Mesmo diante de um cenário de surto em várias regiões do Brasil, o estado do Acre segue sem registrar casos de coqueluche em 2025. Dados do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), iniciativa da Fiocruz em parceria com a Unifase, revelam que apenas três estados brasileiros — Acre, Espírito Santo e Amapá — não contabilizaram casos da doença ao longo do último ano.
Em 2024, o Brasil registrou 4.304 casos de coqueluche em crianças menores de cinco anos, representando um aumento expressivo de 1.253% em relação aos 318 casos notificados em 2023. Apesar da elevação nos números, o Acre conseguiu se manter fora da lista de estados afetados. Em 2025, até o mês de agosto, os registros da doença continuam ausentes tanto no Acre quanto em Rondônia e Espírito Santo.
Estados com maiores índices
As maiores taxas de incidência foram observadas no Paraná, com 443,9 casos por 100 mil crianças, seguido pelo Distrito Federal, com 247,1, e Santa Catarina, com 175,9. A média nacional ficou em 95 casos por 100 mil crianças.
Até agosto de 2025, o Brasil já havia acumulado 1.148 novos casos, com destaque para Minas Gerais (229), São Paulo (217) e Rio Grande do Sul (146).
Vacinação ainda abaixo da meta
Embora a cobertura vacinal da DTP (tríplice bacteriana contra difteria, tétano e coqueluche) tenha aumentado de 87,6% em 2023 para 90,2% em 2024, o índice ainda está aquém da meta de 95% estabelecida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Isso mantém uma parcela da população infantil vulnerável, especialmente os bebês mais novos.
De acordo com a coordenadora do Observa Infância, Patrícia Boccolini, o aumento recente pode ser explicado por diversos fatores. Entre eles estão as coberturas vacinais desiguais entre os municípios, atrasos nas doses de reforço, baixa adesão à vacina dTpa em gestantes, além do retorno do ciclo natural da doença após a pandemia e maior vigilância epidemiológica, que permite a identificação de casos mais leves.
Patrícia também destaca aspectos sociais e ambientais, como desastres, aglomerações e falhas na prestação de serviços, que podem favorecer surtos localizados da doença.
Hospitalizações e óbitos preocupam
O avanço da coqueluche refletiu também no número de internações. Em 2024, foram registradas 1.330 hospitalizações de crianças com menos de cinco anos por conta da doença, um salto de 217% em comparação às 420 ocorridas em 2023. Somente até agosto de 2025, já havia 577 internações confirmadas.
As maiores taxas de internação por 100 mil crianças foram registradas no Amapá (158,3), Santa Catarina (83,5) e Espírito Santo (46,0). Já os estados do Acre, Roraima e Mato Grosso do Sul não notificaram nenhuma hospitalização no mesmo período.
No que diz respeito aos óbitos, o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) contabilizou 14 mortes em menores de quatro anos em 2024 — número superior ao total acumulado de 10 mortes registrado entre 2019 e 2023.
Esquema vacinal e proteção
O esquema de vacinação contra a coqueluche prevê três doses da vacina DTP nos primeiros seis meses de vida (aos 2, 4 e 6 meses), reforços aos 15 meses e aos 4 anos, além da aplicação da vacina dTpa em gestantes durante o terceiro trimestre da gestação, garantindo proteção ao bebê desde o nascimento.
Mesmo com o crescimento recente, os dados de 2024 ainda ficam ligeiramente abaixo dos registrados em 2015, ano em que o Brasil contabilizou 4.630 casos e 4.762 internações em crianças com menos de cinco anos.
O Observa Infância atua reunindo e analisando dados sobre a saúde infantil no país, com o objetivo de orientar políticas públicas e ampliar o acesso da população a informações científicas de qualidade sobre doenças que afetam crianças de até cinco anos.

