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sexta-feira, 22 de agosto de 2025
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Política

Em meio a dificuldades, Haddad enfrenta pressão para ser candidato em 2026

Publicado em 28/06/2025

NO FOCO - Fernando Haddad: a ideia é que ele dispute o governo paulista ou o Senado, mesmo com o risco de derrota (Lula Marques/Agência Brasil)

O interesse do PT em colocar o nome do ministro na urna tem uma justificativa: sem ele, o partido e Lula correm riscos

Na eleição de 2022, Fernando Haddad foi o político que chegou mais longe na
tentativa de colocar pela primeira vez o PT no governo de São Paulo. Acabou
derrotado por Tarcísio de Freitas no segundo turno, mas colheu 45% dos votos
válidos e, com 11 milhões de eleitores, ajudou Luiz Inácio Lula da Silva a
vencer uma eleição apertadíssima contra Jair Bolsonaro. Às vésperas de uma
nova disputa, o nome do hoje ministro da Fazenda voltou a ser cogitado nos
corredores do petismo como alternativa para evitar um vexame no estado.
Apesar de afirmar publicamente que não pretende disputar nenhum cargo no
ano que vem, o último petista a vencer uma eleição relevante em São Paulo
(de prefeito da capital em 2012) será pressionado a ir para o sacrifício e
fortalecer o palanque de uma esquerda fragilizada no maior colégio eleitoral
do país.

O interesse do PT em colocar o nome de Haddad na urna tem uma
justificativa: sem ele, o partido e Lula correm riscos. Pesquisas mostram que o
ministro é o único que conseguiria ser minimamente competitivo, mesmo em
uma eventual revanche contra Tarcísio, que é franco favorito, mas pode optar
por concorrer ao Palácio do Planalto. Outros petistas, como os ministros
Alexandre Padilha (Saúde) e Luiz Marinho (Trabalho), não chegam a 10%.
Outra questão é que o PT busca a cabeça de chapa para evitar problemas com
seus aliados de esquerda, como ocorreu na eleição paulistana de 2024, quando
abriu mão de ter candidato pela primeira vez para apoiar Guilherme Boulos
(PSOL) — a avaliação é que a sigla ficou escanteada na campanha. A pressão
por candidatura própria deve crescer após a eleição no PT em julho, que vai
definir o comando nacional e os estaduais da legenda no país.

Esse tabuleiro eleitoral passa ainda pelos nomes do vice-presidente Geraldo
Alckmin, do ministro Márcio França (Empreendedorismo), ambos do PSB, e
de Boulos. Caso Alckmin componha a chapa presidencial mais uma vez
(hipótese hoje pouco provável), há chance de Haddad e Boulos serem os
nomes ao Senado, enquanto França disputaria o Palácio dos Bandeirantes, que
ele já chefiou em 2018. “O governo sabe que a tática do bolsonarismo será
fortalecer a presença no Senado, então é um espaço do qual não podemos
descuidar”, diz uma fonte do partido ao justificar a hipótese de o ministro da
Fazenda tentar o Congresso.

No caso de Haddad ser o nome ao governo, será recomendado a França que
busque novamente uma vaga de senador, que ele perdeu em 2022 para o
astronauta Marcos Pontes (PL). A costura é difícil porque os aliados têm suas
exigências. O PSB entende que o PT deveria apoiar França, que, em 2022, abriu
mão da sua candidatura para abrir espaço a Haddad. “Da mesma forma que
França fez um gesto e o PSB teve responsabilidade em assegurar a frente
ampla em 2022, todos os atores vão ter a mesma responsabilidade para buscar
o nome mais competitivo e que mais possa aglutinar forças. E o França possui
essas características”, diz um quadro do PSB.

OFENSIVA - Inserção do PL na TV: preços altos já são explorados pela oposição (./Reprodução)

O futuro eleitoral de Haddad será decidido, porém, mais à frente. Em Paris, no
início deste mês, o próprio Lula deu a senha ao desconversar sobre a
candidatura de seu ministro em 2026. “Você acha que eu seria louco de
responder isso agora?”, disse, emendando que a questão será resolvida no
início do próximo ano. Embora essa seja uma possibilidade menor hoje,
Haddad é visto também como um substituto de Lula caso o presidente não
dispute a reeleição por qualquer motivo.

Não seria a primeira vez que Haddad seria convocado para o sacrifício político.
Em 2016, enfrentou a onda antipetista que varreu o país durante a Lava-Jato e
não se reelegeu na prefeitura paulistana. Em 2018, aceitou participar da
aventura de Lula, que, mesmo preso, lançou-se ao Planalto tendo Haddad
como vice. Com a candidatura do padrinho indeferida, virou presidenciável a
pouco mais de um mês da eleição e perdeu para Bolsonaro. Desta vez, no
entanto, teria que carregar para o palanque o seu legado como “czar da
economia”, até agora infelizmente marcado pelas derrotas sobre as contas
públicas e tropeços na economia que poderão ser fatais na disputa eleitoral.
Para ficar competitivo, teria de superar essas dificuldades em pouco tempo, já
que precisaria deixar o cargo em abril do ano que vem. A margem de otimismo
para uma virada fica cada vez mais estreita. Na quarta-feira 25, Haddad viu a
Câmara derrubar o decreto de Lula que reajustava o IOF, um dos pontos
centrais de seu esforço para tentar garantir equilíbrio fiscal.

PLANO - Alckmin e Lula: vice pode disputar outro cargo em 2026 (Valter Campanato/Agência Brasil)

Em meio a todos esses problemas e incertezas, Haddad mantém uma postura
de prudência, focado nos desafios do ministério e sem falar como candidato. A
ideia é não dificultar ainda mais a aprovação da sua pauta econômica no
Congresso. “A prioridade dele é tentar entregar essas agendas, porque são
fundamentais para o governo”, avalia um líder petista. Na terça 24, Haddad
destacou que considera sua missão a estabilidade da política econômica e, com
isso, ajudar no êxito do governo Lula. “Tudo tem seu momento. Já participei
de outras ocasiões (eleitorais), mas agora não tenho esse objetivo” disse.

Se quiser disputar algum cargo em 2026 — ou for convencido a isso —, Haddad
enfrentará chumbo grosso. As inserções em rádio e TV de partidos como o PL e
o PP têm batido na tecla econômica como trunfo eleitoral, especialmente a alta
de preços e a insistência do governo em aumentar impostos. “O povão chama
ele de ‘Taxad’. Não somos nós da oposição. Tudo o que Haddad e sua equipe
sabem fazer é aumentar gastos públicos e meter a conta no cidadão”, diz o
senador Jorge Seif (PL-SC). Para Yuri Sanches, diretor do instituto de
pesquisas AtlasIntel, a visão dos eleitores sobre dados econômicos é muito
influenciada por escândalos no governo e desajustes políticos entre Planalto e
Congresso. “Entre abril e maio, houve uma piora da avaliação do governo, que
atribuímos justamente à turbulência política e econômica, uma
retroalimentando a outra, especialmente os desvios do INSS e o aumento do
IOF. Tudo gera na cabeça do eleitor uma percepção de falta de alinhamento e
incerteza em relação ao panorama econômico e fiscal do país”, afirma.

OPÇÃO - França: ministro do PSB quer apoio do PT ao governo paulista (mepm/Divulgação)

A pressão para o capitão da economia deixar o barco em meio à tormenta tem
a ver com o maior projeto do PT: reeleger Lula. Por esse motivo, a montagem
de palanques nos estados visará mais a fortalecer a campanha nacional do que
buscar vitórias eleitorais pontuais. O deputado Rogério Correia (PT-MG)
lembra que a sigla deverá caminhar com Rodrigo Pacheco (PSD) em Minas e
Eduardo Paes (PSD) no Rio. “A ideia é fortalecer as chapas de Lula ao governo,
em aliança com os setores mais ao centro, para garantir candidaturas fortes ao
Senado e vencer a eleição presidencial”, diz. A questão é se a estratégia vai
reeleger um presidente com popularidade baixa — 57% desaprovam seu
governo, segundo levantamento do Paraná Pesquisas da última semana. “Não
sei até que ponto esse palanque para o Lula estaria tão assegurado com
Haddad, porque o problema maior, a fragilidade maior, é o próprio Lula”, diz
Rui Tavares Maluf, doutor em ciência política pela USP. Visto nos últimos
anos como a grande aposta petista para ser herdeiro do presidente, Haddad
tem pouco tempo para solucionar os maiores problemas econômicos até o
término da atual gestão. Enquanto isso, a pressão política do partido pela
presença do nome dele nas urnas tende a aumentar. Na Esplanada da
atualidade, não há outro ministro com tantos dilemas pela frente.

*Publicado em VEJA

 

 

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