O governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), tem intensificado as ações de vigilância, investigação e prevenção de óbitos maternos, fetais e infantis em todo o estado. Por meio do Núcleo Estadual de Vigilância do Óbito, a Secretaria realiza um trabalho contínuo de acompanhamento dos casos, com o objetivo de identificar causas, compreender o perfil epidemiológico e orientar medidas que contribuam para reduzir a mortalidade.
De acordo com a Sesacre, as informações sobre óbitos são constantemente atualizadas, os números ainda em investigação podem sofrer alterações, uma vez que muitos casos necessitam de análise aprofundada para definição da causa e da classificação do óbito. O processo envolve entrevistas com familiares, revisão de prontuários e cruzamento de informações com as redes municipal e estadual de saúde.
“Nem todos os registros representam nascimentos viáveis. Até a 8ª semana de gestação, o feto é considerado embrião, e até a 22ª semana, os casos de interrupção são classificados como abortos. Muitas vezes, essas perdas estão relacionadas a complicações de saúde da mãe, que podem não ter sido informadas pela gestante no início do pré-natal”, explica Walber Carvalho, coordenador da Rede Alyne, estratégia do Ministério da Saúde que propõe a melhoria do atendimento às mulheres e às crianças disponibilizando atendimento de pré-natal e assistência no período de gestação.

Fatores que influenciam os indicadores
Diversos fatores influenciam os índices de mortalidade materna e infantil. Entre eles, estão o início tardio do pré-natal, a baixa cobertura vacinal entre gestantes, a presença de comorbidades, como hipertensão arterial e sífilis, e condições nutricionais e socioeconômicas que impactam diretamente a saúde da mãe e do bebê.
A hipertensão, por exemplo, é atualmente a principal causa de mortalidade materna no Acre. Para prevenir complicações como a pré-eclâmpsia, a Sesacre oferece gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o uso de cálcio e ácido acetilsalicílico (AAS) durante o pré-natal, conforme orientação médica. “O acompanhamento contínuo é essencial. Quando o pré-natal é iniciado tardiamente, a gestante corre maior risco de desenvolver complicações que poderiam ser evitadas”, reforça Walber Carvalho.
Outro ponto relevante é a gravidez não planejada, que ainda representa a maioria dos casos. Esse tipo de gestação está associado a riscos aumentados de parto prematuro, depressão pós-parto, evasão escolar e dificuldades sociais e econômicas. “O ideal é que o atendimento em saúde reprodutiva comece antes da gestação, com acompanhamento da mulher em idade fértil, garantindo acesso a métodos contraceptivos e orientação adequada”, pontua o coordenador.

Gravidez na adolescência e fatores sociais
A gravidez na adolescência também é considerada um fator de risco. Além das implicações biológicas, a situação envolve dimensões sociais e educacionais, exigindo atuação integrada entre as secretarias de Saúde, Mulher, Assistência Social e Educação. Sesacre reforça que a prevenção e o planejamento familiar devem ser trabalhados de forma intersetorial, garantindo o apoio e o acompanhamento das adolescentes e suas famílias.
Questões socioeconômicas, geográficas e de infraestrutura também exercem influência significativa sobre a mortalidade infantil.

Atenção às causas clínicas e estruturais
As causas clínicas dos óbitos são multifatoriais e incluem desde afecções maternas e placentárias até fatores intrínsecos do feto, como malformações congênitas e deficiências no desenvolvimento. Também são observados impactos do tabagismo, do consumo de álcool e do uso de drogas durante a gestação, que comprometem o desenvolvimento fetal nos primeiros meses de vida.
O estado nutricional da mãe é outro determinante importante: a desnutrição ou carência de micronutrientes aumenta o risco de parto prematuro e nascimento de bebês com baixo peso, que frequentemente necessitam de internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e uso de fórmulas especiais.
Trabalho contínuo de investigação e prevenção
A Sesacre mantém um trabalho contínuo com os municípios, por meio de oficinas de investigação de óbitos maternos, fetais e infantis, para que as equipes locais conheçam o perfil epidemiológico das ocorrências, identifiquem as causas e implementem medidas de prevenção e controle. Essas capacitações também contribuem para aprimorar o preenchimento das fichas de investigação e fortalecer as ações de vigilância e cuidado.

De acordo com a coordenadora do Núcleo Estadual de Vigilância do Óbito, Rener Luciana de Oliveira, esse trabalho só é possível graças à integração entre os diversos níveis de vigilância. “Ele envolve desde a vigilância hospitalar até a municipal, que realiza visitas domiciliares e investigações ambulatoriais, além da articulação com os sistemas de informação dos municípios. É um esforço conjunto para compreender cada caso e fortalecer as ações de prevenção”, destaca.
A coordenadora ressalta ainda que o núcleo promove continuamente a discussão sobre os casos com os municípios, incentivando-os a identificar seu perfil epidemiológico, compreender as causas de mortalidade e utilizar corretamente os instrumentos de investigação. “Também realizamos estudos de caso para problematizar essa temática e estimular uma análise mais qualificada dos óbitos. Dessa forma, conseguimos gerar informações de qualidade, que servem de base para a adoção de medidas eficazes de prevenção e controle”, complementa.
Vale destacar que, para fins estatísticos, o Ministério da Saúde considera o local de ocorrência do óbito, e não apenas a cidade de residência da paciente, o que impacta os dados do Acre, que recebe gestantes de estados vizinhos e países fronteiriços, como Bolívia, Peru, Venezuela, Rondônia e Amazonas.

