PALANQUE - Caiado, Tarcísio e Zema em Barretos: promessas de aliança no segundo turno para derrotar Lula (Alisson Demetrio/Divulgação)
Com bons índices de aprovação de suas gestões, eles ainda são desconhecidos de boa parte do país, o que pode ser um trunfo para 2026
A pouco mais de um ano para a eleição presidencial de 2026, cresce a
movimentação de governadores do centro à direita, que tentam se colocar,
cada um à sua maneira, como herdeiros do espólio eleitoral do ex-presidente
Jair Bolsonaro, que está inelegível, em prisão domiciliar e às vésperas de
receber sentença no processo sobre tentativa de golpe de Estado. À frente de
estados importantes, inclusive em número de eleitores, e gozando de boa
avaliação de suas gestões entre os moradores de seus estados, eles aparecem
competitivos para um eventual enfrentamento com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, segundo pesquisas recentes. Todos eles, no entanto, têm um
desafio, que é também uma oportunidade de crescimento político pela frente:
superar o alto grau de desconhecimento por parte do eleitorado fora das
fronteiras de seus estados.
O universo de votantes a ser conquistado é bastante significativo, segundo a
última pesquisa Genial/Quaest. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado
(União Brasil), por exemplo, é o mais bem avaliado entre os eleitores, com
88% de aprovação de sua gestão, mas seu nome não é conhecido por mais da
metade (54%) do eleitorado nacional. Outro bom exemplo é Ratinho Jr. (PSD),
do Paraná, que tem 84% de aprovação, mas é desconhecido por 46% dos
eleitores brasileiros. Em diferentes graus, o mesmo se repete com os outros
nomes testados, como Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Eduardo Leite
(PSD), do Rio Grande do Sul. Mesmo Tarcísio de Freitas (Republicanos), de
São Paulo, que já foi ministro da Infraestrutura no governo Jair Bolsonaro,
não é conhecido por um terço do eleitorado do país (veja o quadro).

Para tentar reverter isso, os governadores presidenciáveis ampliaram as
agendas fora de seus estados nas últimas semanas. Além dos encontros com
formadores de opinião, os governadores também têm marcado presença
constante em feiras de agronegócio e eventos populares ao redor do país. No
sábado 23, na tradicional Festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo,
Tarcísio foi uma das estrelas da noite, mas tinha ao seu lado no palanque
outros dois “concorrentes”: Caiado e Zema. Todos fizeram as suas pregações
políticas para os fãs de rodeio que lotavam a arena da festa. Caiado foi o mais
enérgico do trio: com críticas ao governo Lula, prometeu “devolver o Brasil aos
brasileiros” e falou que há um pacto de apoio mútuo entre os três
governadores presentes para as eleições de 2026 no caso da ausência de
Bolsonaro nas urnas. Em reunião reservada com deputados da base aliada
nesta semana, em Goiás, Caiado garantiu que seguirá até o fim com sua
candidatura. Zema, que também tem tido um discurso fortemente
antigoverno, optou por falar do agronegócio de Minas Gerais. Já Tarcísio
reforçou o seu vínculo com Bolsonaro ao segurar rapidamente um boneco
inflável do ex-presidente durante a sua fala e demonstrar gratidão ao padrinho
político, dizendo que ele sofre “grande injustiça” no STF.
Os outros governadores presidenciáveis, ambos do PSD, ainda não partiram
para o enfrentamento mais direto com Lula. À frente de um estado que tem
índices positivos em áreas como segurança, educação, emprego e
infraestrutura, o paranaense Ratinho Jr. tem trabalhado um discurso que alia
a propaganda de sua “capacidade de gestão” com a defesa da “pacificação” do
ambiente político do país — recentemente, lançou uma espécie de slogan: “O
Brasil tem que virar a página”. A ofensiva do candidato nos últimos meses tem
sido mostrar o Paraná como modelo que vem funcionando e que pode ser
“exportado” para o restante do país. Um dos recentes trunfos foi a redução do
IPVA, o imposto sobre a propriedade de veículos automotores, de 3,5% para
1,9% sobre o valor venal, colocando o estado como o que tem o menor imposto
em todo o país. A decisão é tida, inclusive, como um ponto a contribuir para o
crescimento da sua popularidade no estado e, também, para o aumento do
conhecimento da população brasileira em relação a ele.

TRUNFO - O governador do Paraná, Ratinho Jr.: redução do IPVA é tida como uma aposta para romper barreiras do estado (Luis Pedruco/Ato Press/Agência O Globo/.)
Paralelamente, o governador tem ampliado as agendas para além do estado,
principalmente por meio de encontros com empresários, representantes do
mercado financeiro, investidores e lideranças políticas em São Paulo. Essas
reuniões são articuladas, em boa parte, pelo presidente do PSD, Gilberto
Kassab, que diz que o partido terá um nome para concorrer ao Palácio do
Planalto em 2026 (Ratinho Jr. ou Eduardo Leite), embora o próprio cacique do
PSD sonhe com uma candidatura de Tarcísio.
O desconhecimento por parte do eleitorado nacional é algo comum entre
governadores que tentam dar voos nacionais. Cila Schulman, diretora do
Instituto de Pesquisa Ideia, cita como exemplo as perguntas espontâneas
feitas aos entrevistados das pesquisas — que é quando não são apresentadas
opções predefinidas de candidatos. “Na espontânea, vemos que os eleitores
ainda não apontam os nomes dos governadores, pois eles ainda são
desconhecidos fora dos seus estados. Nesse momento, o eleitor tende a estar
indeciso ou a apontar os nomes mais conhecidos, como o próprio Bolsonaro,
além de Lula. Ou a dizer o nome do governador de seu próprio estado”, diz.
Segundo ela, um caminho natural para crescer é apostar no enfrentamento
com Lula porque a eleição de 2026 tende a ser novamente uma disputa
polarizada entre petismo e antipetismo. “Mesmo que a direita e a centrodireita saiam com várias opções no primeiro turno, o que é provável, até
mesmo com o surgimento de um outsider, o eleitor tenderá a votar no nome
que considerar o mais competitivo para ir ao segundo turno contra Lula.
Qualquer candidato deste campo que for ao segundo turno terá chances de
vencer”, completa Schulman. Auxiliares dos pré-candidatos avaliam que o
campo está aberto para a conquista de novos eleitores e que esse grau de
desconhecimento é algo com o qual já contavam. “A tendência é que os nomes
desses políticos se tornem mais conhecidos por maior parte da população
conforme vão se aproximando as eleições. E muita coisa pode ser trabalhada
ainda”, avalia um aliado de Caiado.

VISIBILIDADE - Eduardo Leite: governador gaúcho tem participado de muitas agendas fora do seu estado (Vitor Rosa/SECOM//)
O desafio, no entanto, não é pequeno — e historicamente mostrou-se um
dificultador para lideranças estaduais que tentaram chegar ao Palácio do
Planalto. O último governador a conquistar a Presidência da República, para se
ter uma ideia, foi Fernando Collor, que saiu de Alagoas para derrotar Lula em
1989, na primeira eleição direta após o fim da ditadura. De lá para cá, outros
ex-governadores tentaram a sorte e não conseguiram, como os
paulistas Geraldo Alckmin e José Serra (duas vezes cada um), o mineiro Aécio
Neves e o fluminense Anthony Garotinho. O paulista João Doria chegou a
renunciar à sua cadeira no Palácio dos Bandeirantes para disputar a
Presidência, pois havia vencido as prévias do PSDB. De forma inexplicável,
porém, a cúpula tucana passou a sabotar a campanha de Doria, até que ele foi
obrigado a desistir da pretensão.
De qualquer forma, os governadores que se apresentam para a corrida
presidencial têm bons trunfos nas mãos. Contra um presidente que tem a sua
gestão reprovada pela maioria da população (51%, segundo a Quaest), eles têm
o aval inequívoco em seus estados aos trabalhos que estão fazendo. O desafio
agora é mostrar isso aos eleitores nacionais.
*Publicado em VEJA

