Publicado em 26/12/2025
Os agravos e adoecimentos relacionados ao trabalho continuam exercendo forte impacto sobre a saúde dos trabalhadores no Brasil e, de forma expressiva, no Acre. Embora o trabalho seja elemento central da vida social e econômica, a exposição a condições inadequadas pode resultar em doenças, acidentes e outros prejuízos à saúde física e mental da população economicamente ativa.
Desde agosto de 2024, o monitoramento desses eventos passou por uma ampliação significativa em todo o país. Sete Doenças e Agravos Relacionados ao Trabalho (Dart) passaram a integrar a Lista Nacional de Notificação Compulsória, o que tornou obrigatório o registro desses casos em todos os serviços de saúde. Entre os agravos incluídos estão câncer ocupacional, dermatoses relacionadas ao trabalho, distúrbios de voz, lesões por esforço repetitivo (LER/Dort), perda auditiva induzida por ruído (Pair), pneumoconioses e transtornos mentais associados às atividades laborais.
Antes restritas à Vigilância Sentinela, essas doenças agora fazem parte das notificações universais, ao lado de acidentes de trabalho, ocorrências com exposição a material biológico, acidentes com animais peçonhentos, intoxicações exógenas e casos de violência interpessoal ou autoprovocada no ambiente de trabalho.
Em 2025, até o dia 18 de julho, o Brasil registrou 340.701 notificações de Dart. A maioria dos casos está relacionada a acidentes de trabalho, que correspondem a 76,9% do total. Na sequência aparecem os acidentes com exposição a material biológico (12,3%) e os acidentes com animais peçonhentos (4,3%). Transtornos e doenças vinculados ao trabalho representaram 3,1% das notificações, enquanto intoxicações exógenas somaram 1,9% e episódios de violência, 1,7%.
No Acre, os números são considerados preocupantes. O estado apresentou uma incidência de 516,9 notificações de Dart por 100 mil trabalhadores, índice classificado como elevado. Foram contabilizados 1.551 acidentes de trabalho, além de 10 registros de transtornos e doenças relacionadas à atividade laboral, 61 casos de intoxicações exógenas e 19 notificações de violência no ambiente de trabalho. A taxa de acidentes chegou a 488,5 ocorrências por 100 mil trabalhadores.
De acordo com especialistas, a predominância dos acidentes nas estatísticas está relacionada ao fato de serem eventos imediatos, de fácil identificação nos serviços de saúde. Já as doenças ocupacionais e os transtornos mentais, geralmente de evolução lenta e associados à exposição prolongada a riscos, tendem a ser subdiagnosticados e subnotificados.
O perfil das notificações também evidencia desigualdades. Acidentes de trabalho e intoxicações ocorreram majoritariamente entre homens. Já os transtornos e doenças apresentaram distribuição mais equilibrada entre os sexos, com maior incidência entre mulheres de 40 a 59 anos. Os registros de violência relacionada ao trabalho foram, em sua maioria, envolvendo trabalhadoras do sexo feminino.
Em âmbito nacional, trabalhadores que se autodeclaram negros, pretos e pardos concentraram a maior parte dos registros de acidentes, intoxicações e violências. Por outro lado, os transtornos e doenças relacionadas ao trabalho foram mais frequentes entre trabalhadores brancos.

