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quarta-feira, 26 de novembro de 2025
O RIO BRANCO
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Articulações e embates mostram que Brasília já opera em modo campanha

Dentro e fora do governo, não importa o mérito das propostas, mas se elas repercutem bem ou mal para o cenário das eleições de 2026

(Por Laryssa Borges da VEJA)

Políticos sempre avaliam as consequências eleitorais de seus atos, mas,
dependendo do calendário, conseguem às vezes deixar de lado as
conveniências pessoais para priorizar os interesses do país. Esse
desprendimento é raro e, obviamente, não está ocorrendo agora, quando todas
as decisões em Brasília passaram a ser influenciadas pelas próximas eleições.
De olho em um novo mandato, Lula ativou o modo de campanha e não para de
encomendar a auxiliares medidas capazes de impulsionar a sua popularidade.
O governo está mobilizado para encontrar recursos capazes de financiar um
pacote permanente de bondades, sem se importar com a situação fiscal do
país, cada vez mais grave. Os oposicionistas, além de empunhar bandeiras
próprias, fazem o que podem para diminuir o caixa à disposição do presidente,
inclusive com a ajuda de governadores que sonham com o Planalto. E os
parlamentares não pensam em outra coisa que não a própria reeleição. Para
boa parte deles, não importa o mérito das propostas, mas se elas repercutem
bem ou mal em seus redutos. A um ano da votação, o Brasil já é refém de
2026.

Por exercer o poder, Lula é o catalisador da antecipação do cronograma
eleitoral. No início da semana, o presidente esteve em Roma para um encontro
com o papa Leão XIV, a pretexto de tratar de uma de suas obsessões na agenda
internacional: uma ação global contra a pobreza e a fome. A reunião foi
documentada em fotos e divulgada nas redes sociais. Numa entrevista, Lula
diz que teve uma “química” muito boa com o pontífice, repetindo o termo
empregado por Donald Trump para se referir à conversa inicial que ele travou
com o petista. Imagens e palavras, ainda mais quando denotam prestígio,
importam na busca por votos. Antes da viagem, o presidente ordenou um freio
de arrumação em sua base de apoio a fim de expurgar aqueles que não
pretendem apoiá-lo na campanha. Foi uma reação à decisão da Câmara de
enterrar a medida provisória (MP) que taxava aplicações financeiras, bets e
fintechs. Se fosse aprovado, o aumento de tributos ajudaria o governo a
cumprir as metas fiscais de 2025 e 2026 e, mais importante, patrocinar ações
de forte apelo popular.

Ciente disso, a oposição e setores do Centrão fizeram a MP perder o prazo de
validade, impedindo que Lula tivesse 17 bilhões de reais adicionais para gastar
em 2026. Os articuladores do revés contra as pretensões do Palácio do Planalto
sonham com uma candidatura presidencial de Tarcísio Gomes de Freitas
(Republicanos), acusado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de
trabalhar contra o texto, o que o governador de São Paulo negou.

Com o mapa de votação em mãos, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi
Hoffmann, passou a demitir de órgãos, autarquias e bancos públicos quadros
indicados por parlamentares que não defenderam a MP. A tesourada atingiu
integrantes do União Brasil, PP, Republicanos, PSD e MDB, que juntos
controlam onze ministérios. Antes da retaliação palaciana, a federação
formada por União Brasil e PP — que tem pré-candidatos a presidente
(governador Ronaldo Caiado) e a vice-presidente (senador Ciro Nogueira) —
ordenou aos ministros do Turismo, Celso Sabino (PA), e do Esporte, André
Fufuca (MA), que deixassem seus cargos. Os dois, no entanto, desobedeceram
à determinação e preferiram ficar ao lado de Lula, de quem dependem para se
elegerem senadores pelo Pará e pelo Maranhão.

No modo palanque em tempo integral, o presidente anunciou recentemente a
ampliação da distribuição de gás de cozinha e a isenção ou redução da conta de
luz para pessoas carentes. Além disso, está empenhado em ampliar o crédito
para reforma e compra da casa própria. Muitas das iniciativas dependem — e
dependerão — do aval do Congresso, que também se guia por 2026. O governo
já deixou claro que, se não houver aumento de tributos para compensar o
arquivamento da MP, cortará mais de 7 bilhões em emendas parlamentares no
ano que vem, dinheiro considerado fundamental para azeitar as campanhas de
deputados, senadores e seus aliados. Uma das prioridades de Lula é a
aprovação do projeto que isenta do imposto de renda quem ganha até 5 000
reais e reduz a carga para quem tem renda entre 5 000 e 7 350 reais mensais.
O texto já foi chancelado pela Câmara e depende de análise do Senado. Por ter
potencial para beneficiar 15 milhões de pessoas, dificilmente enfrentará a
resistência da oposição, que tem outras batalhas para travar. Uma delas é o
projeto de anistia aos investigados e sentenciados por tentativa de golpe.

Condenado a 27 anos e três meses de prisão, o ex-presidente
Jair Bolsonaro quer que sua tropa parlamentar aprove um perdão que o livre
da cadeia e, se der, ainda lhe devolva o direito de disputar eleições.
Equilibrando-se entre PT e PL, que o apoiaram para o cargo, o presidente da
Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), escolheu para relatar a questão o
deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que não concorda com a
anistia ampla, geral e irrestrita e defende apenas a redução da pena dos
golpistas, o que não garantiria a redenção do ex-presidente, como quer o
mandachuva do PL, Valdemar Costa Neto. O conteúdo do relatório de Paulinho
ainda não é conhecido. Também não há definição de quando o projeto será
votado, já que o PT só quer que isso ocorra quando tiver certeza de que
Bolsonaro não se livrará da cadeia e da inelegibilidade. A decisão de incluir ou
não o tema na pauta é do presidente da Câmara.

Durante um evento no Rio de Janeiro, do qual participou ao lado de Lula,
Motta foi vaiado e ouviu calado o presidente dizer que o Congresso nunca teve
um nível “tão baixo”. Apesar de não morrer de amores pelo governo, o
deputado passa por cima desse tipo de constrangimento e de toda a sorte de
ataques da esquerda, que o acusa de defender os interesses da elite, porque
quer eleger ao Senado seu pai, Nabor Wanderley, atual prefeito de Patos (PB),
com a ajuda de Lula. O presidente é o maior cabo eleitoral no Nordeste e
naquele município em particular. Hoje, quase tudo é guiado pela bússola
eleitoral. Vale até para a escolha do novo ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF), que substituirá Luís Roberto Barroso.

O senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que comandou a Casa por onde
tramitam os processos de impeachment contra juízes do STF, é o preferido da
classe política e de integrantes da Corte para a vaga. Sua escolha, defendida
pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), esbarra no
aparente favoritismo do advogado-geral da União, Jorge Messias, que tem
ampla simpatia da esquerda e do PT. Faltando um ano para a votação, Lula
lidera nas simulações de primeiro e segundo turno e recuperou o favoritismo,
de acordo com analistas políticos. Como a previsão é de uma disputa tão
acirrada quanto a de 2022, o presidente tende a pisar no acelerador. Em época
de campanha, como já disse a ex-presidente Dilma Rousseff, faz-se o diabo.
Em Brasília, pode-se dizer que todos estão seguindo isso à risca, inclusive os
que buscam a bênção do sumo pontífice.

 

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