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quarta-feira, 26 de novembro de 2025
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Em encontro com Trump, Lula diz não querer ‘qualquer desavença com os EUA’

Nelson de SáColunista do UOL, em Kuala Lumpur*

Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, Luiz Inácio Lula da Silva e Donald
Trump, se encontraram pessoalmente hoje e tiveram uma conversa de cerca de 50
minutos em que ficou acertado que as negociações sobre as tarifas “começam
imediatamente”, segundo palavras do brasileiro.

O que aconteceu

Lula e Trump se encontraram em Kuala Lumpur, na Malásia. Os dois participam da
cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). Para jornalistas, Lula
afirmou não querer “qualquer desavença com os EUA” e que “não há motivo para
qualquer conflito entre Brasil e EUA”.

Trump deixou em aberto a possibilidade de “trabalhar em acordos” — se
referindo às tarifas impostas ao Brasil. “Em relação às tarifas impostas ao Brasil,
acho que tudo é justo. Tenho muito respeito pelo seu presidente, tenho muito respeito
pelo Brasil. Vamos trabalhar em acordos.”

Além disso, Trump disse ser uma “grande honra” estar com Lula. “Acho que eles
estão indo muito bem até onde sei. Podemos fazer bons acordos para ambos os países.
Acho que nós faremos acordos. Conversamos e acho que teremos um bom
relacionamento.”

Pauta a ser discutida com os Estados Unidos será “longa”, de acordo com o
presidente brasileiro. “Na hora que dois presidentes sentam em uma mesa e colocam
seu ponto de vista, a tendência é natural é se chegar a um acordo. Estava muito
otimista na manutenção mais civilizada possível entre Brasil e Estados Unidos. Tenho
uma longa pauta para discutir com os Estados Unidos.”

“Reunião parecia impossível”, disse Lula. “O presidente Trump teve que viajar 22h
dos Estados Unidos para a Malásia, e eu tive que viajar 22 horas do Brasil para a
Malásia. E nós conseguimos fazer uma reunião que parecia impossível do Brasil com os
Estados Unidos aqui na Malásia”, comemorou o presidente, ao se dizer “feliz” com o
encontro, na abertura de uma reunião empresarial entre Malásia e Brasil.

Reunião imediata para negociar tarifas

O ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira destacou à imprensa que
Trump e Lula trataram de “todos os assuntos”, incluindo as tarifas. “Lula começou
dizendo que não havia assunto proibido e renovou o pedido brasileiro de suspensão
das tarifas impostas à exportação brasileira durante um período de negociação.”

Reunião foi “muito positiva”, disse o ministro. “O saldo final é ótimo. Trump
declarou que dará instruções à sua equipe para que comece um processo de
negociação bilateral, que pode ser iniciada hoje ainda. Hoje mesmo devemos ter um
encontro.”

Conversa entre os presidentes foi descrita por Vieira como “descontraída” e
“muito alegre”. “Trump declarou admirar o perfil da carreira política do presidente
Lula, tendo sido, por duas vezes, presidente da República, tendo sido perseguido no
Brasil, tendo provado sua inocência e voltado a conquistar seu terceiro mandato como
presidente da República.”

Lula usou o X para comentar a conversa. Em postagem, o presidente brasileiro
afirmou que foi discutida a agenda comercial e econômica e informou que as equipes
vão se reunir para discutir as tarifas e sanções imediatamente.

Este é o primeiro encontro formal entre os dois. Antes disso, Lula e Trump só
tinham se cruzado brevemente na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações
Unidas). Na ocasião, o americano disse logo em seguida durante seu discurso que
“pintou química” entre eles.

Presidentes já tinham conversado por telefone. Lula e Trump se falaram por uma
chamada telefônica durante 30 minutos no dia 6 de outubro. Nesta conversa, Lula
solicitou a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas
restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras.

Trump postou que “gostou da conversa”. O presidente afirmou que teve um “bom
telefonema” com Lula e disse que “países vão se sair bem juntos”.

Na sequência, chanceleres se encontraram. O secretário de Estado dos Estados
Unidos, Marco Rubio, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, tiveram uma
reunião de uma hora no dia 16 de outubro. Os dois países avaliaram que a reunião foi
boa.

Encontros são estratégicos para relação entre os países

Relação entre os países ficou estremecida após sanções e tarifas impostas
pelos EUA. Com articulação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o país anunciou
sanções contra autoridades e aumentou as taxas sobre produtos importados do Brasil.

Inicialmente Brasil havia sido submetido a uma taxação de 10%. Quando
anunciou a nova política de tarifas sobre produtos importados, em abril deste ano, este
valor foi o mínimo imposto por Trump a outros países.

Avanço do julgamento da trama golpista no Brasil motivou aumento na taxa. Em
julho, taxação sobre produtos brasileiros passou a 50%. A justificativa foi que ações do
governo brasileiro prejudicavam “empresas americanas e os direitos de liberdade de
expressão de cidadãos americanos”.

No mesmo mês, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de
Moraes foi sancionado com a Lei Magnitsky. Antes, Moraes, sete outros ministros e
o procurador-geral da República, Paulo Gonet, já tinham tido seus vistos americanos
cancelados.

Condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro também motivou sanção. Desta
vez, a lei Magnitsky foi aplicada à esposa de Alexandre de Moraes, a advogada Viviane
Barci de Moraes, e ao instituto Lex, ligado à família.

Governo brasileiro disse que não aceitaria interferência. Mauro Vieira afirmou que
soberania brasileira “não é moeda de troca diante de exigências inaceitáveis”.

Lula chegou a autorizar reciprocidade. Aplicação de tarifas recíprocas pelo Brasil foi
comunicada aos Estados Unidos, mas não chegou a entrar em vigor.

*Colaborou Luccas Lucena, do UOL, em São Paulo

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