Publicado em 21/12/2025
Candidatura de Flávio não empolgou políticos nem a Faria Lima
Imagem: MATEUS BONOMI/AFP
Por Felipe Pereira Do UOL, em Brasília
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso sem a militância ir às ruas. O único movimento político notado foi o centrão ir cada vez mais para o lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). O mercado mostrou que não aposta no clã. O lançamento da candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fez o dólar subir e a Bolsa cair.
O que aconteceu
Uma série de movimentos errados diluiu o capital político do ex-presidente. As decisões mal calculadas foram tomadas por ele e pelo restante da família. O resultado foi Lula estar na frente em todas as pesquisas.
Os movimentos em falso levaram a reações contrárias na política. O centrão considera um erro estratégico não lançar Tarcísio para a Presidência. O argumento é que o governador recebe o voto bolsonarista e de centro, aumentando as chances de o grupo vencer a corrida eleitoral.
Com Flávio concorrendo ao Planalto, o centrão vai focar em fazer deputados e
senadores. Interlocutores relataram ao UOL que os acordos estaduais que serão
negociados em janeiro terão o Legislativo como diretriz. Ceder em alguns locais em
nome de um projeto nacional não está nos planos do bloco.
Empresários e banqueiros também torcem o nariz para Flávio. Na semana em que
se tornou o nome do pai para a Presidência, o mercado se agitou contra a
movimentação, com dólar subindo e Bolsa caindo. Nas duas últimas semanas, o
senador viajou a São Paulo para tentar convencer o PIB de que merece apoio. Ele
também usa as redes sociais prometendo “tesouradas” para equilibrar as contas
públicas. Não tem dado certo.
Mas os bolsonaristas não consideram que o jogo acabou. Líder do PL na Câmara,
Sóstenes Cavalcante (RJ) ressalta que Flávio Bolsonaro conseguiu 36% nas pesquisas
após ser indicado pelo pai. Ele diz que podem ter prendido o ex-presidente, mas o
bolsonarismo permanece nas ruas.

Esquerda usa ironia e chama Eduardo de ‘camisa 10 do Lula’
Imagem: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Erros em série
Insistir na anistia é considerada a continuação de um erro. Desde 2023, Bolsonaro, os filhos e Michelle pregam pelo perdão a golpistas do 8 de Janeiro. O movimento se intensificou conforme o julgamento do ex-presidente se aproximava.
Integrantes do PL reclamam que a anistia não tira as pessoas de casa. Na avaliação desta fatia da direita, a militância concorda em perder um domingo de descanso apenas se for para reclamar da gestão Lula, de casos de corrupção ou defender a pauta conservadora.
A situação piorou quando Bolsonaro caiu em contradição. Ele repetia que não desejava anistia para evitar a cadeia. Argumentava que trabalhava para tirar pessoas “inocentes” da prisão. O discurso caiu por terra quando se aproximou a data de o ex-presidente começar a cumprir pena.
No fim, a anistia serviu para tirar a esquerda do sofá. Recolhida desde que o bolsonarismo surgiu, a parte vermelha da militância política nacional foi às ruas contra a redução das penas a golpistas e para protestar contra a PEC da Blindagem.

Bolsonaristas expõem bandeira dos EUA em ato na Paulista
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress
Eduardo joga contra
A fuga de Eduardo Bolsonaro foi comemorada por deputados da esquerda. Líder do PT, Lindbergh Farias (RJ) estava numa cerimônia no Palácio do Planalto e levantou para gravar vídeo assim que soube da notícia. Chamou o parlamentar rival de “covarde”.
A atuação de Eduardo em favor da sobretaxa a produtos brasileiros tornou tudo
pior. O deputado foi chamado jocosamente de “camisa 10 do Lula”. Ele entregou um
discurso ao petista, que patinava nas pesquisas e pôde posar como defensor da pátria
e da soberania.
Por causa de Eduardo, bolsonaristas levaram um bandeirão dos Estados Unidos
para a Paulista. A direita exaltava o país que prejudicava a economia nacional. Do
estrangeiro, o deputado comemorava as sanções e dizia não se importar com as
consequências políticas.
A parte não bolsonarista da direita não gostou. Hoje, os perfis de Eduardo nas
redes sociais têm comentários de pessoas de direita que criticam a atuação dele.
Briga entre Flávio e Michelle
A prisão de Bolsonaro foi seguida de juras de união na frente das câmeras e brigas nos bastidores. Michelle Bolsonaro deu a largada para que as divergências das entranhas do clã ganhassem as manchetes.
A ex-primeira-dama reclamou de uma aliança do PL com Ciro Gomes. Michelle argumentou que estavam fechando coligação com um homem que chamou Bolsonaro de genocida.
A alegação melou o acordo e fez Flávio pedir desculpas. À primeira vista, vitória da madrasta, mas poucos dias depois tudo se inverteu. Flávio saiu da cela do pai dizendo que fora escolhido candidato a presidente.

Criticado, Carlos Bolsonaro participa de ato bolsonarista em Florianópolis
Imagem: HEULER ANDREY – 3.ago.2025/DIA ESPORTIVO/ESTADÃO CONTEÚDO
Carlos Bolsonaro xinga governadores
O vereador dificultou a tentativa da direta em não rachar na escolha do candidato a presidente. Carlos Bolsonaro detonou governadores que se lançaram pré-candidatos ao Palácio do Planalto.
Ele acusou aliados de serem aproveitadores. O movimento foi acompanhado por Eduardo Bolsonaro, que compartilhou postagens do irmão. A situação não voltaria à normalidade.
O festival de ofensas de Carlos foi mantido por Eduardo. Em vários momentos, ele usou as redes sociais para reclamar da atitude de integrantes da centro-direita. Sobrou até para Nikolas Ferreira, parlamentar mais popular do bolsonarismo.
Carlos ainda rachou a direita em Santa Catarina. Ao decidir concorrer ao Senado naquele estado, ele dividiu os conservadores e prejudicou uma aliança que estava sendo construída para vencer com folga a esquerda.
Solda e prisão preventiva
Jair Bolsonaro foi para cadeia antes de começar a cumprir pena. O motivo foi usar uma solda para tentar romper a tornozeleira eletrônica que usava por ordem de Alexandre de Moraes, relator do processo no STF.
O ex-presidente foi levado para a PF nas primeiras horas da manhã de um sábado. Aliados recorreram ao discurso da perseguição e vociferaram que Moraes é um ditador. Todos se recolheram quando um vídeo revelou que Bolsonaro danificou a tornozeleira com uma solda.
O erro prejudicou a forma como a trajetória do ex-presidente seria contada. Não houve tempo de juntar a militância na frente de seu condomínio e produzir a imagem de um político sendo levado pela PF em meio a protesto de militantes contrariados. A cena que fica para a história é de Bolsonaro confirmando que usou uma solda na tornozeleira.
O ano começou nebuloso para a família Bolsonaro e termina pior ainda. Nenhum integrante do clã está em posição confortável:
- Michelle expôs apetite por poder e as desavenças internas na família;
- Eduardo ficou com fama de fujão e que trabalhou contra o país;
- Carlos quer ser senador por um estado no qual não foi bem recebido;
- Flávio vai para uma candidatura em que poucos acreditam;
- Bolsonaro tem a capacidade de ação bastante restrita porque está preso

