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quarta-feira, 26 de novembro de 2025
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Ataques de Trump dividem oposição e geram incertezas à direita para 2026

ESFORÇO - Caiado, Tarcísio e Ratinho Jr. em evento em São Paulo: promessas de união criticadas por Eduardo Bolsonaro (Jonathan Campos/AEN//)

Um dos problemas criados pela entrada do presidente americano no jogo sucessório brasileiro é o alto custo eleitoral que isso pode acarretar

No último fim de semana, os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo),
Ratinho Junior (Paraná) e Ronaldo Caiado (Goiás), três dos principais nomes
cotados para a disputa pela Presidência da República em 2026, fizeram,
durante um evento do mercado financeiro em São Paulo, uma tentativa de
demonstração pública de unidade da oposição para enfrentar o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no ano que vem. “Sem dúvida, a união faz a força. A boa
notícia é que o projeto nacional está acima de todas as vaidades. Engana-se
quem pensa que haverá um racha na direita”, disse Tarcísio, ao lado dos
demais presidenciáveis que tentam se cacifar como alternativa caso
Jair Bolsonaro permaneça inelegível. O esforço, no entanto, não durou nem 24
horas. No dia seguinte, incomodado com a postura dos governadores de
defenderem a negociação da tarifa de 50% imposta pelo presidente americano,
Donald Trump, o filho Zero Três do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, que
tem atuado como uma espécie de “embaixador do tarifaço” nos EUA, reagiu.
Atacou os governadores e deixou bem claro que sem a anistia irrestrita ao seu
pai — o que o colocaria no jogo eleitoral de 2026 — nenhuma união da direita
será possível.

O episódio ilustrou mais uma vez como a medida tomada por Trump — e
buscada por Eduardo — mergulhou a direita brasileira na incerteza.
Governadores de alguns dos estados mais afetados pelo tarifaço, Tarcísio,
Ratinho Jr. e Caiado vêm tateando politicamente para viabilizar um discurso
que permita a eles se equilibrar entre a defesa dos interesses dos setores
produtivos de seus redutos e a conveniência de não desagradar a Jair
Bolsonaro, sua família e, principalmente, ao seu ainda imenso eleitorado. “Se a
gente não botar a bola no chão, não agir como adulto e não resolver o
problema, quem vai perder é o Brasil. Nós vamos trabalhar para que a
consequência não venha”, afirmou o governador de São Paulo. Ratinho Jr. foi
mais enfático na necessidade de priorizar os interesses do país. “O Bolsonaro
não é mais importante do que a relação entre o Brasil e os Estados Unidos”,
afirmou. Eduardo retrucou. “Imagino os americanos olhando para esse tipo de
reação e pensando: o que mais podemos fazer para essas pessoas entenderem
que é sobre Jair Bolsonaro, seus familiares e apoiadores?”, disse. Já Romeu
Zema, governador de Minas Gerais, em uma entrevista, foi ao ponto ao dizer
que Eduardo criou “um problema para a direita”. Zema deve se lançar
oficialmente como pré-candidato à Presidência pelo Novo no próximo dia 16. O
Zero Três não deixou barato a crítica do mineiro. “Enquanto são pessoas simples e comuns as vítimas da tirania, não há problema, mas mexeu na sua
turminha da elite financeira, daí temos o apocalipse para resolver”, afirmou.

CORRIDA - Zema: ação nos EUA cria “problema para a direita”, diz presidenciável (Reprodução//)

O embate entre políticos de direita que estão pressionados pela vida real e o
bolsonarismo radicalizado em torno de Eduardo não é um problema menor.
Mesmo inelegível, obrigado a se recolher em casa toda noite, usando
tornozeleira, impedido de usar redes sociais e perto de ser condenado à prisão
por tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro
ainda não desistiu de disputar a Presidência. Ele não só acalenta a estratégia
de registrar a sua candidatura e tentar uma vitória de última hora na Justiça,
como tem como “plano B” a hipótese de lançar um dos seus filhos (Eduardo ou
Flávio) a candidato caso não se viabilize. Mais: mesmo que nem ele nem seus
filhos sejam candidatos, o ex-presidente deve fazer questão de que a chapa
tenha um sobrenome Bolsonaro. Dessa forma, qualquer distanciamento ou
rusga agora com o clã pode pôr em risco o projeto dos governadores. “Enganase quem pensa que uma liderança como Jair Bolsonaro vai ficar fora desse
processo, seja na condição que for, porque ele participará”, afirmou Tarcísio
durante o evento em São Paulo.

Um dos problemas criados pela entrada de Trump no jogo sucessório é o alto
custo eleitoral que isso pode acarretar. Pesquisa da Quaest apontou que 72%
dos brasileiros acham que o americano está errado e 79% acreditam que o
tarifaço vai afetar suas vidas. O alarme eleitoral do Centrão, um bloco político
com vasto know-how em sobrevivência política, já indicou o perigo. Desde que
a crise eclodiu, há cautela (para não dizer sumiço) dos principais líderes desse
espectro político, como Marcos Pereira (Republicanos), Gilberto Kassab (PSD)
e Baleia Rossi (MDB), siglas que poderiam estar alinhadas na oposição
a Lula — nenhum deles deu qualquer declaração pública sobre o episódio. O
senador Ciro Nogueira, presidente do PP, tem se manifestado nas redes, mas
muito mais para tentar atribuir a Lula responsabilidade no episódio —
estratégia que vem sendo testada pelo bolsonarismo.

ALTERNATIVA - Flávio Bolsonaro, durante ato em Brasília: senador pode disputar a Presidência se o pai estiver inelegível (Evaristo Sa/AFP)

Quem monitora os estilhaços do tarifaço na corrida eleitoral com muita
preocupação é Valdemar Costa Neto, presidente do PL, a casa dos Bolsonaro.
Desde o início da crise, ele nada falou, mas não tem dúvida de que a
movimentação recente embaçou o seu principal plano para 2026, que é manter
a legenda como dona do maior naco dos fundos eleitoral e partidário. Para
isso, precisa priorizar as eleições parlamentares, mas vê cada vez mais
dificuldades para futuras alianças em meio ao isolamento progressivo da
legenda em razão da radicalização. Também tira o poder do partido o fato de
Bolsonaro centralizar as decisões, tanto no plano nacional quanto nos estados.
Outro duro impacto foi a prisão na terça-feira, em Roma, da deputada Carla
Zambelli (PL-SP), que estava foragida desde junho, quando foi condenada a
dez anos de prisão por ter financiado o hacker Walter Delgatti Neto para
invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça dentro da estratégia
tresloucada de tentar mostrar a vulnerabilidade da Justiça. Ela e Eduardo
Bolsonaro — que não pode voltar ao país porque é grande o risco de ser preso
— foram, respectivamente, segundo e terceiro deputados mais votados de São
Paulo em 2022, com 1,7 milhão de votos somados. Com eles praticamente fora
do jogo, Valdemar perde dois puxadores de votos importantes. Para completar
o inferno astral do cacique, Nikolas Ferreira (PL-MG), o deputado mais votado
do país em 2022, virou réu na semana que passou num processo por
divulgação de fake news — caso seja condenado, pode se tornar inelegível.

Entre os aliados fiéis de Jair Bolsonaro, o pensamento que tem predominado é
o de que agora é hora de tentar o “tudo ou nada” pela aprovação da anistia aos
envolvidos em atos golpistas. A pressão, que voltou a aumentar até no recesso
parlamentar, tende a crescer na esteira das sanções de Trump. Para
bolsonaristas, é melhor se desgastar ao extremo agora para, com o tempo,
amenizar os possíveis arranhões na disputa eleitoral. Para eles, os
governadores que ensaiam voo solo são muito dependentes de Bolsonaro no
plano nacional e vão precisar abraçar a anistia. “Quem quiser compor em 2026
precisa estar disposto a defender essa pauta sem hesitação. A direita não pode
mais errar por conveniência; o momento exige posicionamento firme”, avisa o
deputado Coronel Tadeu (PL-SP).

PREOCUPAÇÃO - Valdemar Costa Neto: radicalização de parte do PL pode dificultar alianças para as próximas eleições (Ton Molina/Fotoarena/.)

Há dúvidas se essa estratégia de radicalização bolsonarista pode realmente
funcionar. “A direita não quer ser vista como extremista. É muito difícil a
aliança do Centrão com Bolsonaro ser refeita. Ela estava encaminhada, mas
não era consenso. Com os últimos fatos, isso passou a ter um custo muito
maior. E o Centrão continua pragmático”, avalia Marco Antonio Carvalho
Teixeira, cientista político e professor da FGV. Para Mayra Goulart, cientista
política e docente da UFRJ, a inviabilidade eleitoral de Bolsonaro abre uma
janela de oportunidade para que o bolsonarismo comece a ser questionado
como força hegemônica desse campo político. “A direita mais fisiológica ou
pragmática está vendo a possibilidade de ter o controle sobre essa
configuração, escolher a cabeça de chapa, mas ela entende a importância do
bolsonarismo como elemento de capilarização”, diz.

Também pelo centro, mas longe do Centrão, há quem comece a tentar
emplacar o discurso de renascimento da terceira via, que foi utilizado na
campanha de 2022 sem sucesso. “Precisamos ser inimigos da polarização.
Muitas pessoas no centro percebem isso há um tempo, mas agora começam a
se encorajar, a falar sobre isso”, diz o governador do Rio Grande do Sul,
Eduardo Leite (PSD), também presidenciável. Segundo o gaúcho, já é possível
perceber defecções no espectro mais radicalizado. “Integrantes de cada um dos
campos, especialmente no da direita, mais alinhado a Bolsonaro, começam a
perceber que priorizar o culto a uma pessoa em detrimento dos interesses do
país, e mesmo da ideologia que defendem, acaba sendo muito nocivo aos
interesses de todos”, afirma. Um exemplo de político que começa se distanciar
do discurso bolsonarista é o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos),
favorito ao governo de Minas Gerais. “Como a gente vai defender o produtor
brasileiro, a geração de empregos, o desenvolvimento e, ao mesmo tempo, essa
taxação? Por que Trump tomou a medida? Foi por causa do Eduardo
Bolsonaro? Então já está errado. Quem é patriota e brasileiro vai ficar a favor
disso?”, questiona.

CAPTURADA - Zambelli: prisão em Roma é mais um revés para a direita (//Reprodução)

O esforço de Eduardo e dos militantes mais aguerridos do bolsonarismo para
salvar o pescoço do seu líder tem pouca chance de dar certo. Mesmo com
sanções ao país e ao tribunal que vai julgá-lo, o destino dele está traçado
no STF, que deve condená-lo por tentativa de golpe. Grande parte da
popularidade dele, no entanto, segue intacta. A capacidade do ex-capitão de
manter esse ativo por mais tempo e como os postulantes de oposição vão lidar
com essa força e todo o passivo que ela carrega junto são os grandes dilemas
da direita para a corrida eleitoral de 2026.

Publicado em (VEJA)

 

 

 

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