Durante viagem a Escócia, Trump disse que prazo para a imposição de tarifas não será adiado
‘O Vietnã, que é comunista, conseguiu negociar com Trump; por que o Brasil não consegue?’
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo, 27, que não irá adiar o seu prazo para impor tarifas de 50% sobre seus parceiros comerciais, inclusive o Brasil.
As declarações do presidente americano ocorreram durante uma reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na Escócia neste domingo. O republicano anunciou que conseguiu fechar um acordo com a União Europeia (UE) para reduzir as tarifas de 30 para 15% sobre as exportações do bloco europeu.

O acordo foi fechado após um anúncio de que a União Europeia fará investimentos de US$ 600 bilhões nos Estados Unidos, sendo US$ 150 bilhões em energia e uma fração em produtos militares. A reunião foi rápida e durou menos de duas horas.
A representante do bloco europeu acreditava que tinha “50% de chance” de fechar acordo sobre as taxas. Em aceno a Trump antes da reunião, Ursula havia reconhecido a necessidade de ajustar as relações. “Precisamos rebalancear. A União Europeia é superavitária”, afirmou.

O republicano também sinalizou que os produtos farmacêuticos seriam tratados separadamente deste acordo com a União Europeia, o que seria um duro golpe para a Europa, que esperava limitar a tarifa sobre medicamentos, seu principal produto de exportação para os Estados Unidos. “Os produtos farmacêuticos são muito especiais”, disse Trump.
O presidente americano ressaltou que Washington estava ganhando muito dinheiro com as tarifas sobre o aço e alumínio, produtos que a UE queria receber uma isenção das taxas.
“Quem não quiser pagar nenhuma tarifa deve abrir uma fábrica nos EUA”, afirmou o presidente americano, resumindo sua posição.
Negociação
Segundo várias fontes europeias que conversaram com a AFP, o texto do acordo fechado por Washington e Bruxelas propõe a imposição de uma tarifa básica de 15% por parte dos EUA sobre os produtos da UE, com isenções para os setores de aeronáutica, madeira e bebidas alcoólicas, exceto vinho.
O bloco europeu pressiona para alcançar um acordo sobre o aço, que permita a entrada de uma cota em solo americano sem tarifas.
Em troca, os europeus se comprometeriam a comprar gás natural liquefeito e a investir nos Estados Unidos. Um acordo semelhante ao pacto alcançado recentemente entre EUA e Japão.

Os produtos da União Europeia têm atualmente uma taxa de 25% para veículos, de 50% para aço e alumínio, e uma tarifa geral de 10%, que Washington ameaça elevar para 30% caso não haja acordo.
Os 15% seriam superiores às taxações americanas pré-existentes sobre produtos europeus (4,8%) e às atuais de 10%.
Entrevista de Lutnick
A informação dada por Trump sobre o prazo já tinha sido reiterada pelo secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick. Em entrevista a emissora conservadora americana Fox News, Lutnick disse que as tarifas entrarão em vigor no dia 1° de agosto, mas que Trump está disposto a negociar, mesmo depois do prazo.
Apenas cinco países firmaram acordos comerciais com Washington depois do primeiro anúncio das tarifas em abril: Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Filipinas e Japão.
As tarifas acordadas por esses países superam a taxa de 10% que os Estados Unidos aplicam desde abril à grande maioria dos países, mas ainda assim estão muito abaixo dos níveis com os quais Trump ameaçou se os governos não chegassem a um acordo com Washington que pôs fim ao que ele considera como práticas desleais.
Tarifas contra o Brasil
As tarifas contra o Brasil, que devem entrar em vigor no começo de agosto, irão prejudicar diversos setores da economia brasileira, como produtos agrícolas, produtos manufaturados, petróleo e aviões.
Os Estados Unidos têm um superávit com o Brasil que representou quase US$ 284 milhões (R$ 1,6 bilhão) em 2024, segundo números oficiais brasileiros. As principais vendas do Brasil para o mercado americano são de petróleo bruto (12%), produtos semiacabados de ferro e aço (9,7%), café não torrado (5,8%) e aeronaves e outros equipamentos (5,2%), entre outros.
As taxas foram anunciadas em julho pelo presidente americano, Donald Trump, sob argumento político de que existe uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na quinta-feira, 24, o vice-presidente do Brasil,Geraldo Alckmin, afirmou que conversou com Lutnick e ressaltou que o País está empenhado em resolver a questão das tarifas de 50% anunciadas pelos Estados Unidos.
“Conversamos com o governo americano, tivemos uma conversa com o secretário de Comércio, uma conversa até longa, que entendo que é importante, colocando todos os pontos e destacando o interesse do Brasil na negociação”, disse Alckmin, acrescentando que o diálogo ocorreu no último sábado./com AFP
(Estadão)

