Quando um advogado se dispõe a defender um acusado as suas alegações são parte do processo.
O que significa ser “advogado do diabo?” Significa contrariar a opinião pública dominante e também as acusações feitas, inclusive pelos agentes do Ministério Público a quem cabe determinar a abertura de um processo que busca identificar os participantes de um crime.
Esta expressão é bastante antiga e surgiu na Igreja Católica para que a própria Igreja pudesse tomar ciência para determinar a canonização de um candidato a santo. O papel do “advogado do diabo” era o de impedir a canonização de um santo que não viesse merecer a solidez da fé e dos milagres alegados.
A própria Igreja Católica aboliu a figura do “advogado do diabo”, no ano de 1969, mas a mesma expressão permaneceu e vem sendo utilizada e com bastante freqüência, porém no sentido inverso, ou seja, na tentativa de inocentar notórios criminosos quando levados à prestar conta a justiça.
Como nada poderia ser mais preocupante para uma democracia, e para a nossa, em particular, pois já formos vítimas de várias tentativas de golpes de Estado, e alguns deles foram exitosos, do que acompanharmos o julgamento, ora em curso e sob a responsabilidade do nosso STF-Supremo Tribunal Federal, relativo à tentativa de golpe patrocinado e comandado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em princípio e sobre golpe de Estado, precisamos entender que os crimes são as tramas, ou seja, as tentativas, até porque, se exitosas, o poder passa a ser exercido pelos golpistas, e em isto acontecendo, como já ocorrerem no passado, muito provavelmente voltaria a acontecer no presente, e o então presidente Jair Bolsonaro permaneceria no poder, independente da nossa soberania popular.
Para a nossa polícia federal e para o nosso MPF, Ministério Público Federal, as tentativas existiam e foram comandadas pelo ainda presidente Jair Bolsonaro e se intensificaram após ter sido derrotado quando buscava a sua reeleição. Antes e ainda na plenitude do seu mandato ele chegou a dizer que para o seu futuro só existia três alternativas: ser preso, morto ou a vitória. De mais a mais, chegou a dizer que não poderia não mais obedecer às decisões da nossa justiça, em claras referências as decisões do nosso STF-Supremo Tribunal Federal.
Em relação ao julgamento dos principais arquitetos do golpe de Estado ora em curso e muito provavelmente para os ministros do nosso STF que irão julgá-los, os advogados dos seus respectivos réus só faz lembrar a figura do advogado do diabo, posto que, em suas argumentações nenhum deles negou a tentativa de golpe, apenas buscaram excluir ou mais precisamente, minorar a participação dos seus clientes.

