HISTÓRICO - Painel na B3: uma sequência de quinze altas seguidas do Ibovespa não ocorria desde 1994 (Tuane Fernandes/Bloomberg/Getty Images)
Variável decisiva para consolidar — ou não — a tendência de alta é a eleição presidencial no ano que vem, que já influencia o humor dos investidores
Por Carolina Ferraz | VEJA
O mercado de ações vive um momento memorável no Brasil. Após anos de
desempenho pífio, perdendo a corrida para a renda fixa anabolizada por taxas
de juros estratosféricas, a bolsa tem batido sucessivos recordes nominais. Do
fim de outubro até a última terça-feira, 11, o Ibovespa enfileirou quinze
pregões ininterruptos de alta — algo que não era visto desde 1994 — e superou
os 157 000 pontos pela primeira vez na história. Com isso, acumula uma
valorização de cerca de 30% no ano, impulsionada por fatores que vão do
regresso dos investidores estrangeiros à expectativa de queda da taxa básica de
juros, a Selic, em 2026. A pergunta agora é se esse ciclo seguirá por mais
tempo. O fim do ano não conta muito para dar uma resposta precisa a essa
questão. Desde a virada do século, o Ibovespa registrou alta no mês de
dezembro em apenas doze anos. Em 2024, por exemplo, a queda mensal foi de
4%, jogando a última pá de cal em um ano que encerrou com um tombo
acumulado de 10%.

O que terá mais peso no futuro próximo da bolsa é o comportamento dos
estrangeiros, que se tornaram os principais responsáveis pela disparada
recente. Entre compras e vendas, esse grupo já acumula um saldo líquido de
25 bilhões de reais na bolsa no ano. Não é que o Brasil tenha se tornado
subitamente o Jardim do Éden dos financistas, mas as opções lá fora estão
piores. As tensões geopolíticas, as dúvidas sobre o crescimento da China e o
tarifaço imposto por Donald Trump às importações de seus parceiros
comerciais tumultuam o cenário global. Além disso, os Estados Unidos ainda
exibem juros altos para seus padrões, mesmo após o Federal Reserve
promover dois cortes que somam 0,5 ponto percentual desde setembro,
trazendo a taxa para a faixa de 3,75% a 4% ao ano. Por isso, os grandes fundos
que precisam alocar parte do capital em ativos de risco rodam o mundo à caça
de oportunidades e encontram no mercado brasileiro boas pechinchas. Em
reais, o principal índice da bolsa subiu como um foguete. Convertidos para
dólares, porém, seus atuais 28 000 pontos estão muito aquém do pico
histórico de 40 000 pontos batido em 2008. “Os estrangeiros buscam países
com boas condições e o Brasil se destaca comparativamente”, diz Evandro
Buccini, diretor da Rio Bravo Investimentos.
O otimismo também é sustentado pela aposta de que o Banco Central baixará
os juros no ano que vem. Embora Gabriel Galípolo, seu presidente, afirme que
manterá a Selic nos atuais 15% até que a inflação convirja para o centro da
meta de 3%, os analistas estimam que a taxa encerrará 2026 em 12,25%. Por
isso, as ações mais sensíveis aos juros já esboçam alguma reação. “Papéis de
consumo, varejo e construção civil lideram a recuperação”, diz Nicholas
McCarthy, diretor de estratégia de investimentos do Itaú. Com isso, o Ibovespa
pode alcançar 160 000 pontos até o fim do ano. Quando, enfim, a Selic
começar a cair, o fôlego para uma nova arrancada será renovado. “Nos últimos
ciclos de cortes, a bolsa subiu, em média, 57% nos vinte e quatro meses
seguintes ao início da queda dos juros”, afirma Rodrigo Santoro, chefe de
renda variável da Bradesco Asset Management. Segundo Santoro, isso
permitiria ao Ibovespa alcançar os 185 000 pontos em 2026, assinalando nova
sequência de recordes no índice.

OBSTÁCULO - Galípolo: para o presidente do BC, o descontrole fiscal dificulta o início dos cortes da Selic (Alexandre Boiczar/Banco Central/.)
Outra variável decisiva para consolidar — ou não — a tendência de alta é a
eleição presidencial no ano que vem, que já influencia o humor dos
investidores. O mercado observa com preocupação o populismo fiscal do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu afã de se reeleger. Para o diretor
de gestão da Hike Capital, Ângelo Belitardo, o cenário requer cautela. “Não
estamos otimistas”, diz. “O déficit primário já ultrapassou 100 bilhões de reais
e o governo enfrenta dificuldades para se financiar via títulos indexados à
inflação.” De acordo com Belitardo, isso impede uma queda convincente da
Selic. Na ata da última reunião, divulgada na terça-feira, 11, o Comitê de
Política Monetária do Banco Central foi pela mesma linha ao frisar que apenas
uma política fiscal responsável reduzirá o prêmio de risco exigido pelos
investidores para financiar a dívida pública, abrindo caminho para o corte dos
juros. Como sempre, projetos políticos pessoais podem estragar uma boa
notícia.

