Apoiadores se reuniram para vigília perto do condomínio de Bolsonaro
Imagem: Felipe Pereira/UOL
Por Ana Paula BimbatiDo UOL, em São Paulo
Aliados de Jair Bolsonaro (PL) têm priorizado explorar o que chamam de “perseguição
religiosa” para criticar a prisão preventiva do ex-presidente.
O que aconteceu
“Oração não é crime”, disse Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente.
Nas redes sociais, o senador faz referência a um dos motivos citados na decisão que
determinou a prisão de Bolsonaro: o chamamento dele para uma vigília em frente ao
condomínio em que o pai mora.
Deputados e senadores da oposição afirmaram que Bolsonaro foi preso por
causa de uma “oração”. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ),
chamou o ministro do STF Alexandre de Moraes de “psicopata” por citar como um dos
motivos para a prisão a vigília convocada por Flávio.
O entendimento da PF e de Moraes é de que a vigília causaria aglomerações em
frente à casa do ex-presidente. O que, segundo as autoridades, geria risco para
Bolsonaro e para terceiros. Para Moraes, Flávio usou “do mesmo modus operandi,
empregado pela organização criminosa que tentou um golpe de Estado em 2022,
utilizando a metodologia da milícia digital para disseminar por múltiplos canais
mensagens de ataque e ódio contra as instituições”.
Ao se pronunciar pela primeira vez ontem, Flávio argumentou que o ministro
“criminaliza o livre exercício da crença”. Em discurso transmitido ao vivo, o senador
ainda pediu para que pastores e padres falassem sobre o caso durante os cultos e
missas em suas igrejas hoje. O filho do ex-presidente aproveitou para anunciar que a
vigília estava mantida.
Os apoiadores de Bolsonaro não citam com a mesma frequência outro motivo
usado na decisão da prisão. O ministro do STF também incluiu na determinação que
foi informado sobre uma “ocorrência de violação” da tornozeleira eletrônica utilizada
pelo ex-presidente. O aparelho foi danificado às 0h07 de sábado.
Bolsonaristas minimizaram a tornozeleira eletrônica danificada. Enquanto alguns
afirmaram ao longo de sábado que o ex-presidente estava “em surto”, outros disseram
que o fato de o aparelho ter sido danificado não justifica uma possível fuga, já que a
casa do réu é monitorada por agentes da PF.
Com imagem arranhada, Bolsonaro apela para pautas “irreais”, diz
especialista. Para o pesquisador da FGV Guilherme Galvão, o ex-presidente tenta
emplacar a causa cristã “contra um STF ímpio e perseguidor”.

Tornozeleira eletrônica de Bolsonaro com sinais de queimaduras
Imagem: Reprodução
A admissão da violação da tornozeleira foi feita pelo próprio ex-presidente.
Bolsonaro afirmou para uma agente da Seape (Secretaria de Administração
Penitenciária) que usou um ferro de soldar para romper o aparelho. Inicialmente, ele
disse aos agentes que a tornozeleira havia batido na escada.
Ao chegar na vigília ontem, Flávio disse que Bolsonaro pode ter sentido
vergonha dos familiares. O senador contou que o ex-presidente recebeu seus irmãos
que moram em São Paulo. “Acho que pode ter sido algum ato de desespero”, afirmou.
“Ele se indignou e tentou mexer, mas isso não foi decisivo para prisão dele.”
Os aliados do ex-presidente também se apoiam no argumento de que o réu era
monitorado 24 horas. O advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, disse que “não teria”
como o cliente fugir, já que sua casa é monitorada por agentes federais. “Desconheço
qualquer indivíduo no Brasil com tornozeleira eletrônica que tenha uma escolta
permanente na porta de sua casa”, disse. A justificativa também foi citada pelo
vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), outro filho do ex-presidente.
Religião
A acusação de “perseguição religiosa” já havia sido usada em outras ocasiões
envolvendo Bolsonaro. Durante ato do 7 de Setembro este ano, na avenida Paulista,
em São Paulo, a ex-primeira-dama Michelle (PL) disse que estava proibida de fazer
culto em casa, já que Moraes não havia permitido.
“Libera os meus irmãos para estarem comigo nesse momento”, disse a exprimeira-dama. O ministro do STF, no entanto, não havia proibido a realização do
grupo de oração. Reportagem do UOL mostrou, na ocasião, que os membros do culto
doméstico decidiram mudar o local da reunião com a falta de respostas de Moraes.
Em 15 de setembro, Moraes atendeu pedido da defesa de Bolsonaro e liberou
os cultos em sua casa. O ministro disse que “não há óbice” para o deferimento do
pedido e afirmou que todos os presos, sejam provisórios ou definitivos, têm direito à
assistência religiosa, conforme a Constituição e a Lei de Execuções Penais

