27.3 C
Rio Branco
domingo, 21 de dezembro de 2025
O RIO BRANCO
Política

Bolsonaro dilui capital político, e mercado fica avesso a Flávio candidato

Publicado em 21/12/2025

Candidatura de Flávio não empolgou políticos nem a Faria Lima
Imagem: MATEUS BONOMI/AFP

Por Felipe Pereira Do UOL, em Brasília

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso sem a militância ir às ruas. O único movimento político notado foi o centrão ir cada vez mais para o lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). O mercado mostrou que não aposta no clã. O lançamento da candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fez o dólar subir e a Bolsa cair.

O que aconteceu
Uma série de movimentos errados diluiu o capital político do ex-presidente. As decisões mal calculadas foram tomadas por ele e pelo restante da família. O resultado foi Lula estar na frente em todas as pesquisas.

Os movimentos em falso levaram a reações contrárias na política. O centrão considera um erro estratégico não lançar Tarcísio para a Presidência. O argumento é que o governador recebe o voto bolsonarista e de centro, aumentando as chances de o grupo vencer a corrida eleitoral.

Com Flávio concorrendo ao Planalto, o centrão vai focar em fazer deputados e
senadores. Interlocutores relataram ao UOL que os acordos estaduais que serão
negociados em janeiro terão o Legislativo como diretriz. Ceder em alguns locais em
nome de um projeto nacional não está nos planos do bloco.

Empresários e banqueiros também torcem o nariz para Flávio. Na semana em que
se tornou o nome do pai para a Presidência, o mercado se agitou contra a
movimentação, com dólar subindo e Bolsa caindo. Nas duas últimas semanas, o
senador viajou a São Paulo para tentar convencer o PIB de que merece apoio. Ele
também usa as redes sociais prometendo “tesouradas” para equilibrar as contas
públicas. Não tem dado certo.

Mas os bolsonaristas não consideram que o jogo acabou. Líder do PL na Câmara,
Sóstenes Cavalcante (RJ) ressalta que Flávio Bolsonaro conseguiu 36% nas pesquisas
após ser indicado pelo pai. Ele diz que podem ter prendido o ex-presidente, mas o
bolsonarismo permanece nas ruas.

Esquerda usa ironia e chama Eduardo de ‘camisa 10 do Lula’
Imagem: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Erros em série

Insistir na anistia é considerada a continuação de um erro. Desde 2023, Bolsonaro, os filhos e Michelle pregam pelo perdão a golpistas do 8 de Janeiro. O movimento se intensificou conforme o julgamento do ex-presidente se aproximava.

Integrantes do PL reclamam que a anistia não tira as pessoas de casa. Na avaliação desta fatia da direita, a militância concorda em perder um domingo de descanso apenas se for para reclamar da gestão Lula, de casos de corrupção ou defender a pauta conservadora.

A situação piorou quando Bolsonaro caiu em contradição. Ele repetia que não desejava anistia para evitar a cadeia. Argumentava que trabalhava para tirar pessoas “inocentes” da prisão. O discurso caiu por terra quando se aproximou a data de o ex-presidente começar a cumprir pena.

No fim, a anistia serviu para tirar a esquerda do sofá. Recolhida desde que o bolsonarismo surgiu, a parte vermelha da militância política nacional foi às ruas contra a redução das penas a golpistas e para protestar contra a PEC da Blindagem.

Bolsonaristas expõem bandeira dos EUA em ato na Paulista
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Eduardo joga contra

A fuga de Eduardo Bolsonaro foi comemorada por deputados da esquerda. Líder do PT, Lindbergh Farias (RJ) estava numa cerimônia no Palácio do Planalto e levantou para gravar vídeo assim que soube da notícia. Chamou o parlamentar rival de “covarde”.

A atuação de Eduardo em favor da sobretaxa a produtos brasileiros tornou tudo
pior. O deputado foi chamado jocosamente de “camisa 10 do Lula”. Ele entregou um
discurso ao petista, que patinava nas pesquisas e pôde posar como defensor da pátria
e da soberania.

Por causa de Eduardo, bolsonaristas levaram um bandeirão dos Estados Unidos
para a Paulista. A direita exaltava o país que prejudicava a economia nacional. Do
estrangeiro, o deputado comemorava as sanções e dizia não se importar com as
consequências políticas.

A parte não bolsonarista da direita não gostou. Hoje, os perfis de Eduardo nas
redes sociais têm comentários de pessoas de direita que criticam a atuação dele.

Briga entre Flávio e Michelle

A prisão de Bolsonaro foi seguida de juras de união na frente das câmeras e brigas nos bastidores. Michelle Bolsonaro deu a largada para que as divergências das entranhas do clã ganhassem as manchetes.

A ex-primeira-dama reclamou de uma aliança do PL com Ciro Gomes. Michelle argumentou que estavam fechando coligação com um homem que chamou Bolsonaro de genocida.

A alegação melou o acordo e fez Flávio pedir desculpas. À primeira vista, vitória da madrasta, mas poucos dias depois tudo se inverteu. Flávio saiu da cela do pai dizendo que fora escolhido candidato a presidente.

Criticado, Carlos Bolsonaro participa de ato bolsonarista em Florianópolis
Imagem: HEULER ANDREY – 3.ago.2025/DIA ESPORTIVO/ESTADÃO CONTEÚDO

Carlos Bolsonaro xinga governadores

O vereador dificultou a tentativa da direta em não rachar na escolha do candidato a presidente. Carlos Bolsonaro detonou governadores que se lançaram pré-candidatos ao Palácio do Planalto.

Ele acusou aliados de serem aproveitadores. O movimento foi acompanhado por Eduardo Bolsonaro, que compartilhou postagens do irmão. A situação não voltaria à normalidade.

O festival de ofensas de Carlos foi mantido por Eduardo. Em vários momentos, ele usou as redes sociais para reclamar da atitude de integrantes da centro-direita. Sobrou até para Nikolas Ferreira, parlamentar mais popular do bolsonarismo.

Carlos ainda rachou a direita em Santa Catarina. Ao decidir concorrer ao Senado naquele estado, ele dividiu os conservadores e prejudicou uma aliança que estava sendo construída para vencer com folga a esquerda.

Solda e prisão preventiva

Jair Bolsonaro foi para cadeia antes de começar a cumprir pena. O motivo foi usar uma solda para tentar romper a tornozeleira eletrônica que usava por ordem de Alexandre de Moraes, relator do processo no STF.

O ex-presidente foi levado para a PF nas primeiras horas da manhã de um sábado. Aliados recorreram ao discurso da perseguição e vociferaram que Moraes é um ditador. Todos se recolheram quando um vídeo revelou que Bolsonaro danificou a tornozeleira com uma solda.

O erro prejudicou a forma como a trajetória do ex-presidente seria contada. Não houve tempo de juntar a militância na frente de seu condomínio e produzir a imagem de um político sendo levado pela PF em meio a protesto de militantes contrariados. A cena que fica para a história é de Bolsonaro confirmando que usou uma solda na tornozeleira.

O ano começou nebuloso para a família Bolsonaro e termina pior ainda. Nenhum integrante do clã está em posição confortável:

  • Michelle expôs apetite por poder e as desavenças internas na família;
  • Eduardo ficou com fama de fujão e que trabalhou contra o país;
  • Carlos quer ser senador por um estado no qual não foi bem recebido;
  • Flávio vai para uma candidatura em que poucos acreditam;
  • Bolsonaro tem a capacidade de ação bastante restrita porque está preso
Compartilhe:

Artigos Relacionados

Governo vai enviar proposta para evitar uso de Bolsa Família em bets

Raimundo Souza

Pacheco diz que cabe ao Judiciário avaliar se atuação de Moraes pode anular provas

Raimundo Souza

Fachin e Moraes convidam Lula para posse no STF

Redacao

Marçal usa decisão judicial que suspendeu redes para reforçar narrativa antissistema

Raimundo Souza

Governo federal prepara reforma administrativa

Jamile Romano

PEC das Drogas: Câmara volta do recesso com comissão travada por falta de deputados

Jamile Romano