mesa de negociação com os Estados Unidos. Isso, de acordo com Lula, se o governo americano estiver mesmo disposto a negociar.
Na reunião, Lula disse aos ministros que as conversas com o governo dos Estados Unidos devem ocorrer no campo econômico e que a defesa das instituições brasileiras e da soberania nacional “não estão na mesa de negociação”.
Trump cobrou a suspensão do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela suposta tentativa de golpe de Estado e criticou a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de obrigar as big techs a removerem automaticamente conteúdo criminoso, como pedofilia, sem necessidade de decisão judicial, ao anunciar as tarifas.
Lula tem defendido o STF nesse embate, criticado publicamente Trump pela pressão para anistiar Bolsonaro e se recusado a ceder nesses pontos.
O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, também saiu em defesa do Judiciário neste domingo e afirmou em carta que as sanções anunciadas pelos Estados Unidos se baseiam em uma “compreensão imprecisa dos fatos” que ocorreram no Brasil.
Barroso disse que, diferentemente do que ocorria nos tempos dos regimes de exceção, no país hoje “não se persegue ninguém”, e que Bolsonaro será julgado com base nas provas apresentadas.
“O STF vai julgar com independência e com base nas evidências. Se houver provas, os culpados serão responsabilizados. Se não houver, serão absolvidos”, afirmou o ministro.
[Folha Uol]