Longe dos holofotes desde 2018, o ex-governador do Acre e médico Sebastião Viana segue influente — não por cargos, mas por suas ideias, pesquisas e atuação social. Professor associado da Universidade de Brasília (UnB), Viana tem dedicado os últimos anos ao ensino, a causas sociais e a projetos ligados à bioeconomia e à defesa da Amazônia. Ele fala sobre sua ligação com o PT, a homenagem à ex-presidenta Dilma Rousseff, o cenário político do Acre e os desafios da democracia brasileira.
Atuação longe da política institucional
Viana afirma que sua militância continua ativa, embora fora da estrutura partidária. Ele se divide entre o trabalho em sala de aula — que descreve como “a carta que enviamos ao futuro” — e ações voluntárias no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em projetos com comunidades tradicionais e em atividades sociais da Igreja Católica. Também segue pesquisando medicina tropical e atendendo populações amazônicas.
Visão sobre o MST
Para o ex-governador, o MST ainda sofre resistência por desconhecimento. Ele destaca a produção agrícola, o trabalho das cooperativas e as metas ambientais do movimento, que prevê o plantio de 100 milhões de árvores. “É preciso olhar além dos preconceitos”, afirma.
Relação com o PT
Sebastião Viana mantém seu vínculo com o Partido dos Trabalhadores e reforça apoio a Lula. Reconhece, entretanto, que o partido, por vezes, opera de forma utilitarista. Apesar disso, afirma não guardar mágoas do distanciamento natural que ocorreu após o fim de seus mandatos. “Sou Lula na chuva e no sol”, resume.
Homenagem a Dilma Rousseff
Ao lado da professora Fátima Sousa, Viana propôs à UnB a concessão do título de Doutora Honoris Causa à ex-presidenta Dilma Rousseff, com entrega prevista para 12 de dezembro. Ele diz que o gesto representa o compromisso da universidade com a democracia e uma resposta ao clima de intolerância política. Para ele, Dilma simboliza resiliência e lealdade ao serviço público, além de ter sido alvo de injustiças durante o processo de impeachment.
Cenário político do Acre
Sobre as denúncias envolvendo o atual governador Gladson Cameli, Viana evita comentários diretos e defende que a Justiça deve agir. No entanto, critica o abandono do modelo socioeconômico baseado na agrofloresta, que, segundo ele, foi construído ao longo de duas décadas e interrompido pela atual gestão.
O ex-governador também demonstra preocupação com o avanço do narcotráfico na região. Ele afirma que a criminalidade tomou conta das fronteiras e superou a capacidade do Estado. “A realidade hoje é pior que o alerta que fiz em 2017”, diz, defendendo presença militar mais eficaz e maior investimento em inteligência.
Futuro político e renovação
Viana descarta disputar cargos em 2026, mas promete atuar na campanha presidencial ao lado de Lula. Para ele, o país precisa abrir espaço para novas lideranças. “A renovação virá da periferia, da cultura e da música, e não das velhas estruturas que se perpetuam no poder”, afirma. Ele critica a influência de setores sindicais conservadores e defende maior abertura às vozes das comunidades.
No Acre, cita o médico Thor Dantas como nome progressista em ascensão, com potencial para liderar a disputa estadual. “Se não vencer agora, vencerá depois”, diz.
Clima, COP30 e responsabilidade global
Sebastião Viana também analisa o cenário ambiental pós-COP30 e critica o que chama de “negacionismo das grandes potências”, especialmente dos Estados Unidos, que seguem priorizando combustíveis fósseis. Para ele, a crise climática exige liderança global com autoridade moral — algo ainda ausente. Apesar disso, destaca figuras brasileiras como Marina Silva e Lula como vozes importantes na defesa do meio ambiente.

