O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (Andrew Caballero-Reynolds / AFP | Ricardo Stuckert/Divulgação)
Eduardo Bolsonaro perde o monopólio do acesso à Casa Branca e tensões entre Brasil e EUA podem desescalar
(Por Thomas Traumann – VEJA)
A ‘química’ dos 39 segundos da promessa de encontro futuro entre os
presidentes Donald Trump e Lula da Silva na sala de espera do auditório da
Organização das Nações Unidas não foi acidental. Nas semanas anteriores,
como revelou o repórter Felipe Frazão, do Estadão, houve uma intensa
operação diplomática para desescalar a tensão entre os dois países.
No dia 11, o vice-presidente Geraldo Alckmin, conversou por videoconferência
com o representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Jamieson Greer.
No dia 15, o assessor especial de Trump Richard Grenell veio a Brasília,
incógnito, para uma conversa com o ministro das Relações Exteriores, Mauro
Vieira. No mesmo período, como informou a Folha, Trump recebeu na Casa
Branca uma comitiva liderada pelo empresário Joesley Batista, maior acionista
da JBS, holding que controla as maiores indústrias de carne bovina e de frango
tanto nos EUA como no Brasil.
O muro erguido pela dupla Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo foi
desmantelado, mas o que se pode esperar de uma reunião Trump-Lula? A
resposta mais honesta é uma trégua, não um acordo.
Passados dois meses desde que Trump decretou uma sanção de 50% sobre
produtos importados do Brasil (incluindo os hambúrgueres e nuggets da JBS),
há um consenso de fracasso na Casa Branca. Levados a Trump
pelo conselheiro sênior do Departamento de Estado para o Hemisfério
Ocidental, Ricardo Pita, ex-assessor do senador Ted Cruz, Eduardo Bolsonaro e
Paulo Figueiredo previram que a pressão americana iria dividir o STF,
mobilizar manifestações nas ruas e forçar o Congresso a aprovar uma anistia
ampla para beneficiar Jair Bolsonaro.
Fora da mente fantasiosa de Eduardo e Figueiredo, mesmo sob ameaça da Lei
Magnitsky, os ministros do STF condenaram Bolsonaro, as ruas se encheram
contra a anistia e o Congresso titubeia em reduzir as penas dos líderes da
tentativa de golpe. A aprovação do governo Lula subiu e a elite empresarial e
política tenta aproveitar a condenação para forçar Bolsonaro a indicar de uma
vez o seu candidato em 2026. A mensagem que o encarregado de negócios da
embaixada dos EUA em Brasília repete diariamente aos seus chefes é que é
preciso outra estratégia.
Com Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo sem o monopólio do acesso a
Trump, existe uma possibilidade razoável de a pauta sair da questão Bolsonaro
para pontos palpáveis. A arte de recuar sem parecer que está recuando é uma
marca de Trump.
De acordo com três fontes do governo americano, a oferta será a inclusão da
carne e do café na lista das exceções à tarifa de 50%. É improvável a retirada
das sanções da Magnitsky sobre Alexandre de Moraes e sua família.
Do lado brasileiro deve haver a oferta de redução das tarifas de importação de
etanol (hoje em 18%) e a abertura para investimentos americanos na
mineração de terras raras e datacenters. Para o governo Lula, a taxação das
plataformas digitais e um recuo na regulação das redes sociais são tabu.
É visível o temor dos assessores no Palácio do Planalto com os rumos da
conversa entre os dois presidentes. Trump já humilhou o
ucraniano Volodymyr Zelensky, fez uma emboscada para o sul-africano Cyril
Ramaphosa e massacrou o colombiano Gustavo Petro com uma postagem no
X.
Como disse realisticamente o governador Tarcísio de Freitas em um seminário
com empresários, “(Trump) é um presidente que vive da economia da atenção.
Que gosta de se sentar com o chefe de Estado, botar um chefe de Estado
sentado lá dentro e dizer: ‘Olha, consegui uma vitória’. E ele está querendo
colecionar vitórias. Então, por que não entregar algumas vitórias?”.
É impossível imaginar Lula, que fez da soberania nacional o eixo da sua
campanha pré-eleitoral, disposto a sair como perdedor. Por isso, um acordo é
difícil, mas pode haver uma redução de danos.

