Publicado em 19/10/2025
Nuno19outonlineARTE KIKO
O destaque do encontro entre Vieira e Rubio foi o encontro em si. O importante é insistir no diálogo e mudar a postura que dificulta o entendimento entre os dois países.
Nada foi decidido e estranho seria se tivesse acontecido algum avanço. A rigor, o único resultado concreto do encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio — que aconteceu na tarde de quinta-feira passada, na Casa Branca, em Washington —, foi o próprio encontro. Os dois estiveram frente a frente durante pouco mais de uma hora — sendo 15 minutos numa conversa totalmente reservada e o restante do tempo, com a presença de assessores. Diante das circunstâncias que envolveram o encontro, esse era o melhor resultado que se poderia esperar.
Foi a primeira vez, desde que Rubio foi empossado como Secretário de Estado, em janeiro deste ano, que os dois tiveram uma reunião presencial. E a abertura de uma discussão adulta sobre temas importantes para os dois países — algo que parecia impossível cerca de um mês atrás — já pode ser visto como o maior avanço possível. Com base nas expectativas da delegação brasileira, conforme publicado pela imprensa nos dias que antecederam à reunião, a pauta incluiria a redução das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos à maioria dos produtos importados do Brasil e a revogação de sanções aplicadas a autoridades brasileiras, vistas por Washington como violadores de direitos humanos.
PREOCUPAÇÃO EXTREMA — É bom não perder de vista as causas das divergências entre os dois países — nem que essa recordação sirva apenas para que não se alimentem ilusões a respeito da possibilidade do restabelecimento imediato da normalidade na relação entre os dois países. Ainda haverá muitas idas e vindas para acontecer antes que se chegue a um acordo.
PANGLOSS X HARDY HAR HAR — Isso é possível? Claro que sim! O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, esteve em Nova Deli na semana passada e, ali, anunciou a ampliação de acordos que envolvem o Mercosul e podem resultar na ampliação das exportações de produtos brasileiros, especialmente alimentos, para a Índia — que, neste momento, registra taxas de crescimento superiores às da China. Por mais discreto que tenha sido o anúncio do acordo, ele gera incômodo para os agricultores dos Estados Unidos — que são os principais concorrentes mundiais do agronegócio brasileiro. Mas, contra o qual, nenhum país do mundo tem o direito de atirar críticas.
Os acontecimentos, a partir daí, se sucederam com uma celeridade surpreendente — e sempre avançaram por iniciativa das autoridades americanas. Uma conversa por videochamada entre Lula e Trump, no último dia 6, sacramentou a retomada do diálogo. Um telefonema de Rubio para Vieira, já no dia seguinte à conversa entre os presidentes, resultou no agendamento da reunião da quinta-feira passada.
RAZÕES DO DESENTENDIMENTO — Resumo da ópera: o resultado do diálogo de quinta-feira passada não foi tão ruim como os adversários do governo Lula apostavam e até desejavam que tivesse sido. Mas, também, não foi tão bom quando supunham aqueles que esperavam que todos os desentendimentos seriam removidos pela “química” que pintou entre Lula e Trump. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra! O importante, a partir de agora, é encarar a situação com a maturidade que às vezes parece faltar às autoridades brasileiras. E entender que a relação entre os dois países só voltará à normalidade se houver uma revisão nas escolhas e na postura que fizeram com que a situação chegasse ao ponto que chegou.

