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sábado, 6 de dezembro de 2025
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Os bastidores da entrega de Mounjaro de Beto Louco para Alcolumbre

Por Fabio Serapião Colunista do UOL

O pedido e a entrega de Mounjaro enviado pelo empresário Roberto Augusto Leme da
Silva, conhecido como Beto Louco, para o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP)
envolveu um motoboy de São Paulo, dois motoristas em Brasília e teve áudio com
confirmação do recebimento.

Como revelou o UOL, Alcolumbre recebeu, em 6 de agosto de 2024, uma caixa com
Mounjaro de Beto Louco, foragido da Justiça e investigado pela Polícia Federal como
líder de um esquema de fraude em combustíveis e lavagem de dinheiro.

Parte dos postos de gasolina investigados, segundo a PF, tinham ligação com a facção
criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital)

Além de acessar mensagens sobre a entrega, a reportagem também conversou com os dois motoristas, o responsável pela entrega, cujo nome não será divulgado a pedido dele, e Janduí Nunes Bezerra Filho, lotado no gabinete de Alcolumbre.

Procurado, o senador não respondeu aos questionamentos enviados. A defesa de Beto Louco disse à reportagem desconhecer os fatos. Também negou que o empresário tenha relação com o PCC.

Roberto Augusto Leme da Silva, apelidado de Beto Louco
Imagem: Divulgação/PF

Tudo começa com o almoço na casa de Antônio Rueda, presidente do União Brasil, partido de Alcolumbre, no Lago Sul, em Brasília.

Um dia antes das conversas às quais o UOL obteve acesso, dia 5 de agosto, é a data de aniversário de Antonio Rueda, presidentedo União Brasil, partido de Alcolumbre. O almoço era em comemoração ao aniversário.

No encontro, segundo relato feito ao UOL, Alcolumbre dividiu com os convivas a
dificuldade dele e de colegas senadores em adquirir no Brasil as canetas de Mounjaro.

Beto Louco na mesma hora acionou seus contatos em São Paulo e iniciou a logística
para trazer o medicamento até Brasília e entregar ao senador.

A entrega foi feita por uma motorista de Brasília contratado sempre que Beto Louco
visitava a capital federal para tratar de assuntos relacionados aos seus negócios.

Dono de alguns carros para transporte privado, o motorista foi quem entregou a caixa
de Mounjaro na casa do Lago Sul a Janduí Nunes Bezerra Filho, funcionário de
Alcolumbre.

O UOL esteve com o motorista de Beto Louco responsável pela entrega no dia 18 de
novembro.

Assim como fazia com Beto Louco, antes do empresário se tornar um foragido da
Justiça, o motorista pegou a reportagem no aeroporto de Brasília por volta das 10h.

Com seu carro sedã importado, cor prata, levou o repórter até alguns compromissos na
Asa Sul e, em seguida, aguardou por cerca de uma hora no carro durante o horário de
almoço. Na parte da tarde, conduziu a reportagem até o Senado, onde esperou por 40
minutos, e, por fim, acompanhou o repórter até um café na Asa Norte.

Lá, convidado para descer e tomar um café, foi informado sobre o conhecimento do
repórter dos fatos do dia 6 de agosto de 2024.

Disse não ter detalhes sobre a conversa de Alcolumbre com Beto Louco em que o
pedido pelo medicamento foi feito, mas confirmou e deu detalhes da entrega da caixa de
Mounjaro, diretamente nas mãos de Janduí Nunes Bezerra Filho.

Com o aplicativo de mensagens em mãos aberto no dia 6 de agosto de 2024, o
motorista lembrou como foi a entrega. Disse que mais ou menos no horário do almoço
foi acionado por Roberto Leme para esperar uma pessoa de confiança que chegaria ao
aeroporto com o tal “medicamento”.

O entregador aguardou o “motoboy” enviado por Beto Louco no aeroporto e de lá partiu
para uma casa no lago sul, cujo endereço diz não se lembrar.

“Eu sei que o cara [que posaria em Brasília com o medicamento] era funcionário dele”,
afirma. “Fiquei no aeroporto esperando esse negócio chegar. Chegou e eu fiz a
entrega”

“Eu sei que a minha função foi só entregar. Eu encontrei com esse funcionário dele. O
cara veio só para isso, o cara me entregou e mandou entregar numa residência.
Entendeu? Minha função é essa”, explicou.

Questionado se tem conhecimento sobre as suspeitas que recaem sobre Roberto Leme,
o motorista disse ter descoberto apenas no dia das operações da PF, quando assistia
TV ao lado da namorada.

“Porra, esse cara eu carrego ele”, contou ter dito a namorada.

Sobre a entrega, ele conta ter percebido ser Monjauro por alguns motivos. Primeiro
porque o empresário citou na conversa que era um medicamento. Outro ponto, disse
ele, é que o material estava em uma caixa parecida com as utilizadas para transporte de
insulina.

Além disso, afirmou, o destinatário ser Alcolumbre ajudou na dedução.

“Eu deduzi que era Mounjaro porque o cara [Alcolumbre] tava meio obeso e esses caras
que viajam muito para fora [em alusão a Roberto Leme], eles têm facilidade para
comprar, né? Entendeu?”, afirmou.

Mas a confirmação, na versão dele, veio tempo depois, novamente vendo TV, quando
viu o senador Alcolumbre em um canal de notícias.

“E depois, assim, eu fico visualizando e eu vi que ele realmente estava mais magro,
entendeu? E então fez efeito né”, disse.

Embora a análise do motorista seja de que o medicamento era para consumo próprio, a
reportagem não confirmou se o senador usou o Mounjaro entregue por Beto Louco.

Janduí Nunes Bezerra Filho, que era motorista pessoal de Alcolumbre em 2024 e hoje é assessor parlamentar no gabinete do senador – Imagem: Reprodução

A confirmação foi apenas da entrega, a partir de áudio enviado pelo motorista de Alcolumbre ao também motorista de Beto Louco naquele 6 de agosto.

Às 22h41, o motorista encaminhou para Beto Louco uma mensagem recebida de Janduí
Nunes Bezerra Filho.

“Fala pra ele que tá entregue, tá tudo ok. O senador já tá até sabendo, já falei com ele
aqui. Dei um jeito de falar com ele aqui que recebi, já tá entregue”, disse Janduí na
mensagem de áudio obtida pelo UOL.

Quatro minutos depois, às 22h45, Beto Louco agradece ao seu próprio motorista
particular. “Muito obrigado, meu amigo. Bom descanso, abração”.


Reportagem
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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