Copom: decisão foi unânime pela elevação da Selic ao maior patamar desde 2006 (Raphael Ribeiro/Banco Central/Divulgação)
Gastos públicos em alta cobram um elevado custo da política monetária, explicam economistas
Ao elevar a taxa Selic para 15% ao ano marcando a sétima alta seguida,
o Comitê de Política Monetária (Copom), presidido por Gabriel Galípolo,
enviou um sinal ao governo Lula, na avaliação de economistas: sem
responsabilidade fiscal, os juros continuarão altos por mais tempo.
Embora o Banco Central tenha indicado a intenção de pausa no ciclo de aperto
monetário iniciado em setembro de 2024, o comunicado foi explícito ao
afirmar que os riscos inflacionários seguem elevados e que os desdobramentos
da política fiscal afetam diretamente os ativos e a condução da política
monetária.
No comunicado, o Copom afirma que “segue acompanhando com atenção
como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e
os ativos financeiros”. E reforça que, em um cenário de expectativas
desancoradas, será necessária “uma política monetária em patamar
significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
“A expectativa de inflação desancorada ainda é o principal fator de
preocupação para o comitê”, avaliou Rafaela Vitória, economista-chefe do
Inter. Para ela, o Copom menciona os sinais de moderação do crescimento da
economia por um lado, mas também ressalta as incertezas na condução da
política fiscal, com pressões no mercado de trabalho e projeções de inflação
ainda elevadas. “O fiscal expansionista e sem regras críveis cobra um elevado
custo da política monetária”, explica.
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, hoje, o Brasil opera com
uma curva de juros considerada ‘não saudável’: mesmo com juros elevados no
curto prazo, os vértices mais longos seguem altos, e isso é reflexo direto da
desconfiança fiscal. “Sem avanços consistentes na área fiscal, será necessário
manter juros altos por mais tempo”. O economista alerta para o descontrole
dos gastos públicos que pode limitar, na prática o efeito da alta de juros na
ancoragem das expectativas. “O efeito pode acabar sendo limitado”, diz.
Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Financial Partnership, vê
na decisão do Copom uma tentativa de reforçar a independência da política
monetária. Vale lembrar que Galípolo foi indicado de Lula para a presidência
do BC. “A escolha de apertar ainda mais a política monetária, mesmo com uma
conjuntura mais benigna no curto prazo, busca reforçar a credibilidade da
autoridade monetária. É uma decisão que mira, acima de tudo, a ancoragem
das expectativas e a preservação do regime de metas, diante de um cenário
fiscal ainda frágil e de incertezas persistentes.”
*Com informação da VEJA

