Atualizada em 20/04/2025 10:09
China busca construção de corredor bioceânico para estabelecer nova rota comercial via Argentina, Brasil, Chile e Paraguai
A China está empenhada na construção de nova rota para conectar o Atlântico e o Pacífico, atravessando Argentina, Brasil, Chile e Paraguai, de modo a facilitar o intercâmbio comercial da Ásia com a América do Sul. Apesar de não ser novo, o projeto se insere no meio da guerra comercial que o gigante asiático trava com os Estados Unidos de Donald Trump.
O principal objetivo do corredor é permitir que o Brasil e os vizinhos sul-americanos evitem as rotas tradicionais de navegação do Atlântico, reduzindo significativamente os tempos de trânsito e os custos logísticos para exportações agrícolas, como soja, carne e grãos.
Uma delegação chinesa esteve recentemente o Brasil para discutir grandes projetos de infraestrutura, incluindo o Corredor Bioceânico (veja detalhes abaixo). A visita ocorreu no contexto dos acordos estratégicos assinados pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Xi Jinping (China) durante a visita de Estado de Xi ao Brasil em novembro do ano passado. O presidente brasileiro vai retribuir a visita no próximo mês de maio.
Canal do Panamá
Travessia-chave para o comércio marítimo internacional, o Canal do Panamá foi inaugurado no começo do século passado como alternativa para encurtar distâncias. Ele possui 77,1 quilômetros de extensão, e o tempo aproximado para cruzá-lo varia entre 20 e 30 horas. A alternativa ao canal é contornar o continente, nas pontas meridionais da África e da América do Sul, ou o Canal de Suez.
Em fevereiro, o Panamá se retirou do projeto Novas Estradas da Seda, em decisão tomada sob pressão de Trump, que alega que o Canal do Panamá está sob o controle de Pequim.
Trata-se de uma vitória diplomática para Washington, que teme a crescente influência de Pequim, especialmente sobre essa infraestrutura estratégica, vista pelos EUA como um risco à segurança. Como o Canal do Panamá é ponto central para o comércio mundial, o afastamento de Pequim fortalece a influência norte-americana na região.
Desde 2017, Pequim tem investido pesadamente no Panamá, sobretudo em portos e logística, buscando facilitar seu comércio. Na condição de segundo maior usuário do canal depois dos EUA, a China esperava ter condições mais favoráveis para seus negócios.
Agora, o Corredor Bioceânico é visto como uma alternativa ao Canal do Panamá, que vinha garantindo a Pequim uma influência crescente na América Latina, antes “quintal” dos EUA.
O governo brasileiro já trabalha, via Ministério do Planejamento e Orçamento, com o desenvolvimento das cinco rotas de Integração e Desenvolvimento Sul-Americano, que fazem parte da agenda da integração regional. A pasta desenhou as cinco rotas após consulta aos 11 estados brasileiros que fazem fronteira com os países da América do Sul.
As rotas têm o duplo papel de incentivar e reforçar o comércio do Brasil com os países da América do Sul e reduzir o tempo e o custo do transporte de mercadorias entre o Brasil e os seus vizinhos e a Ásia.
No total, as rotas de integração contam com 190 obras que já estão no PAC e, por isso, têm recursos assegurados no orçamento. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aportou US$ 3 bilhões, e os bancos regionais de desenvolvimento – Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) e Fonplata — aportaram mais US$ 7 bilhões. Mas ainda será necessário investimento em outros projetos de logística, em que podem entrar os chineses.
Na estimativa do governo brasileiro, as rotas poderão estar funcionando entre 2025 e 2027.
Veja detalhes:
Visita ao Brasil
Na semana passada, em visita ao Brasil, os chineses se encontraram com representantes estaduais de Mato Grosso, Goiás, Rondônia e Acre para discutir as redes rodoviária, ferroviária e hidroviária do país. Eles visitaram, por exemplo, a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), localizada em Goiás, obra que visa conectar as áreas produtoras de commodities agrícolas da região à malha ferroviária existente e aos portos do litoral brasileiro.