Publicado em 17/06/2025
Durante entrevista ao programa Boa Conversa – Edição Aleac, nesta terça-feira (17), o ex-deputado estadual e produtor rural Geraldo Pereira se posicionou como uma das principais vozes do movimento que ocupou o plenário da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) em protesto contra os embargos ambientais promovidos pelo ICMBio.
Em sua fala, Geraldo criticou a condução das reservas ambientais no estado, com destaque para a Reserva Extrativista Chico Mendes, e defendeu sua redemarcação, argumentando que o atual modelo tem impedido o avanço econômico e social do Acre.
“Ela [Marina Silva] é uma figura importante na defesa do meio ambiente, mas a gente não está preocupado somente com essa causa [ambiental], nós estamos agora defendendo o desenvolvimento econômico e social do estado do Acre”, afirmou.
Segundo ele, a criação de áreas como a Resex Chico Mendes, que abrange 900 mil hectares do território acreano, contribuiu para o “engessamento” da produção rural.
“Quando criaram a reserva Chico Mendes e as outras reservas, foi uma grande intervenção federal no estado do Acre. Cê tem uma ideia, a reserva Chico Mendes são 900 mil hectares de terra, das 16 mil de hectares do estado do Acre, isso aí é em torno de 8% de terras engessadas só com a reserva Chico Mendes. Todas as reservas representam uma intervenção no desenvolvimento econômico do estado do Acre, na ordem de 47%”, declarou.
Geraldo defendeu a regularização das áreas já ocupadas e a destinação planejada de parte das reservas para uso produtivo:
“O que nós estamos defendendo é que essa reserva, a reserva Chico Mendes, ela seja redemarcada, regularizando essa situação das pessoas que já estão ocupando a área, que essa região seja destinada para o desenvolvimento econômico e social”.
Ele também destacou que municípios como Brasiléia e Rio Branco enfrentam escassez de áreas agricultáveis devido às unidades de conservação.
“O município de Brasiléia não tem terras mais destinadas à agricultura. Todas as suas terras que podem ser trabalhadas com a agricultura estão dentro da reserva. Rio Branco, se você fechar os olhos da população e imaginar pra onde o Rio Branco pode crescer, não tem mais pra onde. A agricultura só tem como crescer para dentro da reserva. Então é preciso que, com muito bom senso, se faça uma revisão dos limites dessas reservas”.
Sobre o modelo extrativista original da Resex, Geraldo fez críticas severas, alegando que a realidade atual é análoga à escravidão.
“Nossa vocação era extrativista, mas aquele extrativismo que a Resex Chico Mendes se propõe hoje já é tratado como trabalho análogo à escravidão. […] Se você levar aquelas instalações para dentro de uma propriedade particular, o Ministério Público do Trabalho vai lá e retira você de lá preso”.
Ele propôs uma atuação articulada entre governos e bancada federal para revisar as políticas de conservação, sem descuidar da preservação.
“Nós queremos que sejamos todos coerentes: o governo federal, o governo do estado, os prefeitos, envolver todo mundo, principalmente o Congresso Nacional, a bancada federal do Acre e da Amazônia, pra que trabalhe essa remodelagem das reservas florestais e destinar a maior parte de área possível para o desenvolvimento da agricultura. Nós só podemos desmatar 20%. O estado do Acre todo tem 16%. Então nós temos uma folga grande ainda, então basta que tenha coerência em tudo isso”.
Questionado sobre as recentes fiscalizações e destruições de áreas produtivas, o ex-parlamentar voltou a criticar o ICMBio e a ausência de planejamento ao longo dos anos.
“Sem tirar o mérito do ICMBio e a função que eles exercem, o ICMBio e toda a política nacional de preservação do meio ambiente negligenciou ao longo do tempo. […] Houve a negligência do governo estadual, na época, que não contestou isso, ou seja, pessoas que não tinham visão de futuro. Portanto, engessaram essa parte”.
Como alternativa à abertura de áreas para pecuária, Geraldo apresentou propostas de cultivos sustentáveis, como cacau e café, com apoio de recursos internacionais.
“Se as mesmas 20 hectares tivessem sido plantadas nessas condições para plantar o cacau nativo, as pessoas teriam lá 50 vezes mais renda do que têm hoje com gado. […] Isso financiado com esse dinheiro que vem do exterior, do Fundo da Amazônia, dá um rendimento mínimo de 600 mil reais por família, líquido. […] Basta que o governo federal, o governo do estado, comece a sentar e conversar o que fazer lá e parar de tirar as pessoas de lá de dentro, porque isso não vai resolver”.
Ao final, ele destacou o potencial econômico que poderia ter sido alcançado com o uso racional da floresta:
“De 90 pra cá, o Acre quanto avançou? Sempre foi proibido e avançou no desmate. Se esse aproveitamento das nossas florestas tivesse sido racional, isso já teria produzido mais de 10 trilhões de reais. O Acre poderia ter aí uns 20 andares do que é hoje”, concluiu.